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A surpreendente força dos ventos

O vendaval que atingiu a cidade de Itu, no interior de São Paulo, pode ter sido causado por um arisco fenômeno de nome microexplosão.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 31 out 1991, 22h00

Pés-de-vento, explosões ascendentes, ventos de calmaria, microexplosões, ciclones e tornados são personagens que, vez por outra, ganham efêmera existência na atmosfera e perturbam consideravelmente a vida dos homens. Feitos de ar e alimentados, em ultima instancia, pelo calor do Sol acumulado no solo, eles podem ser bastante destrutivos, mesmo quando tem proporções relativamente modestas. Prova disso foram às violentas lufadas que este ano assustaram brasileiros de diversas localidades, do sul ao Nordeste do país. A maior surpresa foi em Itu, a 100 quilômetros da capital paulista, onde em setembro ultimo, um súbito vendaval destruiu 250 casas e jogou para o ar quase duas vezenas de mortos.

“A violência dos danos indica que a velocidade da massa de ar era bem superior a 200 quilômetros por hora”, avalia a meteorologista Maria Assunção da Silvia Dias, do instituto Astronômico e Geofísico, da Universidade de São Paulo. Ela explica que o desastre parece ter sido causado por um arisco fenômeno de nome microexplosão. Em principio, ela não é diferente de outros ventos fortes, que são criados pelo encontro de duas ou mais massa de ar, frias e quentes. Em Itu, formou se, em seguida, uma gigantesca nuvem de 50 quilômetros de base por 10 de altura, em cujo interior o ar frio foi empurrado para baixo e o ar quente e úmido, para cima (ilustração).
O micro explosão teria acontecido quando uma porção da massa ascendente, a cerca de 4 quilômetros da superfície, perdeu calor e umidade, tornando-se, por isso, densa e pesada. Tanto que literalmente despencou, descendo quase na vertical em direção ao solo. A cerca de 50 metros de altura, o jato nivelou, atingindo velocidade máxima. Feita todas as contas, o vento horizontal pode ter durado menos de 10 minutos e avançando 10 quilômetros, perdendo impulso em virtude dos acidentes de superfície. É justamente a pequena escala de tamanho que torna esse tipo de fenômeno tão peculiar e imprevisível.

A ciência do clima, simplesmente, não da conta da variedade de fenômenos existentes na linha de encontro entre as massas de ar. “A atmosfera se comporta como a água ao longo de um rio turbulento”, compara o gaucho Cléo Kuhn, do 8° Distrito de Meteorologia, sediado em Porto Alegre. Para piorar, as turbulências muitas vezes se estendem por milhares de quilômetros quadrados e em cada local se manifesta de uma maneira diferente. No Sul, os ventos passaram dos 80 quilômetros por hora, em inúmeros pontos, desde as plagas gauchas até Santa Catarina.

Em resumo, as microexplosões são fenômenos relativamente esporádicos, mas não são excepcionais. O diretor do instituto de pesquisas meteorológicas da Bauru, Roberto Vicente Calheiros, diz ter conhecimento de pelo menos mais três delas, nos últimos anos, uma em Aquidauana, MS, e outra em Ilha Solteira, PR; e uma terceira na região de São Bernardo, SP, em abril deste ano. Existem ainda as explosões ascendentes, semelhantes às microexplosões. “A primeira se origina entre 4 e 10 quilômetros de altura, dura ate 60 minutos e produz ventos menos intensos que a segunda”, esclarece Calheiros. É possível que parte dos estragos em Itu tenha sido causada por ciclones, isto é, massas de ar em rotação descendente.

Essas massas se agitam quando o ar aquecido pelo solo começa a subir e deixa sob si uma zona rarefeita, ou de baixa pressão. Assunção assegura que as tempestades sempre geram ciclones. Eles podem ser frágeis, se a pressão é pouco menor que a normal, fixada em 1013 milibares; mas se ela cair a um décimo desse valor, adquirem força considerável. A família das massas em rotação inclui também os populares pés-de-vento que geralmente precedem as tempestades, têm curta duração e pouca energia. Os ventos de calmaria, enfim se formam quando a camada de ar até 100 metros de altura esta fria e calma pela manha. A medida que essa camada se aquece, o ar da camada superiores desce em espiral. Os acontecimentos recentes, portanto, apenas tornaram mais bem conhecidos fenômenos que não são realmente novos. Talvez tenham passado despercebidos, no passado porque a população era menor e poucos danos chagavam a chamar atenção, argumenta Calheiros. Trata-se de uma lembrança importante: para lidar com o clima é preciso dispor de uma tecnologia que o pais ainda não têm. Durante as tempestades são particularmente úteis as grandes redes de radar, que podem delinear o volume nas nuvens em formação e antecipar detalhes de curto prazo sobre sua evolução. Mas no Brasil, atualmente, há apenas 8 radares – 4 deles em operação efetiva -, contra, por exemplo, 175 nos estados Unidos e 200 na China.

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