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Estudos científicos e reflexões filosóficas para ajudar você a entender um pouco melhor os outros e a si mesmo. Por Ana Prado
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Como ser um tímido profissional

Por Ana Carolina Prado
Atualizado em 21 dez 2016, 09h48 - Publicado em 10 set 2013, 18h19

Um dos posts de maior sucesso deste blog foi o que falava sobre pessoas que ficam vermelhas facilmente. Pela repercussão, dá para supor que parte considerável dos leitores da SUPER seja do tipo tímido e/ou introvertido. Pode ser que vários de vocês que me leem agora já tiveram que aturar pessoas chatas expansivas cheias de boa vontade pressionando-os para falar, se abrir, participar mais de conversas interessantíssimas, ser menos ~~antissociais~~.

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A repórter que vos escreve, que nem era a mais quieta da turma, já sofreu um pouco com isso quando estava na escola, sem nunca ter entendido o que havia de errado em ser assim. Mas sem mágoas nem recalques: com o tempo a gente aprende a lidar melhor com as coisas e problemas do tipo ficam no passado. PORÉM, é difícil não se empolgar quando chega para você um livro chamado “Manual de Sobrevivência dos Tímidos” (Editora Lote 42), do quadrinista carioca (e tímido) Bruno Maron (dono do blog Dinâmica de Bruto).

Já adianto que o livro está bem longe de ser autoajuda – na verdade, trata-se mais de uma ironia sobre os perrengues dos tímidos, causados tanto por fatores internos (já que o tímido “é todo trabalhado na autocrítica e não se contenta com nada abaixo da perfeição – mas, ele próprio, nunca está à altura dos acontecimentos, é assediado o tempo inteiro pelo pessimismo e pelo complexo de inferioridade e está sempre precisando se isolar socialmente”) quanto por fatores externos (como os parentes chatos te chamando para interagir em festas). O “Manual” traz capítulos ilustrados explicando como funciona um tímido (esse ser que “sempre acha que o mundo está o observando, apenas esperando que cometa seu próximo deslize” e acredita piamente que “tudo o que está agradável guarda em si uma pulsão catastrófica que cedo ou tarde provocará o estrangulamento de seu dia mais feliz”) e dá umas dicas para a fuga de encontros e para aquelas socializações inevitáveis.

Portanto, não espere encontrar conselhos de como se livrar da timidez. A ideia é bem o oposto disso: é mostrar para os tímidos que ainda não saíram do armário que não há razão para invejar as almas extrovertidas e eloquentes. “Tímidos geralmente são bons observadores e sabem que metade das pessoas que fazem propaganda em excesso está com caroço de feijão no dente”, diz o livro. Além do mais, o tímido não é um cliente especial do azar: “A vida é uma piada de mau gosto para qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, sem discriminações”. O lance é parar de se sentir inferior parando de levar todo mundo (incluindo você e o seu chefe e a pessoa que você quer pegar) tão a sério.

Depois de ler o livro, bati um papo com o Bruno – por e-mail, como bons tímidos que somos – para saber mais sobre como e por que ele foi feito:

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Vi uma entrevista em que você disse que sua formação em design foi equivocada. Por que acha isso? E qual seria a formação certa pra você?

Disse isso porque nessa época eu estava com o desejo completamente descompassado das urgências acadêmicas. Foi o auge da minha timidez e deslocamento social, às vezes passava uns três dias seguidos sem abrir a boca, eu tava muito sombrio. Acho que não consegui travar diálogo com nenhuma mulher da faculdade, por exemplo. Deveria ter feito um intercâmbio, virado um artista de rua ou ter sido preso, menos fazer design. Se pudesse voltar no tempo, faria belas artes, filosofia ou letras.

 

Quanto tempo você levou para fazer o livro? As dicas que estão ali foram fruto de anotações ou algo assim que foi colecionando ao longo do tempo ou você chegou a elas de uma vez só?

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Esse livro foi todo picado. Fiz uma versão horripilante dele em 2002 como projeto final da minha faculdade de design. Quando vi o resultado final, fiquei achando que aquilo poderia ser feito com mais consistência e engavetei o projeto. Ao longo dos últimos anos fui coletando experiências minhas e de outras pessoas tímidas que fui esbarrando na vida. Quando constatei a quantidade de besteira que tinha escrito, percebi que já era possível reunir o material e lançar um livro de verdade, e não aquele farelinho de ressentimento feito nas coxas.

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Você diz que sempre se sentiu deslocado. Como lida com isso agora?

Dramatizo demais. Na verdade eu sempre fui gregário, sempre tive minhas patotas. O deslocamento é mais em relação aos modos de vida dominantes, aos modismos, cartilhas, itinerários oficializados e consagrados pelas vozes mais ativas do jogo social. Passei bastante tempo me penitenciando por não conseguir me adequar, hoje em dia acho graça disso tudo, mas admito que a desintoxicação é um trabalho diário.

 

Você faz questão de frisar que não quer ensinar os tímidos a deixarem de ser tímidos – o que é bom, porque crescemos num mundo que considera a timidez um defeito. Pra você, essa característica chega a ser uma qualidade?

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A proatividade, tão alardeada pelo mundo contemporâneo, combina muito mais com os extrovertidos. No mundo da urgência e da velocidade, fica mais complicado ser paciente com a timidez. Existe sim, um charme tímido. Mas infelizmente me parece que o Chico Buarque detém o monopólio desse charme tímido, algo em torno de 97%. O lance é investir nesse resíduo de charme.

 

O livro menciona o desastre que é a relação entre dois tímidos. Rola algum trauma que você gostaria de compartilhar com o pessoal de casa?

Putz, eu já namorei uma menina muito tímida, quando eu também era muito tímido. Rolava muito aquela cena patética dos dois sentados num restaurante, um olhando pra cara do outro, sem ter o que falar. Hoje em dia, com a explosão do iPhone, essa cena já foi normatizada, basta olhar dentro de qualquer restaurante: cada um fica olhando pro próprio iPhone, de vez em quando rolam uns murmúrios. Quero ver fazer isso sem iPhone, era dureza, viu?

 

Você disse que escrever um livro o ajudou a lidar melhor com a timidez. Eu acredito que a autoironia é uma coisa legal. Aprendi a lidar com a minha timidez graças a ela, que me fez parar de me levar tão a sério. Foi algo assim que aconteceu com você e o livro? Ou você aprendeu foi a ironizar os outros mesmo?

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As duas coisas. Parto do princípio de que para sacanear o mundo você tem que ter a decência de se sacanear primeiro. Daí alguém poderia dizer que isso é uma falsificação do pensamento para legitimar todo tipo de escárnio, uma estilização diversionista que no fundo só quer proteger o ego. A verdade é que por mais cuidadoso que você seja no exercício da crítica humorística, sempre haverá brecha para alguém te criticar. É muito conveniente você se abalar apenas com a sua autocrítica, acho isso covarde. Gosto quando alguém me aponta o dedo na cara e eu fico desconcertado por dentro. Ainda sim alguém pode dizer que eu digo que gosto de ser criticado pra disfarçar que eu não gosto de ser criticado. Percebe? Vira um fractal de cinismo… Sacanear a si e o mundo demandam uma honestidade absoluta.

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Quando vale mais a pena se esconder e quando é melhor tentar enfrentar a timidez?

A timidez é tipo um colesterol: tem a boa e a ruim. A timidez ruim é aquela que paralisa, que te coagula socialmente. A timidez ruim faz você perder boas oportunidades em todos os setores da vida. Por outro lado, a timidez boa é aquela que te livra de pequenas misérias do dia-a-dia. Daí vale a pena se esconder sim.

 

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Você é daqueles tímidos que preferem resolver tretas por e-mail ou chat online ou não tem problemas em falar pessoalmente?

Essa entrevista, por exemplo, era pra ser feita pessoalmente e eu fugi, né?  (risos)

 

Você já sofreu ou ainda sofre pressão para ser menos tímido?

A pressão é interna, ninguém nunca mais veio me falar coisas do tipo: “pô cara, tu é muito caladão”. Eu odiava isso e fui me tornando muito mais comunicativo nos últimos anos, mesmo usando meus truquezinhos vagabundos. Me pressiono a ser mais expansivo pra correr atrás de trabalho, por exemplo.

 

Já chegou a usar as dicas que coloca no livro?

Eu nunca frequentei incêndios nem desaprendi meu idioma, são dicas muito ousadas. Me perder na praia pra sempre foi uma coisa que sempre sonhei mas nunca tive coragem de fazer. Acabo usando aquelas mais triviais mesmo. A que eu uso MUITO se chama PERGUNTA SONSA. A pessoa comenta algo comigo e eu repito a frase exatamente igual adicionando apenas um “é?”.

 

Quando você sentiu que chegou num ponto aceitável da timidez? E o que falta superar nela?

O álcool desinfetou minha timidez, sorte que não virei alcóolatra. O resto de timidez que sobrou eu tento converter em charme, se o Chico Buarque me permitir.

 

Você já começou a ficar de saco cheio tendo que ficar respondendo perguntas sobre a sua timidez?

A timidez é um assunto que – em decorrência de sua própria natureza – implora para não ser debatido. A timidez sente vergonha de ser timidez, desenvolveu uma espécie de autodepreciação sustentável. Investi nela por pura petulância, queria saber o quanto eu poderia extrair desse bagaço. E não é que saiu mais uma entrevista? (risos).

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