Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Lobo-Cinzento: Tudo em família

Um lobo só não é quasenada - na alcatéia, abate presasdez vezes maiores que ele

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 31 mar 2005, 22h00

Carolina Salles

Ele está sempre em algum lugar por perto, mas odeia encontro cara a cara. Prefere agir à noite, quando são menores as chances de ser pego em flagrante delito. No escuro, o lobo invade o território dos humanos e mata animais indefesos, como cordeiros e galinhas. Os uivos chorosos são o sinal de que o predador invisível está próximo. Quando o fazendeiro finalmente chega à cena do crime, só encontra penas e sangue. Esse comportamento de caça fez o estigma do lobo-cinzento, o maior e mais numeroso dos lobos: sorrateiro, desleal, quase sobrenatural na capacidade de matar e sumir. Deu origem a lendas de terror e detonou uma perseguição que quase acabou com a espécie.

O oportunismo não passa de uma estratégia de sobrevivência do lobo, animal que, se não tem o porte e a força de um leão, é inteligente o bastante para avaliar custos e benefícios nas caçadas. Mas só vai atrás de frangos quando a coisa realmente aperta – entre eles e um animal maior, como um alce, o lobo geralmente fica com o segundo. É mais vantajoso abater um jantar que dê para toda a família.

E a ajuda dos parentes – a alcatéia – é essencial no momento de encarar presas tamanho família. Um lobo-cinzento dificilmente atinge os 50 quilos – e sozinho nunca teria chances frente a um alce com dez vezes o seu peso e 2 metros de altura. “Na maioria das vezes, apenas um ou dois lobos realmente matam a presa, mas é correto dizer que todos os animais participam da caçada, porque todos ajudam a amedrontar e a cansar a vítima”, diz o biólogo Marco Musiani, da Universidade de Roma, Itália.

Tudo na vida lupina gira em torno da alcatéia. Elas são compostas de seis a oito indivíduos, em média. “Mas existem alcatéias de até 20 lobos, e outras de apenas dois”, afirma Marco. Independentemente do número de lobos que formam uma alcatéia, uma coisa é certa: em todas elas há uma rigorosa hierarquia. Os pais são os animais dominantes (os “alfa”), e usam linguagem corporal – andar com o rabo levantado, por exemplo – para indicar seu poder. Apenas eles podem se reproduzir dentro da alcatéia. São eles que lideram as caçadas, que demarcam o território e que ficam com os melhores pedaços das presas abatidas. E também são eles que tomam a dianteira em caso de terem de defender uma presa recém-abatida de alguma alcatéia rival.

A caçada em grupo requer planejamento. Primeiro, a alcatéia localiza a presa e se aproxima silenciosamente. Então, quando todos já estão próximos o suficiente e a presa já percebeu o ataque iminente, começa uma frenética perseguição, em que os lobos podem correr a uma velocidade de até 56 km/h. Quando estão prontos para atacar, cravam seus longos e afiados caninos geralmente no traseiro, flanco, ombros, pescoço ou nariz da presa. Depois de abatê-la, é hora de encher o estômago. No lobo, esse órgão pode armazenar cerca de 10 quilos de alimento para ser digerido depois – uma vantagem considerável, já que em ambientes selvagens nunca se sabe quando virá a próxima refeição. “Na natureza, um lobo se alimenta cerca de uma vez por semana,” diz Marco Musiani.

Continua após a publicidade

Lobos são animais territoriais e estabelecem suas fronteiras com marcas de urina e fezes. Geralmente, eles conhecem muito bem seu pedaço de terra, que pode variar de 40 quilômetros quadrados a mais de 1 000 quilômetros quadrados. De tempos em tempos, percorrem-no para monitorar a oferta de potenciais vítimas. Um animal pode rondar até 50 quilômetros em um único dia. Ele é equipado para viagens longas: tem pernas compridas e patas largas, que o ajudam a se locomover na neve, e coração e pulmão grandes.

Outros órgãos cruciais são o nariz e os olhos. O olfato de um lobo, cerca de 100 vezes mais apurado que o nosso, permite que o animal fareje presas a até 5 quilômetros de distância. Basta um ínfimo traço de odor no ar para que o lobo consiga identificar sua possível vítima e ainda ter noção das condições de saúde dela. Além disso, um lobo enxerga tão bem à noite quanto de dia. “Suas retinas têm uma quantidade maior de células adaptadas à visão noturna”, diz o biólogo Marco. Uma camada espelhada na retina reflete toda a luz disponível de volta para o olho. E sua visão periférica é sensível a movimentos repentinos.

Um incrível senso de oportunidade soma-se aos sentidos afiados do lobo. A caçada é facilitada pela escolha minuciosa da vítima, quase sempre vulnerável. A astúcia do lobo o leva aos doentes, aos feridos, aos velhos, aos filhotes. O que é bom até para as vítimas: ao matar os fracos, os lobos contribuem para uma população mais saudável de presas.

É no fim do inverno que os lobos têm mais facilidade para encontrar essas vítimas vulneráveis. A piora nas condições do tempo faz com que elas encontrem menos alimento e fiquem mais fracas – uma vantagem para o predador. A temporada de caça também é boa durante o verão, quando nascem os filhotes das presas preferidas dos lobos – que não são humanos. “A maior parte das pessoas tem muito medo de lobos. Isso é uma atitude irracional”, afirma Marco Musiani. Ataques de lobos a pessoas são acontecimentos muito raros – mas ocorrem. Entre abril de 1993 e abril de 1995, eles invadiram repetidamente 63 aldeias no estado de Bihar, na Índia, e arrastaram 80 pessoas da cama para a floresta. Apenas 20 foram resgatadas. Como fazem com outros animais, os lobos preferiram atacar filhotes: 90% das vítimas eram crianças.

Sem caniço nem saburá

Lobos não são exatamente grandes pescadores, mas seu oportunismo não tem limites. Em 2002, observaram-se lobos-cinzentos capturando salmões nas regiões costeiras da Colúmbia Britânica, no oeste do Canadá. O biólogo Chris Darimont, na época um estudante da Universidade de Victoria, passou meses no arquipélago de Bella Bella estudando esse comportamento inusitado. Ele observou como os lobos caçam salmões: posicionam-se à beira da correnteza e, de repente, com um só golpe, agarram o peixe com a boca. Em uma única noite, uma alcatéia capturou nada menos que 200 salmões. O biólogo também observou lobos se alimentando de mexilhões e mariscos.

Continua após a publicidade

Fatos selvagens

Nome vulgar

Lobo-cinzento

Nome científico

Canis lupus

Dimensões

Continua após a publicidade

Até 2,1 metros de comprimento (do focinho à ponta da cauda) e 1 metro de altura

Peso

Até 50 quilos

Principais armas

Seus longos e afiados dentes caninos, além da caça em grupo

Continua após a publicidade

Comportamento social

O lobo costuma viver em grupos compostos geralmente por seis a oito indivíduos

Ataques a humanos

São raros. No entanto, podem acontecer, como os de Bihar, Índia

Quanto come

Continua após a publicidade

Cerca de 1 quilo por dia

Expectativa de vida

Em ambientes selvagens, lobos vivem entre 6 e 8 anos. Em cativeiro, esse número aumenta para até 20 anos

Dieta

Cervos, alces, veados, caribus, bisões, renas, búfalos, castores, coelhos

Principais inimigos

Ursos grizzly

Se você encontrar um

Não o alimente nem tente chegar perto. Se ele se mostrar agressivo ou se aproximar demais de você sem demonstrar medo, levante os braços e os agite no ar, para fazer com que você se pareça maior do que é. Afaste-se lentamente, sem dar as costas ao animal

Para saber mais

Na livraria

The Wolf Almanac – Robert H. Bush, Lyons Press, EUA, 1998

Wolves – Behavior, Ecology and Conservation – L. David Mech e Luigi Boitani, University of Chicago Press, EUA 2003

Nas bancas – DVD

Território Selvagem – Lobo – Documentário produzido pela BBC e lançado no Brasil pela revista Super (à venda em abril)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.