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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Como os juros altos me fazem roubar moedas na rua para comprar croissant.

Juro alto é uma beleza pra quem tem grana. E com a Selic em 14,25%, nem precisa ser tanta grana assim. Pega R$ 50 mil. Se você coloca isso no Tesouro Selic, a aplicação mais segura do Tesouro Direto, que paga basicamente a Selic, os R$ 50 mil vão render R$ 27 por dia (são […]

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 dez 2016, 09h50 - Publicado em 8 set 2015, 16h57

croissant

Juro alto é uma beleza pra quem tem grana. E com a Selic em 14,25%, nem precisa ser tanta grana assim.

Pega R$ 50 mil.

Se você coloca isso no Tesouro Selic, a aplicação mais segura do Tesouro Direto, que paga basicamente a Selic, os R$ 50 mil vão render R$ 27 por dia (são 0,054% a cada dia útil). Descontando imposto de renda e as taxas de sempre, cai um pouco, pra R$ 21. Mas ainda assim já um tik refeição! De graça. Em um ano, com imposto e tudo, os R$ 50 mil vão ter rendido R$ 5.500. Quase R$ 2.000 a mais do que se você tivesse deixado na poupança.

Pra você ter uma ideia melhor de quanto os juros tão altos, imagina que você ganhou na Mega Sena da virada. Tá com R$ 100 milhões limpos na mão. Se você pudesse pegar tudo e colocar de uma vez no Tesouro Selic, ganharia R$ 42 mil por dia. Dá na faixa de 1 milhão de reais por mês.   

Se tá bom pra quem ganha na Mega Sena, pra bandido, melhor ainda.

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Quem acompanha o noticiário sabe: um único gerente da Petrobras, o Pedro Barusco, conseguiu desviar R$ 197 milhões pra contas pessoais dele. Essas contas estavam na Suíça, claro. Mas se estivessem aqui, rendendo pela Selic, dariam R$ 84 mil por dia. R$ 2 milhões por mês, e deixando os R$ 197 parados, lá, só te esperando.

Mas vamos voltar pros valores mais terráqueos. Aquele R$ 21 por dia que um depósito no Tesouro Selic rendem não chegam a ser um almoço grátis, porque você tem que colocar 9% de inflação aí – que é o IPCA previsto pra 2015. Isso dá uma inflação de 0,034% por dia. Descontando essa inflação, o que sobra daqueles R$ 21 são R$ 8. Esse é o ganho real.

Parece pouco. Mas sabe quanto você ganharia se o mesmo dinheiro estivesse investido no “Tesouro Selic” dos Estados Unidos? R$ 0,45 por dia, contra os nossos R$ 8. Lá não tem almoço grátis. Aqui, no fundo, também não. Mas no Brasil, pra quem pode, pelo menos, tem croissant grátis.  

Mas quem paga esse croissant gratis? Vamos ver. O salário médio no Brasil é de R$ 2.100. Em São Paulo,  um pouco mais: R$ 2.800. Agora vem cá: quem ganha R$ 2.100 ou R$ 2800 basicamente não tem como guardar dinheiro – numa realidade em que só a conta de luz já dá cento e tantos por mês, vai tudo em consumo imediato. Então esse sujeito, que forma a “classe média” do país, tá barrado no baile dos juros altos. Nesse cara, a inflação chega, mata e come.

Come precisamente R$ 1 por dia. É isso que a inflação de 9% ao ano arranca de um salário de R$ 2.800 por mês.

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É como se o cara fosse obrigado a jogar uma moeda de R$ 1 todo dia no bueiro – como punição pelo crime de nunca ter grana pra investir. 

E onde vão parar essas milhões de moedas de R$ 1 que somem todo dia no bueiro da inflação? Em última instância, elas acabam recanalizadas justamente para pagar aqueles R$ 8 por dia de quem é um pouco mais endinheirado, e para pagar também aqueles R$ 42 mil, R$ 80 mil, R$ 1 milhão por dia de quem é realmente endinheirado.

Isso não é discurso populista. É fato. Juro alto existe para combater inflação alta. Primeiro vem a inflação, depois os juros gordos. E quem paga o preço pela inflação é justamente quem não tem acesso ao guarda-chuva dos juros altos.  É maioria.   

Faz sentido? Não, não faz. E é exatamente por isso que juro alto por muito tempo inviabiliza qualquer país – e todo mundo disso : Levy, Tombini, Jesus, Satanás, Papai Noel, PT, PMDB, PCC. O problema é que a farra de gastos públicos da gestão Mantega/Coutinho/Roussef, no governo Dilma 1, criou uma bomba inflacionária que, agora, só tem como ser desarmada mantendo os juros em órbita mesmo. 

A merda é que essa essa distorção, além de frear a economia, cria um problema moral. Transforma gente que nada tem a ver com a trolha em criminosos involuntários, tipo eu.

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É sim. Porque o governo me transforma basicamente num Rafael Pilha. Permite que eu, que tenho lá meus cinquentinha no Tesouro Direto, roube todos os dias oito moedas de R$ 1, de oito cidadãos aleatórios. Se você for um deles, desculpa. É que, por enquanto, não tenho outra alternativa.

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