Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Loucos por uma pirambeira

Pedalando uma bicicleta incrementada, elesse atiram morro abaixo sem medo de ser feliz. São ospraticantes de downhill, que virou febre entre os que buscam a natureza e, claro, muita emoção.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h12 - Publicado em 31 out 2003, 22h00

Mariana Sgarioni

Quem não tem neve esquia na terra. E quem não tem esqui desce o morro de bicicleta. Ganha quem chegar primeiro. O downhill, filhote do bicicross, apareceu para o mundo quando, nos anos 70, alguns americanos da Califórnia, chateados pela falta de neve, tiveram exatamente essa idéia. Eles foram os responsáveis por divulgar o prazer que proporciona a ação de despencar de bicicleta ladeira abaixo. Tanto que, 30 anos depois, o esporte tomou forma e ganha ares de profissionalismo. O número de adeptos não pára de crescer, deixando animados os fabricantes de equipamentos para bicicletas. Para se ter uma idéia, em 1999, a Federação Paulista de Ciclismo contava com apenas 18 atletas de downhill cadastrados. Hoje eles já somam 490.

Segundo a Abraciclo (Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas e Bicicletas), o segmento já representa 30,6% da produção nacional de bicicletas. “O que antes era considerado uma brincadeira dos ciclistas se tornou uma mania”, diz João Diogo, diretor de downhill da Federação Paulista de Ciclismo. O mercado anda tão próspero que uma nova profissão apareceu: o personal biker. A professora de educação física e ciclista inveterada Ana Beatriz Arthur, 32 anos, já aderiu à onda. Seus clientes têm fixação pelas montanhas. “O esporte é adrenalina pura”, afirma Beatriz. “Precisa ter muita coragem para se soltar naqueles morros. Não é sempre que eu topo ir com eles.”

Downhill significa “descida de morro”, em inglês. Os competidores percorrem trajetos em declive, de preferência cheios de buracos, pedras, troncos – quanto mais obstáculos naturais, melhor. Com distâncias que variam de 1,5 a 4 quilômetros, os atletas descem o morro um por vez, a cada minuto. Quem levar menos tempo para chegar lá em baixo é o vencedor. Normalmente, as provas duram de dois a quatro minutos e os ciclistas podem atingir velocidades de até 90 quilômetros por hora. “É comum ver gente estourando a bicicleta e se machucando, principalmente os iniciantes”, conta o catarinense Markolf Berchtold, 23 anos, primeiro lugar no ranking brasileiro.

Ferir-se pode ser lamentável, mas arrebentar a bicicleta também dói – sobretudo no bolso. O downhill é um esporte caro: os equipamentos para compor uma bicicleta que agüente a descida tortuosa e ajude na briga contra o relógio conta com tecnologias de ponta. Suspensões calibradas a hidrogênio, quadros de titânio, peças usadas em Fórmula 1 ou em aeronaves e até desenvolvidas pela Nasa fazem parte do cardápio de uma bike montada para downhill. No fim das contas, uma “máquina” dessas chega a custar 10 mil dólares – mais do que um carro popular. “Colocar um equipamento novo e mais moderno significa aumentar a performance da bicicleta na competição. Por isso, é um investimento”, diz Luciano “Kdra” Lancellotti, 35 anos, ex-campeão brasileiro e paulista, considerado uma referência quando o assunto é downhill. Quem compra uma bicicleta dessas age como se estivesse numa loja de computadores: escolhe o que quer e os especialistas configuram o modelo. A bike de “Kdra”, por exemplo, com todos os acessórios, vale cerca de 17 mil reais – e ele não se importa nem um pouco em colocar todo esse dinheiro na quebradeira. “Não consigo ficar um dia sem andar de bicicleta. É um vício.”

ATRAÇÃO PELAS MONTANHAS

Continua após a publicidade

O vício de andar de bicicleta pode até ser o primeiro passo para chegar ao downhill. Mas não é determinante. A idéia da maioria dos adeptos é levar sua bike para bem longe dos centros urbanos, onde geralmente moram. “Não vejo graça em pedalar à noite, no asfalto, como muita gente faz”, diz a engenheira Claudia Clément, ciclista de downhill desde 1999. “Quero terra, natureza. Preciso vencer a montanha, esse é o barato.” O campeão Markolf Berchtold concorda. “Existem várias pistas sendo construídas na cidade, mas não acho que isso vá dar certo. Do que a gente mais gosta são trilhas acidentadas no meio do mato.”

Segundo Katia Rubio, psicóloga do esporte e professora da Universidade de São Paulo (USP), o fenômeno do downhill pode ser explicado justamente por uma busca pela natureza, realidade distante de quem vive nos grandes centros urbanos. “São pessoas com alto poder aquisitivo, habituadas a ultrapassar limites na sua vida cotidiana”, diz Katia. “Vencer a grandiosidade da montanha significa sobrepor-se à natureza. Para essas pessoas, esse é um último obstáculo a superar.” A engenheira Claudia admite que adora quando, no escritório, aparecem aqueles projetos bem cabeludos, o que considera verdadeiros desafios. “O downhill é um esporte individualista e muito mental”, diz Claudia. “Antes de fazer um bom salto, você precisa pensar, se concentrar. Se a cabeça não estiver no lugar, você se machuca.”

 

A bike turbinada

O que uma bicicletaprecisa ter (no mínimo) paraencarar uma ladeira

A- Pneus mais largos e antifuros (largura de 2.1 a 2.8)

São mais difíceis de escorregar, além de ajudar no amortecimento.

Continua após a publicidade

Preço: de R$ 80 a R$ 150

B- Guia de corrente

Segura a corrente para que ela não caia durante a descida.

Preço: de R$ 300 a R$ 800

C- Quadro com suspensão traseira e suspensão dianteira

Continua após a publicidade

As duas suspensões juntas amortecem melhor o impacto em obstáculos.

Preço: de R$ 3 mil a R$ 5 mil (quadro com suspensão traseira) e de R$ 1 000 a R$ 3 mil (suspensão dianteira)

D- Freios a disco

São mais eficientes e menos duros. Por isso, não cansam tanto as mãos.

Preço: de R$ 800 a R$ 1 000

Continua após a publicidade

E- Guidão mais alto

Ele deve estar levemente inclinado para cima, de forma que o peso do corpo fique pendendo mais para a roda de trás. Isso reduz o risco de quedas ao descer a trilha.

Preço: de R$ 50 a R$ 250

 

Duros na queda

Os primeiros passospara quem quiser descer aladeira e chegar inteiro

O downhill não é para qualquer um. Embora ainda não existam escolas especializadas em ensinar a modalidade – por enquanto, a natureza tem sido a melhor professora -, o competidor que se arrisca na montanha precisa ter muito domínio sobre a bicicleta para descer a ladeira rápido e chegar lá embaixo inteiro. De acordo com o ciclista Luciano “Kdra” Lancellotti, o ideal para quem se sente atraído pela modalidade é começar praticando em descidas não muito inclinadas. Barrancos em praças públicas são bons lugares para iniciar os treinos. O mais importante é não deixar de usar material de proteção, como luvas, joelheiras e capacete fechado, iguais aos de motocross. No meio do mato, é necessário acrescentar a essa lista um colete.

Continua após a publicidade

Outra coisa: se a descida for um pouco mais longa, é preciso, em primeiro lugar, saber controlar bem a velocidade. A dica dos experts é: aprenda a usar corretamente o freio e nunca pratique downhill sozinho, pois, em caso de acidente, você pode se complicar no meio do mato. E mais: não deixe a roda travar; freie firme e constantemente a roda dianteira enquanto desloca todo o seu peso para a parte traseira. Depois disso, é só procurar a trilha mais próxima e entrar em sintonia com as montanhas.

 

Serviço

SAIBA MAIS

O link Biking (www.webventure.com.br) traz as últimas notícias e dicas de trilhas.

Informações sobre downhill e ciclismo em geral (www.sampabikers.com.br).

O link Ciclismo (www.ativo.com dá os principais eventos da categoria.

Últimas notícias, classificados, dicas de modelos de bikes e de manutenção (www.pedal.com.br).

EQUIPAMENTOS BÁSICOS

Uma bicicleta pronta e turbinada custa no mínimo US$ 5 mil e pode chegar a US$ 20 mil. Onde encontrarBike Tech Jardins (www.biketechjardins. com.br), rua da Consolação, 3 344, São Paulo. Tel. (11) 3891-2290.

Pedal Power (www.pedalpower.com.br), rua Baluarte, 672, Vila Olímpia, São Paulo. Tel. (11) 3040-4800.

Tutto Bike (www.tuttobike.com.br), avenida Pompéia, 787, Pompéia, São Paulo. Tel. (11) 3872-5505.

DICAS DE ALIMENTAÇÃO

O nutricionista Daniel Percego, presidente da Toadd Consultoria e especializado em nutrição esportiva, aconselha incluir no cardápio diário: carboidratos em todas as refeições (massas, pães integrais, arroz integral, batata); vitamina C de frutas úmidas (laranja, mamão, morango); vitamina E, contida no azeite de oliva; selênio, contido na castanha-do-pará, por ser um antioxidante; iogurtes e queijos frescos, fontes de proteínas e cálcio, fundamentais para a saúde óssea e contração muscular.

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.