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Trigo “fênix” ressuscita após o inverno — e dá sementes por anos

Cruza artificial entre o trigo doméstico e o selvagem não precisa ser plantada de novo todo ano – o que evita a erosão do solo e o prejuízo dos agricultores

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
28 mar 2017, 19h35

Formado em ciências ambientais e fã de confeitaria, Colin Curwen-McAdams trabalha em um laboratório de pães na Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Lá o objetivo é criar, sem engenharia genética, grãos e cereais perfeitos para produzir pães perfeitos — a qualidade atrai de empresas do setor alimentício e ajuda a agricultura familiar a sair na frente na corrida contra o agronegócio. “A agricultura da costa noroeste [dos EUA] é bem diversa, mas os agricultores têm dificuldade de sobreviver com os preços impostos pelo mercado de commodities“, me contou o pesquisador. “Nosso objetivo é aumentar o valor agronômico, ecológico, nutricional e econômico das plantações. Nós fazemos testes de qualidade e trabalhamos com moleiros, chefs, confeiteiros para desenvolver os grãos.”

Em outras palavras, Curwen-McAdams combate quantidade com qualidade – e come um bocado de pão quentinho no processo. Sua última invenção é o “salish blue”, uma cruza entre espécies de trigo domésticas e selvagens que se regenera sozinha após a colheita – uma capacidade tão útil que até a União Soviética alegou, sem provas, ter alcançado na década de 1930.

O problema é o seguinte: o trigo normal, que começou sua carreira de planta doméstica no território do atual Iraque há cerca de 10 mil anos, morre todo ano com a chegada do inverno. Plantá-lo de novo, sempre no mesmo pedacinho de chão, acaba com o solo e dá prejuízo. Algumas espécies de trigo selvagem, por outro lado, dão novas flores e brotos constantemente – que ficam em suspensão durante o inverno, esperando o frio passar. O trigo “highlander” do pesquisador de Oregon, que leva um pouquinho de cada planta, mantém o melhor dos dois mundos: tem as sementes generosas e o sabor do trigo doméstico, mas fica firme e forte para a colheita na temporada seguinte. É a verdadeira volta dos que não foram.

A volta dos que não foram (Colin Curwen-McAdams | The Bread Lab). (Colin Curwen-McAdams | Universidade de Washington/Reprodução)

Outra característica curiosa é a que dá ao salish blue seu nome: suas sementes são realmente azuladas, o que dá um toque especial no sabor das receitas que são feitas com ele e ajuda a diferenciá-lo do trigo comum produzido em grandes propriedades. Perguntei a Curwen-McAdams se ele já tinha encarado um pãozinho de trigo imortal no café da manhã. Mas ele estava um passo além. “O salish blue não é tão bom para fazer pães, mas eu já fiz panquecas e muffins com ele, e foi um sucesso.” Ele também deu detalhes de seus dias de sommelier de grãos no laboratório de pães. “Jeff Yakellow [da fábrica de farinha King Arthur] fez um croissant 100% integral com grãos locais que é uma das melhores coisas que eu já comi. Também fizemos testes com pães de massa lêveda feitos cada um com uma variedade de trigo diferente, e é incrível sentir as diferenças no sabor.”

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Essa inovação azul, como outras tantas plantas criadas no laboratório-padaria, já é segura e pode ser consumida por qualquer um. Mas mesmo com uma lista de fábricas de farinha interessadas, gerar sementes suficientes para a produção em larga escala pode demorar um pouco. “Suponha que eu tenha 100 g de sementes de uma linhagem que já pode ser lançada comercialmente”, explica o pesquisador. “Quando eu plantar esses 100 g, conseguirei alguns quilos, que então eu planto de novo para aumentar o número novamente.” Como até 100 kg de grãos podem ser plantados em apenas um hectare (área de um quadrado com 100 metros de lado), poderão se passar anos até que a invenção chegue às mãos dos agricultores. Outro passo importante, agora que a receita do trigo fênix foi estabelecida, é tirá-lo das condições controladas da estufa e colocá-lo para encarar a vida dura do campo aberto.

É bom lembrar que o salish blue não é transgênico – ou seja, seu DNA não foi misturado em laboratório com genes úteis de outras plantas para alcançar um resultado específico. Ele é resultado de cruzamentos entre variedades de plantas naturalmente compatíveis, e seus descendentes são férteis. O pesquisador norte-americano sabe que confusões como essa são comuns na opinião pública, mas não se importa com a resistência. “Sempre tem alguém que faz objeções, mas tudo bem. Nosso objetivo é dar opções aos fazendeiros. Se usar esse trigo for bom para eles e alguém se interessar em fazer comida com ele, então ele teve um propósito”.

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