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A polêmica em torno dos bebês editados geneticamente na China

Um pesquisador chinês diz ter ajudado a criar os primeiros humanos com DNA editado em laboratório. Entenda as questões éticas envolvidas.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 30 dez 2019, 12h53 - Publicado em 27 nov 2018, 20h17

Um chinês abalou a comunidade científica no último domingo (25). Em um vídeo de apenas quatro minutos divulgado no YouTube, ele provocou discussões sobre a ética na manipulação do DNA humano.

O pesquisador He Jiankui, da cidade de Shenzen, afirma que ele e sua equipe da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul ajudaram a criar os primeiros bebês editados geneticamente do mundo – as gêmeas Lula e Nana. Ao longo de outros vídeos, He conta a história das duas meninas, nascidas no início do mês. Elas tiveram seu código genético alterado pelos cientistas, que queriam torná-las mais resistentes ao HIV, o vírus da aids.

Um feito histórico e polêmico – se for verdade. A notícia foi divulgada pela revista MIT Technology Review no mesmo dia em que He anunciou o que ele chama de “cirurgia genética”, mas a pesquisa possui alguns furos, sem contar o debate ético que ela gerou.

Monte o seu DNA

He – que estudou em universidades dos EUA, como a Stanford – contou que os bebês vieram da fertilização in vitro de um casal cujo pai é portador do HIV. “Crianças que nascem com doenças do tipo não têm as mesmas condições de viver uma vida normal”, disse ele, no vídeo em que explica o processo (assista abaixo).

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O estudo, no entanto, não detalha a metodologia nem dá muitas informações sobre o casal que participou do teste. A pesquisa, aliás, não foi publicada em periódicos especializados – o que permitiria que ela fosse revista por outros profissionais da área. Além disso, ninguém além de He confirmou o caso: a própria faculdade anunciou que abrirá um inquérito interno, acusando o cientista de violação ética.

Alterar o código humano é mesmo um assunto polêmico. Muitos países, inclusive, proíbem a prática e defendem que isso pode trazer complicações e alterações genéticas indesejadas. No Brasil, por exemplo, há uma lei de 2005 que barra qualquer tipo de experimento envolvendo edição genética. Some isso à questão da manipulação de características do corpo (imagine ser capaz de alterar no seu filho a cor do cabelo, dos olhos etc.) e o resultado é uma questão tão delicada quanto clonagem.

Avanço ou perigo?

He compara a “cirurgia genética” com o fenômeno da fertilização in vitro. De acordo com ele, o método em questão era visto com maus olhos 40 anos atrás, mas hoje já ajudou no nascimento de 8 milhões de pessoas.

A tecnologia utilizada por ele é chamada de CRISPR (em português, a sigla significa algo como Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas.) A gente traduz: o método consiste em usar uma enzima específica para isolar um determinado gene, fazendo com as células não o leiam.

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No caso de He, o procedimento das gêmeas isolou o gene responsável pela proteína CCR5, que faz parte das células do nosso sistema imunológico e que, de acordo com o cientista, é a porta de entrada para que o HIV se fixe no corpo. Sem ela, espera-se que o indivíduo fique mais resistente a contrair o vírus. Segundo o pesquisador, as meninas e a mãe não apresentaram nenhum problema durante e após a gravidez.

A pesquisa chinesa provocou revolta em cientistas do mundo todo. Muitos alegam que estudos do tipo são arriscados demais e questionam a ética do autor. Na China, o caso provocou a elaboração de um abaixo-assinado contra He. Mais de 100 cientistas pediram a censura da pesquisa.

“Não podemos descartar a possibilidade de que os bebês gerados usando essa tecnologia possam ser saudáveis ​​por um período de tempo”, diz o texto inicial do manifesto. “Mas os potenciais riscos e perigos trazidos pelo procedimento (…) são difíceis de mensurar”, conclui.

A seguir, veja o vídeo em que He Jiankui detalha o experimento:

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