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Quanto pesa o ovo do ornitorrinco?

Uma pequena jornada em busca do peso do ovo do bicho mais estranho do mundo

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 mar 2017, 19h28 - Publicado em 21 mar 2017, 19h11

Três milhões de vezes a massa do Sol (que por sua vez pesa 322.900 planetas Terra). Calma! Ainda não chegamos ao bichinho aí em cima. Essa, na verdade, é a massa do buraco negro que está no centro da Via Láctea, nossa galáxia. A informação é do Observatório Europeu do Sul (ESO). Isso significa que grupos dedicados de físicos e astrônomos com equipamento óptico de última geração calcularam a massa de um objeto invisível que está a mais ou menos 283.821.900.000.000.000 quilômetros de distância (30 mil anos-luz) daqui. Em caixa-alta para ficar claro: INVISÍVEL, a uma distância de 18 casas decimais.

Difícil, não, é? Pois é, tão difícil que não sobrou ninguém com a cabeça aqui nesse planeta para calcular uma massa bem menor e mais simples: a do ovo do ornitorrinco.  

No mês passado saí em busca do peso e das dimensões médias de ovos de várias aves. O resultado é a última página da edição de abril da SUPER, que chega às bancas hoje: um infográfico rápido com ovos de várias espécies, do avestruz ao beija-flor, tudo em tamanho real. Ficou lindo, tudo culpa de Thales Molina, designer, e de Cássio Yoshiyaki, cujas ilustrações são quase fotos de tão realistas.

É claro que uma boa piada não podia faltar, então, em meio a tantos pássaros, incluímos um dos únicos mamíferos que botam ovos: o ornitorrinco, que está na foto ali em cima. Com nadadeiras, bico de pato, rabo de castor, leite que brota da própria pele, esporões venenosos e um sistema de localização de presas que capta os impulsos elétricos dos músculos do animal caçado, o animal australiano é uma colcha de retalhos zoológica – cuja existência foi questionada por naturalistas europeus por quase um século.

Legal, né? Pena que mais de 200 anos de investigação científica depois – que renderam 36 mil resultados de busca no Google Acadêmico, uma biografia, um livro técnico e até este artigo em linguagem informal sobre as proteínas que compõem seu veneno – ninguém teve a ideia de colocar um mísero ovo de ornitorrinco em uma balança. Sem o peso, o mamífero bicudo não poderia entrar na página.

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Foram dias de desespero. Fuçamos toda a literatura científica disponível. Um artigo abençoado, que você pode acessar aqui, deu as dimensões em milímetros, mas se esqueceu da massa. Fica um spoiler: o ovo tem apenas 1,7 cm – mais ou menos o tamanho de uma moeda. Falamos então com o Zoológico Taronga, em Sidney, um dos únicos lugares do mundo em que dá para ver o bicudo de perto. Paul Fahy, assessor de imprensa, chamou os cuidadores, que só me disseram o que eu já sabia: o ovo mede algo entre 1,5 cm e 2 cm. Peso? Alguém?

O próximo passo foi Margareth Hawkins, talvez a maior especialista em criação de ornitorrincos de toda a Austrália. Ela, pelo menos, mandou um parágrafo de consolo. “Embora eu esteja envolvida com o nascimento de vários ornitorrincos em cativeiro, eu nunca vi um ovo ou um bebê de ornitorrinco recém-nascido. Isso acontece porque a fêmea cava uma espécie de toca e põe os ovos em um ninho subterrâneo. Depois da eclosão, os filhotes passam quatro meses lá antes de sair.” Ela aproveitou para verificar a informação com Tom Grant, o maior conhecedor do animal em todo o mundo. Ele também não sabia.

O medo da mãe se justifica: com ovos tão pequenos, os filhotes nascem minúsculos e frágeis, e precisam passar um bom tempo ganhando substância antes de encarar o mundo. É quase como se a terra fosse uma espécie de “útero”. Mais escondida que os filhotes, só a Associação de Conservação dos Ornitorrincos. Bombardeada com uma maré de mensagens, não abriu o bico durante toda a apuração.

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Era um beco sem saída. Mas a salvação veio na forma do outro mamífero que bota ovos e ninguém conhece, a fofíssima equidna. Ela também é um monotremado – a ordem biológica das zoeiras evolutivas que dão leite sem ter mamilos — e seu desenvolvimento embrionário é tão semelhante ao de seu primo ornitorrinco que a maior parte da literatura científica até a década de 1950 misturava estudos sobre os dois sem topar em grandes incompatibilidades (informação disponível no mesmo artigo em que estavam as dimensões aproximadas do ovo). O tamanho (menos de 2 cm, ridículo em comparação ao tamanho do animal), a textura (mais próxima da dos ovos de répteis) e as demais características também batiam. Resultado?

“Descobri” que um ovinho desses pesa, no máximo, 2 g. Obrigado, Austrália. 

    

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