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Dois terços dos cânceres podem ser obra do acaso

Pesquisa recente diminui papel de hábitos alimentares e de fatores hereditários - os maiores culpados seriam "erros de digitação" do DNA

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 Maio 2018, 20h05 - Publicado em 27 mar 2017, 20h19

Largue o cigarro. Corte a cerveja. Não vá à praia sem filtro solar. Saia do sofá e dê um jeito nos seus hábitos alimentares. Essa lista genérica de boas atitudes para a prevenção do câncer sem dúvida fará bem para a sua saúde – segundo a Nature, 42% dos tumores poderiam ser evitados com recomendações óbvias, e regiões como a boca, a garganta, a pele e os pulmões são especialmente suscetíveis ao seu comportamento e ao ambiente em que você vive.

Feita a ressalva, o fato é que mais da metade dos casos de câncer ainda são obra do mero acaso – um dos árduos trabalhos do material genético que está no núcleo das suas células é criar cópias de si mesmo durante a divisão celular, e se um pequeno “erro de digitação” mudar a ordem das bases nitrogenadas do DNA, o resultado será uma célula mutante com potencial para se multiplicar e virar um tumor. Tudo por acidente.

Usando simulações de computador e modelos matemáticos, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins calcularam com que frequência é realmente possível atribuir erros fatais na divisão celular aos vícios, hábitos e questões hereditárias do primeiro parágrafo – e não aos acidentes mencionados no segundo. E descobriram que todo cuidado é realmente pouco: mais de dois terços dos problemas no código genético são aleatórios. Os resultados estão na Science.

“Pense nas mutações como inimigos. Se todos eles estão do lado de fora dos seus muros, é óbvio o que você deve fazer para evitar que eles entrem”, explicou à imprensa Bert Vogelstein, co-autor do estudo. “Mas se muitos de seus inimigos – nesse caso, algo próximo de dois terços – estão dentro das suas fronteiras, então você precisa de uma estratégia completamente diferente.” A estratégia, no caso, é investir cada vez mais em diagnóstico precoce do problema. Afinal, se o ataque é imprevisível, a solução é ficar de sentinela. 

As conclusões foram baseadas em dados de 32 variedades da doença, coletados em 69 países. Segundo os pesquisadores, até 95% dos tumores em órgãos como o cérebro, os ossos e a próstata podem ser atribuídos à sorte, mas o número cai no caso dos pulmões, em que só 35% dos casos são acaso. Foi a média das análises de cada variedade da doença que fez a balança pender para as mutações aleatórias – 66% da participação, contra 29% dos tumores atribuídos aos fatores ambientais e 5% aos hereditários. A descoberta vai na contramão de boa parte da literatura médica e científica da última década.

Foram feitas críticas à simplificação excessiva desse diagnóstico. Consultado pela Nature, o pesquisador Yusuf Hannun, do Centro de Câncer Stony Brook, em Nova York, afirmou que é fácil calcular a influência de comportamentos particulares, como tabagismo, sobre as mutações, mas que a exposição à poluição do ar, por exemplo, pode ter um papel passivo mais difícil de quantificar. Outros pesquisadores consideram que a polarização do debate sobre as causas do câncer é benéfica, pois o esforço de provar uma ou outra versão faz a pesquisa se afastar de consensos e buscar cada vez mais conhecimento sobre a doença.

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