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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Bitcoin – a moeda que vale mais do que dinheiro

Uma nota de R$ 50 é basicamente um cartão de memória. Um cartão que estoca o trabalho que você fez para receber a nota. Então um cabeleireiro pode comprar pão sem ter de cortar o cabelo do padeiro e um fiscal corrupto paga a conta do Fasano sem ter de roubar o caixa do Fasano. […]

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Atualizado em 21 dez 2016, 09h49 - Publicado em 22 nov 2013, 17h03

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Uma nota de R$ 50 é basicamente um cartão de memória. Um cartão que estoca o trabalho que você fez para receber a nota. Então um cabeleireiro pode comprar pão sem ter de cortar o cabelo do padeiro e um fiscal corrupto paga a conta do Fasano sem ter de roubar o caixa do Fasano. Não poderia ser mais prático.

Mas não foi sempre assim, tão prático. Até outro dia, ninguém aceitava que um pedaço de papel poderia cumprir essa tarefa de cartão de memória universal. Seu trabalho só servia para alguma coisa se o valor dele chegasse aos seus bolsos na forma de ouro, de prata, ou, na falta de coisa melhor, de cobre. Isso porque o dinheiro precisa cumprir duas regras para ser aceito como dinheiro: 1) Ser algo que todo mundo quer 2) Ser relativamente escasso. Ouro cumpre esse papel com louvor. Primeiro, todo mundo gosta, porque é bonito. Segundo, é raro. Raro mesmo. Mais do que você pensa. Se você juntar todo o ouro já minerado na história, vai dar um prédio de sete andares, ou 140 mil toneladas. Isso é o que a Vale extrai de minério de ferro em seis horas… O ouro, na verdade, é tão difícil de obter que quem sempre fez o papel de dinheiro foram seus primos mais pobres do mundo mineral: a prata e o cobre (geralmente na forma de bronze).

O dinheiro de papel começou a vida não como dinheiro, mas como um recibo. Cada nota dava direito a uma certa quantidade de ouro ou de prata. Esses metais preciosos ficavam em algum cofre, parados ali como lastro, para garantir que aquela nota valia mesmo o que estava escrito nela. Ao longo da história, vários governos tentaram emplacar coisas sem lastro como dinheiro. Roma substituiu moedas de prata por fichinhas de metal vagabundo. A França abandonou a ideia do lastro no século 18, como se papel pintado pudesse mesmo valer como dinheiro. Mas essas ideias nunca pegaram, principalmente porque o fabricante das fichinhas de metal vagabundo ou dos papéis pintados (o governo) sempre tendia a fabricar quantidades infinitas de dinheiro sem lastro para gastar ele mesmo – era basicamente o que faziam no Brasil antes de 1994. O fato é que esses abusos públicos impediram a confiança no dinheiro de papel até a metade do século 20.

Na verdade, até 1971. O Brasil já era tri, Sarney já era senador, e o dinheiro só valia dinheiro, mesmo, por um motivo: os EUA se comprometiam a trocar cada US$ 1,25 por um grama de ouro. Os dólares que um governo qualquer, tipo o nosso, tivesse nos cofres serviam de lastro para a moeda que ele fabricasse. E o ouro dos EUA lastreava esses dólares. Mas isso era só em tese: já havia muito mais dólares em circulação do que ouro no Fort Knox. Richard Nixon, então, acabou essa regra.

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Desde lá é cada um por si. E hoje nem de papel mais o dinheiro é feito. No Brasil mesmo, menos de 1% do dinheiro circula na forma de papel. São só bits armazenados nos servidores dos bancos. Mas não é fácil fazer esses bits aparecerem na sua conta bancária. Você precisa trabalhar por eles com o mesmo afinco que trabalharia para ganhar ouro. Então não tem diferença: esses bits valem ouro.

E aí que a gente chega no bitcoin. O bitcoin é uma moeda tão virtual quanto o dólar ou o real. A diferença é que quem fabrica bits de dólar e de real são dois governos soberanos. E quem fabrica o bitcoin não é nem um governo nem uma pessoa, mas um software (que foi criado por uma pessoa, claro, mas que opera por conta própria).

Esse software começou a funcionar em 2009. O que ele fazia era jogar bitcoins nas “carteiras digitais” do pessoal envolvido com a criação do sistema. No começo, então, a coisa era basicamente uma moeda que só valia dinheiro entre eles: um sujeito dessa comunidade podia fazer algum serviço pra outro em troca de bitcoins. Aí ele gastava o dinheiro virtual que tinha ganhado pagando por outro serviço de alguém da mesma comunidade.

Parece bobo, mas o real funciona assim também, com a diferença de que a “comunidade” aí é o país inteiro. E o sistema também não é tão diferente assim daquele que faz o dinheiro normal circular: você baixa uma “carteira digital” num site, o MultiBit, ou por um aplicativo de Android, o BitCoin Wallet. Para carregar essa carteira, você vai nos sites que trocam dinheiro real por bitcoins, como o Mt.Gox e o Mercado Bitcoin. E aí é “só”achar algum lugar que aceite bitcoins como moeda – um restaurante, uma padaria, o que for. Achando, você pega o celular e transfere uma parte das bitcoins para o dono do lugar. Pronto.

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O pulo do gato do bitcoin é que a quantidade de lugares que aceita a coisa como moeda está crescendo. Em Berlim, pelo que conta o meu amigo Rafael Kenski, chefe da internet da Super e que passou um ano por lá, existe até um bairro cheio de cafés e lojas de roupas que aceitam bitcoins como se fossem euros. Até eu aceito, olha só: meu mini-e-book, o Por que Tudo Custa Tão Caro no Brasil está à venda no site da Super por bitcoins (a ideia foi do pessoal do Mercado Bitcoin).

Bom, tudo isso está valorizando o próprio bitcoin. Lógico: quanto mais gente aceita a coisa como dinheiro, mais dinheiro a coisa vale. E foi uma subida monstruosa. A primeira vez que alguém aceitou a coisa em troca de um produto de verdade foi em 2010, quando um cara pagou duas pizzas com 10 mil bitcoins. No mês passado, quando a Super começou a vender o e-book, isso dava R$ 2 milhões. Enquanto este texto é escrito, R$ 15 milhões. Pois é: um bitcoin sozinho vale R$ 1.500 – ele continua utilizável porque o sistema permite transações de até 1 bilionésimo de bitcoin.

Mas claro: boa parte dessa subida é especulação pura. O povo das finanças está comprando toneladas de bitcoins na esperança de que o troço passe a ser tão aceito quanto dólares ou euros. Eu não apostaria nisso o papel sujo com uma onça desenhada que está na minha carteira agora – mas algo me diz que estou errado.

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