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Burocracia dificulta pesquisa

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 12 dez 2009, 22h00

Ênio Cardillo Vieira

Os pesquisadores que trabalham com animais de laboratório no Brasil têm de enfrentar com freqüência as barreiras burocráticas para importação de matrizes. Existem hoje animais de linhagens bem definidas, chamados isogênicos. Há por exemplo, os que são geneticamente hipertensos, obesos, diabéticos etc. e quando se quer fazer uma pesquisa biomédica que requeira este tipo de animal temos de importar as matrizes. Como muitas dessas linhagens já existem no Brasil, a colaboração habitual entre cientistas facilita sua obtenção.

No caso específico do laboratório de Gnotobiologia do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Único do gênero na América Latina, os problemas são mais complexos. Gnotobiologia é o ramo da ciência que se utiliza de animais isentos de germes, isto é, absolutamente livres de qualquer contaminação microbiana detectável pelos métodos convencionais e, por isso, eles vivem isolados do meio ambiente em uma câmara de plástico flexível chamada isolador ou mais popularmente, bolha.

Esse laboratório trabalha, desde 1979, com nossas doenças endêmicas: esquistossomose, doença de Chagas, leishmaniose e giardiáse (infecção intestinal). Os primeiros casais de animais isentos de germes vieram da Universidade de Notre Dame, Indiana, Estados Unidos, em embalagem própria e foram transferidos assepticamente para os isoladores. Mesmo assim, aconteceu e ainda acontece que, vez por outra, se perde a colônia de animais devido à contaminação dos isoladores. Acidentes desse tipo ocorrem em todos os laboratórios de Gnotobiologia no mundo e, então, novas matrizes têm de ser importadas, geralmente dos Estados Unidos e da França.

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Para evitar os entraves burocráticos desse processo, o que fazíamos era declarar que os animais vinham como doação. Na verdade, o que acontecia é que os pesquisadores arcavam, pessoalmente, com as despesas: custo dos animais e transporte. Há alguns meses, perdeu-se novamente a colônia. Mas, desta vez, os pesquisadores, com seus salários aviltados, não puderam financiar os custos. Tentou-se a importação pelas vias normais, mas houve dificuldades decorrentes das exigências do Banco Central. Tratava-se de trazer camundongos isentos de germes da Charles River Laboratories Incorpodated. De Massachusetts, EUA. No valor total de U$$ 842,11.

Entretanto, esbarrou-se em uma taxa consular que montava a U$$ 100,00. É preciso ressaltar que Charles River é, talvez, a maior empresa produtora de animais de laboratório no mundo. Tem reputação de seriedade e competência reconhecida mundialmente por todos os cientistas que lidam com experimentação animal. A conseqüência desse zelo do Banco Central em relação a uma despesa em dólar tão pequena é que os pesquisadores agora terçai de conseguir os camundongos isentos de germes por meio de cesariana, retirando-se o útero da fêmea antes dela parir (a gestação dura 21 dias: a cirurgia se realiza no 20° dia). Então, ele é introduzido assepticamente no isolador.

Os filhotes – cada um pesando cerca de 1 grama – são estimulados e daí em diante alimentam-se de duas em duas horas por uma sonda que atinge o estômago. Isto representa um plantão contínuo de 24 horas durante pelo menos vinte dias, quando os animais já se alimentarão sozinhos. Espera-se que o zelo com os gastos em dólares que o Banco Central está demonstrando seja extensivo àqueles feitos com as viagens presidenciais ao exterior que já chegam a quase duas dezenas em menos de dois anos de governo. É lamentável que se criem tantas barreiras burocráticas para a simples importação de animais sanitariamente sadios e que, ao mesmo tempo, se facilitem a compra de cartões de crédito internacionais e a importação de todos os tipos de bens. É essa a maneira de se ingressar no primeiro mundo.

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