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O conteúdo grátis está transformando o jornalismo num grande anúncio de refrigerantes?

Por Fred Di Giacomo
Atualizado em 21 dez 2016, 10h18 - Publicado em 18 mar 2013, 18h44

Haverá futuro para o jornalismo num mundo onde as pessoas estão acostumadas a receberem informação grátis?

Calma, esse não é um artigo em defesa do paywall (modelo de cobrança adotado por alguns jornais online, em que o leitor pode ler apenas um número determinado de matérias sem pagar) ou do conteúdo pago na internet. É uma reflexão sobre como o nosso hábito de acessar apenas conteúdo gratuito na internet (sejam filmes, discos ou notícias) está matando a fonte de receita destas indústrias e tornando a publicidade sua única alternativa. Acontece que as marcas que anunciavam nos jornais ou revistas agora querem produzir seu próprio conteúdo, falando diretamente com o leitor e sem precisar de  ~intermediários~. Então, em breve, você pode ter que escolher entre as notícias do marca X ou Y e não entre seu portal favorito ou o aquela revista mensal de bordas vermelhas que você tanto ama. E a marca X ou Y não vai ter obrigação nenhuma de produzir conteúdo isento ou objetivo. Lembre, a marca X ou Y não ganha dinheiro com jornalismo, ela ganha conteúdo vendendo tênis, picolé, batata frita ou batom. No final do mês, o que vai contar não é a quantidade de notícias lidas, mas a quantidade de produtos vendidos. E a coisa fica mais feia se você imaginar que na época da eleição estará lendo notícias patrocinadas pelo Partido A ou o Partido B. Neste cenário, qual a chance de um escândalo como o do  “Mensalão” ou dos “Vampiros da Saúde”  voltar a estourar?

E agora, Clark Kent?

Sim, eu sou jornalista e trabalho no mercado há sete anos – especialmente com internet que é a mídia que mais sofre com isso, mas essa não é uma mera impressão pessoal do que eu vi ou vivi. O site americano Mashable publicou nesta segunda (18), os resultados da pesquisa anual do Pew Research Center’s sobre o estado da mídia. Este estudo mostra que as redações dos Estados Unidos cortaram 30% de suas equipes desde 2000 e quem está pagando a conta é a qualidade do jornalismo.  Hoje,  nos EUA, existem 40 mil pessoas empregadas trabalhando com jornalismo, o menor número desde 1978.  Enquanto isso a cobertura de notícias caiu 30%, dando lugar a conteúdos mais frios – como entrevistas. Tem até uma startup chamada Narrative Science experimentando um algoritmo que cria notícias. Sim, algumas empresas – incluindo a Forbes – já pensam em deixar as reportagens nas mãos de robôs. E isso tem feito com que menos leitores acompanhem jornais, revistas e portais. Paralelo a isso, anunciantes têm migrado para empresas como Google e Facebook, que além de terem substituído muito do papel dos produtores de notícias tradicionais na web, estão anos luz à frente das empresas de jornalismo na plataforma mobile.

Dentro deste cenário, quem está se saindo melhor é o New York Times com seu modelo de paywall em que os leitores têm que pagar se quiserem acessar mais de 10 matérias por mês. Dez matérias são grátis, o restante é pago. Hoje 20% dos jornais americanos (e alguns brasileiros como a Folha de S. Paulo e o Estadão) usam paywall. Em 2012, a receita com essas assinaturas digitais já superou o que o New York Times tem ganho com publicidade. A pergunta é: quanto vale uma notícia de qualidade para você?

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Se ficar o bicha pega, se correr…

 

Existem alternativas? Bom,  alguns projetos podem conseguir financiamento através de crowdfunding (sistema de financiamento coletivo de projetos), mas é difícil imaginar o salário dos 40 mil jornalistas empregados nos EUA saindo de doações espontâneas na internet. Funciona para projetos específicos, mas não sustenta a estrutura.  Seria o fim do conteúdo grátis na internet? Claro, que não. Blogueiros, fãs e entusiastas das mídias livres continuarão produzindo conteúdo que não precisará, necessariamente, estar atrelado a uma empresa ou fonte de renda. Agora o movimento contrário é arriscado. Transformar todos jornalistas em fãs que escrevem por hobby é transformar a informação em algo que dependerá da boa vontade de um ou outro  bom samaritano.  Acho difícil imaginar que um médico ou engenheiro topasse trocar seu salário por uma série de curtidas no Facebook.

Fred Di Giacomo é jornalista e editor digital do Núcleo Jovem & Infantil (Superinteressante, Mundo Estranho, Guia do Estudante, Recreio, Vida Simples e Aventuras na História). Ele também é autor do livro “Canções para ninar adultos“. (Editora Patuá). 

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