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Memória – Parte 2 – Toda a informação do universo

Nossos 100 bilhões de neurônios são suficientes para guardar todas as informações que existem. Ou, no mínimo, bem mais do que você acha possível. Veja por quê

Por Gisela Blanco
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 5 fev 2011, 22h00

Mesmo que nem sempre funcione tão bem quanto deveria (ou você gostaria), a sua cabeça é uma máquina de fazer memórias. Em 2003 o matemático chinês Yingxu Wang, professor da Universidade de Calgary, no Canadá, publicou um estudo em que tenta medir a memória humana. Já que o nosso cérebro guarda as lembranças por meio de conexões temporárias, permanentes ou semipermamentes entre os neurônios, Wang teve a ideia de contar o número de ligações possíveis – e dar a cada uma delas o valor de 1 bit, a menor unidade de informação digital. Fazendo essa conta, ele concluiu que os nossos 100 bilhões de neurônios são suficientes para armazenar cerca de 108 432 bits de memória. É uma quantidade inacreditável: o número 1 seguido de 8 432 zeros. Um infinito. “Mesmo somando todas as informações contidas na internet, ou todos os elementos físicos do Universo, não é possível alcançar esse número”, afirma Wang. Esse resultado é puramente matemático, e não leva em conta as limitações biológicas do cérebro – na prática, nem todos os neurônios conseguem trabalhar em conjunto, e é por isso que você não consegue levar a web inteira gravada na cabeça. Mas provavelmente tem muito mais espaço livre aí dentro do que você imagina.

Uma experiência recente provou que nossa memória visual, por exemplo, é incrivelmente potente. Ao longo de 4 horas, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) pediram que voluntários tentassem memorizar 3 mil imagens de objetos comuns – pratos, bolsas, controles remotos… coisas como as que você (não) vê na página ao lado. Elas apareciam numa tela, uma de cada vez, e sumiam alguns segundos depois. No fim da experiência, os cientistas perguntavam às pessoas quais objetos elas tinham visto. O índice de acerto foi incrível. Em média, as pessoas se lembraram de 2 700 imagens, com um nível de detalhes surpreendente para esse oceano de informações (recordavam se a foto 1 368, por exemplo, era de uma torradeira com uma ou duas fatias de pão). E os voluntários eram pessoas comuns, sem nenhum tipo de habilidade especial. Se eles conseguem memorizar 2 700 objetos, você deveria se lembrar de onde deixou os óculos, não é mesmo? Respire fundo, se concentre, limpe sua mente dos pensamentos… E responda: conseguiu mesmo se concentrar? Se você mora num centro urbano, provavelmente não.

Cientistas da Universidade de Michigan recrutaram 38 voluntários e os dividiram em dois grupos: metade foi passear num parque e a outra foi andar pela cidade. Depois, todos passaram por vários testes de memória. Quem andou pela cidade teve desempenho até 70% pior. Os objetos, sons, placas e pessoas que você vê todos os dias sobrecarregam a sua memória – mesmo quando estamos, pelo menos conscientemente, prestando atenção neles. Não quer se mudar para o campo? Simplesmente observar imagens da natureza (num quadro ou foto, por exemplo) durante alguns minutos por dia já é o suficiente.

O próximo passo para melhorar a memória é não fazer nada. Fácil, né? É que o cérebro precisa ficar ocioso para consolidar as lembranças. Em 1958, o físico Louis Sokoloff observou o cérebro de pacientes enquanto eles resolviam um problema matemático e depois enquanto descansavam, de olhos fechados. Ele queria medir a diferença de consumo de oxigênio nos dois casos. Mas se espantou com o resultado: o consumo era igual. Isso porque quando estamos descansando, sem pensar em nada, o cérebro começa a executar uma série de tarefas – entre elas, consolidar as memórias.

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E, já que você não está fazendo nada, que tal uma birita? Um estudo da Universidade de Oxford indica que o vinho, em vez de ajudar a esquecer, pode melhorar a memória – beber uma taça por dia melhora o desempenho em certos testes de memória. “Os efeitos vêm dos flavonoides, que também podem ser encontrados no chocolate e no chá”, afirma o coordenador da pesquisa, David Smith. Só não se empolgue, pois estudos recentes mostram que, quanto maior a quantidade de açúcar no sangue, pior a capacidade de memorização – reduzir em 30% o consumo de calorias torna a memória 20% mais potente.

Essa teoria também explica uma das principais características do envelhecimento: a incapacidade de se lembrar de coisas recentes. Neurologistas da Universidade de Columbia concluíram que o declínio da memória a partir dos 40 anos está ligado à perda da nossa capacidade de regular os níveis de glicose no sangue. Antes que você se esqueça de tudo isso, é bom repensar a dieta ou pelo menos começar a malhar, já que a prática de exercícios físicos ajuda a queimar glicose. “Fazer 30 minutos de exercícios aeróbicos por dia já é o suficiente para beneficiar a memória”, afirma a neurocientista Gayatri Devi, da Universidade de Nova York. Exercício é bom para a cabeça, e todo mundo deveria fazer – inclusive a sua mãe. Um estudo da Universidade de Boston descobriu que as ratinhas de laboratório mais atléticas geram filhotes com mais memória. Agora que você já nasceu, não adianta colocar a sua mãe para malhar. Mas é uma boa desculpa para quando ela reclamar que você não se lembra de alguma coisa.

Músculos da mente

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Todo mundo sabe que a memória precisa ser malhada. Mas só recentemente a ciência entendeu o verdadeiro porquê: ela realmente é, de certa forma, um músculo. O fortalecimento das conexões entre os neurônios, processo que forma as memórias no nosso cérebro, depende de uma proteína chamada miosina-5b – muito parecida com outra proteína, a miosina, que dá força para os músculos do corpo. Da mesma maneira que puxar ferro faz os braços crescer, trabalhar a memória a deixa mais forte.

Só que, na prática, nós a exercitamos cada vez menos. Em vez de decorar telefones, você guarda na agenda do celular. Quando encontra um site legal, nem se preocupa em memorizar o endereço – quando quiser voltar a ele é só digitar no Google, né? Você nem precisa se lembrar do horário dos programas de TV, pois pode baixá-los ou ver no YouTube na hora em que quiser. E por aí vai. Quando a tecnologia não está à mão e precisamos da memória, apelamos para uma série de truques. O mais comum é repetir uma informação várias vezes, fortalecendo as conexões entre os neurônios até ela grudar na cabeça. Ou as técnicas mnemônicas, que envolvem associações de palavras e foram inventadas na Grécia antiga – o termo vem de Mnemosyne, deusa da memória na mitologia grega. Uma das dicas é associar os itens de uma lista de coisas que você tem que lembrar. Se você precisa ir ao supermercado comprar lâmpadas, tomates, mel e xampu, por exemplo, pense numa lâmpada em formato de tomate que derrama mel no seu cabelo quando acende. É meio esquisito (e nojento), mas ajuda. Já para não esquecer telefones ou senhas, você pode atribuir significados aos números ou até apelar para a sua memória visual.

Imaginar o 22 como dois patinhos, o 5 como um senhor barrigudo e o 7 como uma girafa, por exemplo. Vale até inventar uma musiquinha com as informações. Acontece que, como você já deve ter percebido, essas técnicas não são lá muito eficazes – em boa parte dos casos, continuamos esquecendo. É como tentar levantar um peso sem ter preparo físico para isso: você até consegue, mas acaba deixando cair. O segredo é exercitar as funções mentais um pouquinho todos os dias, para deixar sua memória preparada. Segundo cientistas da Universidade de Michigan, os benefícios começam a aparecer depois de 12 dias. Faça os exercícios abaixo. E lembre-se de outra coisa. “Quando me perguntam o que fazer para melhorar a memória, sempre respondo: ler. Não há nada melhor”, afirma o neurologista Ivan Izquierdo. É que, quando você lê um texto, seu cérebro usa intensamente a memória – para entender o que está escrito, ele precisa consultar uma enorme quantidade de informações guardadas na sua cabeça.

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Técnicas para bombar
Exercícios cientificamente comprovados para fortalecer a memória

Velocidade da memória

1. Pense nos dias da semana e fale os nomes deles em ordem inversa (começando pelo sábado). Repita esse exercício até dominá-lo. Depois, recite os nomes em ordem alfabética.

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2. Faça esses mesmos exercícios (ordenar inversa e alfabeticamente) com os nomes dos 12 meses do ano.

Memória episódica

1. Anote todos os detalhes sobre determinado acontecimento (a cor da roupa que você usou numa festa, por exemplo). Sete dias depois, relembre esse evento e faça novamente uma descrição dele. Compare os dois textos e assinale as diferenças. Repita o exercício, com outros eventos, até minimizar o seu grau de erro.

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Nomes e endereços

1. Transforme endereços em símbolos. Exemplo: a rua Maestro Torquato Amore vira uma nota musical, um 4 inclinado e um coração.

2. Feche os olhos e pense em alguém. Mentalize a imagem dessa pessoa – com o nome escrito na testa dela, como se fosse uma tatuagem. Repita esse processo com todas as pessoas que você conhece.

Memória visual

1. Observe o ambiente onde você está e imagine uma linha diagonal que o atravessa. Feche os olhos e tente se lembrar dos objetos que passam por essa linha imaginária.

2. Olhe ao redor e ache 5 coisas que caberiam no seu bolso – e 5 que não caberiam. Feche os olhos e tente se lembrar de cada uma.

Para saber mais
Memória, da Mente às Moléculas

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