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Espaço fúnebre: estrela abortada gira em torno de estrela morta

As duas estrelas – uma prestes a se apagar e outra que nunca chegou a acender – giram uma em torno da outra a 100 quilômetros por segundo

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
9 jun 2017, 20h12

O espaço sideral pode ser lindo – as fotos do Hubble são a prova disso –, mas às vezes ele deixa seu lado fúnebre aflorar. E aí fica triste para valer.

Pesquisadores liderados por Saul Rappaport, do MIT, descobriram um sistema estelar binário em que uma anã-marrom, espécie de aborto de estrela, está girando por aí com uma anã-branca, ou seja, uma estrela morta. O período orbital dos objetos – que dão voltas um em torno do outro, como um cachorro que corre atrás do próprio rabo – é de meras 72,1 horas. A velocidade é de 100 quilômetros por segundo, rápido o suficiente para atravessar o Atlântico, do Brasil até a a costa africana, em mais ou menos um minuto.

No artigo científico, eles revelam que a massa da anã-marrom é cerca de 6,7% do Sol – mais ou menos 67 vezes a massa de Júpiter. A anã-branca, por sua vez, tem 40% da massa da nossa estrela. Em outras palavras, elas são objetos de pouquíssimo brilho, mas muito maiores que nosso planeta, em uma órbita mútua de velocidade impensável. Será que o suficiente para levar uma multa? Para detectar essa infração de trânsito cósmica foi necessário cruzar os dados de cinco telescópios terrestres localizados em três continentes diferentes – o radar mais complicado da história.

Anã-branca é o último estágio de vida de qualquer estrela pequena. Esse será o destino do Sol e de 98% dos outros pontinhos de luz que vemos no céu – pouquíssimas estrelas são grandes o suficiente para evitar esse desfecho e explodirem em supernovas, um evento astronômico completamente diferente que você pode entender melhor aqui.

A aparência de uma anã-branca é a de um pequeno núcleo, formado predominantemente por oxigênio e carbono, que retém bastante calor. Ao longo de milhões de anos, porém, sem nenhum combustível para aquecer esse coração, ele esfria até desaparecer.

Já as anãs-marrons são anomalias misteriosas, uma espécie de meio termo entre um planeta gigante gasoso (como Júpiter) e uma estrela de verdade. Elas surgem quando a massa de um corpo celeste que é um sério candidato a virar estrela não é suficiente para ele iniciar a fusão do hidrogênio em seu núcleo. Imagine que você espetou uma lâmpada na tomada mas ela não acendeu – é mais ou menos por aí. O resultado é um imenso aborto, com características um pouco diferentes das de um planeta que não tentou subir na vida – entenda melhor aqui.

A anã-branca em questão já era conhecida da ciência: atendia pelo belo nome de WD1202-024. Até agora, para todos os efeitos, ela era só uma estrela morta isolada, sem nada de particularmente interessante. A equipe de Saul Rappaport percebeu que um vulto desconhecido “tapava” uma fração de sua luz tênue em intervalos regulares, e suspeitou de um exoplaneta. Na verdade, era algo maior: a anã-marrom.

“É um modelo robusto, mas nós ainda precisávamos descobrir o que tinha acontecido, como esse sistema se formou e qual será seu destino no final das contas”, afirmou Nelson, membro da equipe do astrofísico, à imprensa. Em outras palavras, essa é uma situação muito, muito estranha, e sua explicação deve ser igualmente exótica para fazer sentido.

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Os pesquisadores concluíram que o sistema, há 3 bilhões de anos, era formado por uma estrela comum, com 1,25 vezes a massa do Sol. A anã-marrom (que sempre foi uma anã-marrom) estava na órbita dessa estrela como um planeta um pouco grande demais, mas tão obediente quanto Júpiter. Seu período orbital era de 150 dias, um pouco menos da metade de um ano terrestre – uma velocidade comum, bastante aceitável.

Com o tempo, tudo mudou: próxima de sua morte, a estrela principal inchou – um estágio chamado gigante-vermelha – e engoliu a anã-marrom da mesma forma que o Sol um dia engolirá a Terra. Conforme baixava a poeira da explosão e a gigante-vermelha virava a anã-branca que conhecemos hoje (morta), a anã-marrom, que emergiu das cinzas após ser engolida, foi se aproximando do núcleo da antiga mãe. Chegou perto o suficiente para alcançar o período orbital de 72,1 h verificado pelo MIT, e assim nasceu a situação atual.

Triste, não? Pior é o desfecho. Elas não desistiram de se aproximar, e chegarão tão perto uma da outra que eventualmente a anã-branca começara a canibalizar a estrela abortada, bem menor. As duas se tornarão uma só, para sempre. Como já diriam as Spice Girls, 2 become 1.

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