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Bug em software de ressonância magnética pode invalidar 15 anos de pesquisas sobre o cérebro

Cientistas descobrem problema no método usado para medir atividade cerebral. Se eles estiverem certos, mais de 40 mil pesquisas sobre o funcionamento do cérebro podem ser perdidas.

Por Denis Russo Burgierman
Atualizado em 11 mar 2024, 11h11 - Publicado em 6 jul 2016, 20h00

O mundo da neurociência está em choque. Segundo um novo estudo, boa parte da pesquisa científica sobre o cérebro realizada ao longo dos últimos 15 anos pode se perder. Tudo por causa de um bug num software e de alguns erros estatísticos.

O problemão tem a ver com uma técnica de neuroimagem chamada Ressonância Magnética Funcional, ou fMRI. Desde o início dos anos 1990, o fMRI vem revolucionando o conhecimento científico sobre o cérebro. Funciona assim: os cientistas pedem a uma pessoa que realize uma tarefa dentro de uma máquina de ressonância magnética. A máquina produz um imenso campo magnético que atravessa o corpo inteiro, fazendo as células do sangue vibrarem sutilmente. Ao medir essa vibração, os pesquisadores ficam sabendo que partes do cérebro têm mais fluxo sanguíneo: assim, eles descobrem o que cada atividade causa no cérebro.

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Ao longo das últimas décadas, pesquisas desse tipo revelaram muito do que sabemos sobre nosso órgão mais complexo. Milhares de grupos de pesquisa no mundo inteiro desvendaram o que acontece no cérebro quando lemos, quando sonhamos, quando ouvimos poesia, quando pensamos em quem amamos, quando passamos por uma seção de acupuntura, quando tomamos drogas, quando lembramos, quando estamos felizes, quando estamos furiosos, quando apostamos etc, etc e mais milhares de etcs. Dezenas de milhares de pesquisas foram feitas usando essa técnica.

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Mas… E se houvesse um erro fundamental na técnica em si? É justamente o que um grupo de cientistas suecos e ingleses desconfia que aconteceu. Eles acabam de publicar um artigo na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA na qual colocam em dúvida o método estatístico empregado em pelo menos 40 mil pesquisas ao longo dos últimos 20 anos. Se eles estiverem certos, quase tudo que foi descoberto usando fMRI pode ser colocado em dúvida.

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O que os cientistas fizeram foi comparar randomicamente as imagens do cérebro de 499 pessoas em estado de repouso. Como estavam em estado de repouso, era de se esperar que não houvesse muita diferença entre as imagens. Só que houve. Os cientistas detectaram falsos positivos em cerca de 70% das amostras – eles esperavam encontrá-los em não mais do que 5%. Isso significa que há uma grande imprecisão nos exames: o fMRI pode apontar atividade em áreas no cérebro mesmo quando não há atividade alguma.

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Em parte, isso se deve aos critérios estatísticos usados em pesquisas desse tipo. Em parte, a um bug no software que faz as análises. O bug foi corrigido em 2015, mas afetou boa parte dos estudos realizados ao longo de 15 anos antes disso.

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Demoramos tanto tempo para detectar o problema porque fMRI é uma técnica caríssima: uma só hora de máquina custa aos cientistas cerca de 2 mil reais nos EUA, e uma máquina nova não sai por menos que 3 milhões de dólares. Esses custos proibitivos significam que quase sempre os estudos são feitos com uma amostragem pequena, e que eles quase nunca são repetidos.

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Só saberemos a extensão do problema ao longo dos próximos anos, quando grupos independentes começarem a reproduzir os experimentos. Os autores da descoberta recomendam que os grupos de pesquisa do mundo inteiro comecem a disponibilizar seus dados gratuitamente pela internet, para permitir que outros grupos confirmem ou não os achados. Resta torcer para que a maioria dos estudos seja confirmada. Caso contrário, será muito dinheiro, esforço e talento jogados no lixo. 

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