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13 revelações do WikiLeaks sobre o Brasil

Por Ana Carolina Prado
Atualizado em 12 abr 2019, 18h49 - Publicado em 10 dez 2010, 15h39

Desde 2006, ano em que foi criado, o site WikiLeaks já publicou mais de 1 milhão de documentos confidenciais enviados por fontes anônimas. Mas foi em 2010 que ganhou fama mundial, com o vazamento de um vídeo mostrando um ataque norte-americano contra funcionários da Reuters e outros civis em Bagdá.O site ainda revelou dezenas de milhares de arquivos da inteligência norte-americana sobre as ações no Afeganistão e Iraque. Com a divulgação de cerca de 250 mil telegramas diplomáticos secretos do Departamento de Estado dos EUA, a coisa pegou fogo mesmo.

O fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, passou os últimos anos sob a proteção da embaixada do Equador em Londres – mas teve seu asilo político revogado nesta semana, e foi preso. Assange foi condenado pela justiça britânica por não ter cumprido ordens de se apresentar ao tribunal em 2012. Na época, ele era acusado de agressão sexual a duas mulheres na Suécia. Depois de anos sem conseguir notificá-lo formalmente, as acusações foram retiradas – mas a Suécia considera reabri-los agora que o Reino Unido tem Assange sob custódia. No meio de tudo isso, os maiores interessados – os Estados Unidos – seguem insistindo em um pedido de extradição de Assange, para que ele possa ser julgado pelos vazamentos dos documentos confidenciais americanos.

Pois bem: no meio de toda essa polêmica internacional envolvendo Assange pessoalmente, o Brasil não aparece. Mas nosso país recebeu uma boa quantidade de menções no conteúdo vazado pelo Wikileaks. Dentre os documentos revelados, muitos tratam da relação entre os EUA e o Brasil. Listamos 13 informações vazadas que revelam um pouco da visão que os americanos têm de nós.

(*Dá para acompanhar os documentos relacionados ao Brasil aqui: https://213.251.145.96/tag/BR_0.html)

1- Jeitinho brasileiro e as Olimpíadas no Rio

Em um relatório com o título “Olimpíadas do Rio – O Futuro é Hoje“, a Ministra Conselheira da Embaixada americana Lisa Kubiske reclama das muitas promessas e pouco planejamento e ação do governo brasileiro. “Articular os objetivos mais amplos e deixar os detalhes para o último minuto pode ser o jeito tipicamente brasileiro, mas pode gerar problemas”, diz ela. “Os atrasos que esperamos do governo brasileiro em planejar e executar os trabalhos de preparação para uma Copa do Mundo e Olimpíadas bem-sucedidas com certeza vão gerar um ônus maior para o governo americano poder garantir que os padrões necessários serão alcançados”.

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Ou seja: tal como parte da população brasileira, os americanos tinham lá suas dúvidas se ia ter Copa. E depois, Olimpíadas. Mas, pessimismo a parte, o mesmo documento mostra os EUA coordenando a ampliação de pessoal, estrutura e recursos para ajudar.

2- Brasil quer (neuroticamente) ser igual aos EUA

Um telegrama datado de novembro de 2009 que discutia o rumo das Relações Exteriores no Brasil diz: “O Brasil considera entrar em uma competição com os Estados Unidos na América do Sul e desconfia das intenções americanas (…) O Brasil tem uma necessidade quase neurótica de ser igual aos Estados Unidos e de ser percebido como tal”.

3- Brasileiros querem ser “independentes” (entre aspas mesmo!)

Em telegrama enviado em janeiro de 2009 a Washington, o ex-embaixador americano no Brasil, Clifford Sobel deu algumas alfinetadas no Plano Nacional de Defesa anunciado por Lula no fim de 2008. Ele explica que a estratégia foi montada a partir da intenção do Brasil de ser “independente” (é, ele usou o termo entre aspas três vezes no documento).

Ele critica a decisão de comprar caças (os aviões, mesmo) da França diz que “não faz sentido economicamente” devido ao número relativamente pequeno de veículos. “Mas [o então Ministro do Planejamento Roberto Mangabeira] Unger “dá mais importância à ‘independência’ do que à capacidade militar ou ao uso eficiente de recursos”. Vish.

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4- Brasileiros são paranoicos em relação à defesa de territórios

A diplomacia norteamericana também criticou a “tradicional paranoia brasileira” na defesa da fronteira amazônica “contra atividades de organizações não-governamentais e outras atividades estrangeiras vistas popularmente como ameaças potenciais à soberania nacional”.

A área das reservas do Pré-Sal seria outro alvo dessa paranoia. “Não há nenhuma ameaça às reservas de petróleo brasileiras, mas os líderes brasileiros e a mídia têm citado as descobertas de petróleo no mar como razão urgente para melhorar a segurança marítima”, diz o telegrama escrito pelo embaixador norte-americano de janeiro de 2009.

 

5- Apagão de 2009 deixou EUA preocupados
O apagão que aconteceu em novembro de 2009 e deixou 18 estados brasileiros no escuro virou tema de relatórios da embaixada americana e de preocupações com a segurança da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, ambas no Brasil. “A preocupação, recentemente ampliada, com a infraestrutura brasileira depois do blackout (..) apresenta uma oportunidade para os EUA se envolverem no desenvolvimento da infraestrutura e segurança cibernética”, escreveu a conselheira para assuntos administrativos da embaixada, Cherie Jackson, num telegrama a Washington. Segundo ela, autoridades brasileiras “admitem a possibilidade de um ataque durante esses eventos” e estariam identificando as instalações que precisam ser protegidas.

6- Brasileiros rejeitaram prisioneiros de Guantánamo
Telegramas confidenciais enviados a Washington em de outubro de 2005 pelo então embaixador americano em Brasília, John Danilovitch, revelou que o Brasil foi procurado pelos EUA para receber refugiados prisioneiros uigures (minoria muçulmana de língua turca do noroeste da China) de Guantánamo, mas recusou a oferta. Os refugiados não podiam voltar à China por receio de que viessem a ser mortos ou torturados. Segundo o documento, o Ministério de Relações Exteriores “disse que o governo brasileiro não pode aceitar imigrantes de Guantánamo porque é ilegal designar como refugiado alguém que não está em solo brasileiro”. Outros dois telegramas mostram que o Brasil manteve o mesmo discurso quando procurado para receber cubanos que fugiram do regime de Fidel Castro, em 2005.

7- Presidente Lula


“O rapaz que estava desembaraçando a diplomacia norte-americana. Como é que chama? O ‘VIKILIQUE’ lá”

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Num telegrama de fevereiro de 2009, o então embaixador americano Clifford Sobel descreve o presidente Lula como um “esquerdista pragmático” e diz que ele “não é o principal arquiteto da política externa de sua administração”. O documento diz que, embora o presidente tenha chegado ao poder sem nenhuma experiência e “com a idéia esquerdista de que os países mais desenvolvidos estão contra os menos desenvolvidos”, ele se saiu muito bem na política externa pela sua “propensão a assumir uma abordagem pragmática em vez de ideológica”. Mas há um problema: “ainda existe uma tensão notável entre as ações e a retórica do presidente, que muitas vezes assume um discurso de ‘norte contra sul’ ou ‘nós contra eles’”, diz o embaixador.

8- Não “tão importantes assim” na América Latina

Há ainda a menção a uma fala da ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, em um relatório americano de janeiro de 2010. Ela comenta, primeiro, dos candidatos da eleição à presidência do Brasil naquele ano. “Ela descreveu José Serra como arrogante e (…) Dilma Rousseff como distante e formal”.

O documento revelou também que, para ela, o Brasil não representava um papel assim tão importante na maioria dos assuntos da América Latina. “Por outro lado, o Brasil tem sido sempre um bom aliado para o Chile, ela afirmou”.

9- Brasil prende terroristas árabes em segredo

Documentos confidenciais revelaram operações antiterroristas no Brasil com o apoio americano. Um relatório de dezembro de 2009 da embaixada americana cita a prisão, em maio daquele ano, de um integrante da Al Qaeda em São Paulo, feita pela Polícia Federal.

E esse não foi um fato isolado. “A polícia frequentemente prende indivíduos ligados ao terrorismo, mas os acusa de uma variedade de crimes não relacionados a isso para não chamar a atenção da imprensa e dos altos escalões do governo“, disse o então embaixador Clifford Sobel em outro relatório, de janeiro de 2008.

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O governo sempre negou a existência de atividades terroristas no Brasil e isso se daria “em parte pelo medo da estigmatização da grande comunidade islâmica no Brasil. Também é uma postura pública que visa evitar associação à guerra ao terror dos EUA, vista como agressiva demais”, diz ele.

10- Será preciso suar para conquistar a confiança dos brasileiros

Um documento da embaixada americana revela a preocupação com o ceticismo brasileiro a respeito da sinceridade do interesse dos EUA em seu relacionamento com o Brasil e a região como um todo. “Existe uma falta de visibilidade em relação ao lado positivo da América, o que a América tem feito, inclusive nossa preocupação histórica para com o bem comum e nossa tradição de responsabilidade corporativa e serviços à comunidade. Devemos encontrar formas de alterar estas percepções, enfocando projetos e parcerias que demonstrem o nosso compromisso e preocupação genuína com o povo do Brasil”, diz o texto.

11- Nordeste pode ser caminho para EUA ganhar simpatia dos brasileiros

Já que o Brasil mantém essa desconfiança em relação às intenções americanas, os EUA vêem como opção atuar em áreas menos ideológicas. Relatório de 2006 do governo sugere, por exemplo, maior engajamento junto ao nordeste brasileiro, “uma região com mais de 50 milhões de pessoas, com enormes disparidades na distribuição de renda e um padrão de vida inferior ao da Bolívia”.

Mais do que isso, “essa região poderia ser o segundo maior país em tamanho e população da América do Sul”. Outra opção é ajudar no combate ao crime. “O crime também é uma preocupação constante nesse violento país e é um campo em que nós poderíamos ter um impacto significativo”, continua o texto.

12- Governo americano não botava fé na Dilma como empreendedora por ser ex-guerrilheira

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Apesar da desconfiança, a embaixada americana revelou o alto grau de interesse do governo brasileiro em ampliar as relações comerciais e criar novas parcerias público-privadas com os EUA. A surpresa vem da adesão de Dilma à ideia: “Este sentimento pode até mesmo ser ouvido de Dilma Rousseff, cujo passado ideológico como militante de esquerda dificilmente sugere tal espírito empreendedor”.

 

 

 

13- França e Brasil: o início de uma relação de amor (?)

A relação entre o Brasil e a França foi tema de um relatório com o título acima, feito em novembro de 2009 pela embaixada americana em Paris. O documento previa um maior engajamento político, militar, econômico e diplomático entre os dois países nos anos seguintes – e dizia até mesmo como isso deve beneficiaria a reeleição do presidente francês Sarkozy.

“Empenhado em expandir o papel da França como intercessor global”, ele irá ampliar sua presença na América Latina e poderá usar o “triunfo da política externa com o Brasil como uma indicação de suas proezas” para a reeleição em 2012.

Nem precisa dizer que erraram feio, né? Sarkozy não foi reeleito em 2012 – François Hollande levou a vitória. E, até onde sabemos, esse amor todo com os franceses ficou só no relatório mesmo… Será que era ciúmes?

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