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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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O perigo dos economistas que tentam reinventar a roda

Um mito persistente está voltando à tona: o de que juros baixos, ou mesmo negativos, não criam inflação. Entenda porque essa ideia não faz sentido.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
10 fev 2017, 19h25

Às portas da crise de 2008, a inflação do dólar estava em 5,5% – idêntica à inflação do real nos últimos 12 meses.

Esses 5,5% eram um pico histórico. Para combater a elevação do índice, que tinha começado no final dos anos 90, o Fed (BC dos EUA) vinha aumentando a taxa de juros paulatinamente – juros mais altos diminuem o consumo, a quantidade de moeda em circulação baixa, e os preços caem junto.

Mas não adiantava, porque o que criava inflação era algo fora do controle do Fed: uma bolha sem precedentes nos preços dos imóveis. O preço das casas subia, então os bancos recompravam casas financiadas por eles mesmos para vender depois, na esperança de que os preços subissem mais. Essas recompras inflavam a demanda. Então os preços de fato subiam, e os bancos compravam mais ainda. Bolha, que enchia a praça de dinheiro novo, bombando a inflação, e que estourou em 2008, numa corrente de falências bancárias.

Nas ruas, o que sobrou foi uma população endividada – tendo de pagar US$ 500 mil pelo resto da vida por imóveis que, em condições normais de pressão, valiam US$ 200 mil. Essas dívidas circulavam na forma de títulos de investimento por todo o sistema bancário do mundo desenvolvido. Veio a inadimplência, naturalmente, e os títulos viraram lixo. Como boa parte dos bancos mundo afora colocava o próprio dinheiro nesses títulos, a quebradeira foi global.

O mundo só não entrou numa nova Grande Depressão, igual a dos anos 30, porque os governos foram rápidos: além de imprimir toneladas de dinheiro para dar aos bancos a fundo perdido, baixaram a taxa de juros para zero (às vezes abaixo de zero), de modo a estimular o consumo, e manter os empregos de quem produz bens e serviços (todo mundo, já que até o carimbador do cartório produz um “serviço”).

Juro zero, porém, não faz a mágica do dia para a noite. Já se vão quase dez anos de juro quase negativo, e as taxas de crescimento seguem tímidas no mundo desenvolvido (fenômeno que tem elegido líderes populistas – a começar por dois dos países mais afetados pela crise de 2008 – EUA e Reino Unido).

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Além de eleger populistas, o crescimento pífio mantém a inflação baixa mesmo com juro zero.

Alguns economistas, porém, acham que não. Que a inflação está baixa POR CAUSA do juro zero. Foi o que escreveu André Lara Rezende, num artigo que vem repercutindo desde janeiro.

Ao dizer que a quantidade de moeda no mercado não causa inflação, André tenta provar a quadratura do círculo. Sim, a quantidade de moeda em circulação nos países desenvolvidos aumentou dezenas de vezes, sem efeito na inflação. Mas o que manteve a inflação baixa foi outro fator: a ressaca da maior bolha da história – uma ressaca persistente, ainda sem data para acabar.

O perigo desse tipo de análise é considerar que juros são só um empecilho para o crescimento, e mais nada. Logo, têm de cair para perto de zero e pronto. Bom, o Brasil teve uma experiência recente com queda forçada de juros, no governo Dilma 1. A taxa real em 2013 caiu para 2% (7% de Selic menos 5% de inflação).

Depois de 20 meses, veio o resultado: inflação de dois dígitos.

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Do começo de 2016 para cá, a recessão está puxando a inflação para baixo, igual aconteceu no mundo desenvolvido. E o momento, naturalmente, é de cortes nos juros. Juros que podem até tender a zero num futuro próximo, e sem afetar a inflação.

Quando isso acontecer, mais economistas vão dizer que inflação e quantidade de moeda circulando na economia (a coisa que o juro baixo aumenta) são dois fatores sem relação alguma.

Bom, como eu defendi aqui, a relação entre quantidade de moeda em circulação e inflação é a mesma de quantidade de vodka em circulação no seu corpo e o tamanho da ressaca.

Espero, então, que esses economistas não apliquem em suas vidas sociais a lógica que imaginam funcionar para a economia, porque, se sim, seus fígados estão pela hora da morte.

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