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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Século 21: a era dos monopólios globais

A nova economia, dominada por Uber, Facebook, Google e cia, é a mais afeita a monopólios desde o mercantilismo do século 18. O que pode dar errado?

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7 fev 2017, 14h11

Sairia mais barato para o governo do México comprar o Twitter e fechar a empresa do que continuar vendo uma desvalorização forte do peso a cada tweet do Trump.

Essa é uma piada que circula entre os economistas mexicanos. Mas o que chama a atenção é a lógica por trás dela: estamos vivendo o período histórico mais monopolista desde o século 18, quando a Companhia Britânica das Índias Orientais globalizou o fish and chips, dando-lhe status de prato típico em pontos quase antípodas do planeta (Canadá, África do Sul, Nova Zelândia).

Os serviços da nova economia tendem a criar monopólios globais. O que chamamos de redes sociais consiste em basicamente duas empresas: Facebook e Twitter – cada uma detendo o monopólio do serviço que presta. E, no caso do Facebook, detendo 100% das ações de outros dois monopolistas globais do mercado de conectar pessoas: WhastApp e Instagram.

O Google nasceu num ecossistema de concorrência plena. Disputava usuários com Yahoo, Altavista e cia no mercado global, e com agentes menores, como o Cadê?, nos mercados locais. Agora não. O Yahoo mesmo está prestes a deixar de existir – vai mudar de nome para Altaba, e será só um fundo dedicado a gerir a fortuna que tem, fruto de sua fatia de 15% no Alibaba, único concorrente de peso de outro quase monopolista, a Amazon.

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O Uber tem seus concorrentes, mas cada um deles é um Guaraná Jesus diante de uma Coca-Cola. O AirBnB nem concorrente tem, e não existe brecha para que alguém se atreva a disputar mercado com ele.

Não existe porque o monopólio é a tendência natural dos serviços em rede. O AirBnB não produz hotéis, o Facebook não escreve textos. Quem cria esses serviços são os próprios clientes desses serviços. Se um supermercado ganha mais clientes do que imaginava, fica sem produto nas prateleiras. Se uma rede social, ou qualquer outro negócio baseado no modelo de rede, ganha mais clientes, passa a ter MAIS produtos em sua prateleira. Automático. Se quanto mais gente entra para uma rede, mais eficiente ela fica, todo mundo acaba tendendo a participar das mesmas redes. É exatamente o que acontece com o abastecimento de água e o saneamento básico: os canos que chegam na sua casa ajudam o sistema a chegar na minha. Quanto maior a rede, melhor para cada um dos usuários, e pior para a livre concorrência, porque o que emerge daí são monopólios. Sempre.

Pior: as possibilidades econômicas que essa nova economia abre para o cidadão comum não vão muito além de botar um quarto para alugar no AirBnB ou virar motorista de Uber. No Brasil, pelo menos, algo bem além de 99% da população não tem as credenciais acadêmicas básicas pra pleitear uma vaga num Google ou num Facebook.

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A velha economia, mesmo não funcionando “em rede”, segue num caminho parecido. A Tesla está prestes a virar o maior produtor mundial de baterias de lítio, revisitando Henry Ford, que no começo do século 20 queria ser o maior produtor mundial de borracha. Quase tudo o que vc encontra nas prateleiras de qualquer supermercado do mundo é ou da Unilever ou da P&G. Se o seu celular não é da Apple, provavelmente é da Samsung.

Enquanto a economia segue nesse caminho, a política vai pelo inverso: está mais aberta do que nunca a indivíduos que combatem as empresas globais. A onda de nacionalismo bruto já varreu EUA e Reino Unido, e deve ganhar mais terreno a cada eleição, país por país.

Num futuro próximo, então, não será absurdo ver mais países indo na onda da China: proibindo a entrada de empresas globais (como o governo chinês fez com o Facebook), ou criando concorrentes subsidiados pelo estado para concorrer com elas (como fez com o Uber).

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No fim, este parece um ponto da história análogo ao do fim do século 19: enquanto o mundo comemorava o primeiro auge histórico da globalização, o que se desenhava mesmo por baixo dos panos eram as reações nacionalistas que levariam à Primeira Guerra Mundial.

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