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O fim do espirro

O frio está chegando e, junto com ele, a tosse e a febre. Mas alegre-se: este é o último inverno em que seu corpo terá que lutar sozinho contra a invasão da gripe. Novas drogas estão a caminho para acabar com a festa do vírus.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h33 - Publicado em 30 abr 1999, 22h00

Ivonete D. Lucírio

Primeiro vem a indisposição, depois o nariz fica irritado e aparece a dor muscular. Quem está gripado sente-se como se alienígenas estivessem tomando conta do seu corpo e não pudesse fazer nada para impedir. Se o próprio organismo não acionar suas células de defesa, as hordas do vírus da gripe, chamado influenza, passam do ar para o pulmão e, em questão de minutos, invadem o sistema respiratório.

É claro que você pode se prevenir tomando vacina. Mas, pela primeira vez, temos aliados para enfrentar os microbandidos depois que eles atacam. São duas substâncias, uma conhecida como zanamivir e a outra, pela sigla GS4101, capazes de evitar que o influenza se multiplique (veja como no infográfico). Na década de 70, houve outras tentativas de parar a gripe, mas as drogas da época não conseguiram eliminar os invasores. Pior: causaram dor de cabeça e tontura.

Os novos medicamentos superaram os problemas. “Eles vão ajudar na cura do mal e ainda podem evitar complicações, como a pneumonia”, afirma André Vilela Lomar, presidente da Associação Panamericana de Infectologia, em São Paulo. No início do próximo ano, as drogas devem estar nas farmácias em comprimidos ou spray. Então, se, no mês que vem, você se sentir indefeso com o frio, console-se. No inverno seguinte, a Medicina já estará ao seu lado.

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O vírus da gripe não é o culpado por tudo

Nem todo espirro leva você para a cama. Às vezes, o mal não vai além da coriza e do nariz entupido. Se é assim, o influenza é inocente. O que você tem não é gripe, mas um resfriado. Gripe e resfriado são coisas diferentes. No resfriado, a causa não é o influenza, mas outros vírus. Aliás, muitos outros: cerca de 200, todos parentes entre si e com o mesmo nome – rinovírus. Menos agressivos, eles não atacam como a gripe. Por isso, recebem menos atenção dos pesquisadores de remédios.

Se alguém quisesse achar um antídoto, teria até uma pista para seguir. Em 1986, cientistas americanos descobriram que os rinovírus se prendem à mucosa nasal graças a uma molécula chamada Icam-1. Se ela fosse neutralizada, eles passariam direto pelo nariz e não poderiam invadir a célula. “Já se investiga o uso da mesma estratégia antiaderente contra germes da asma”, conta o pneumologista Kennedy Kirk, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

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Geração da pesada

Só que, neste momento, as atenções se voltam mais que nunca para a gripe porque espera-se uma epidemia séria em breve. A suspeita provém da habilidade do vírus de se transformar. “De tempos em tempos, ele passa por grandes mutações”, adverte André Vilela Lomar. As mudanças radicais aparecem depois que o vilão invade animais como porcos e galinhas. Aí, a nova geração volta para o homem com uma cara quase irreconhecível para o sistema imunológico. E pega o nosso exército de anticorpos de surpresa.

Sabe-se que o ataque é iminente, mas ele não tem data certa. O organismo agradeceria se viesse só no ano que vem, quando as novas drogas contra o influenza já estiverem nas prateleiras. Mas ninguém sabe se ele vai ser assim tão cooperativo.

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A união enfraquece

Os novos remédios mantêm os vírus presos uns aos outros, impedindo sua ação.

1. Na casca do influenza, o vírus da gripe, uma substância, a hemaglutinina, funciona como uma chave. Ela abre a célula ao se combinar com o ácido siálico, a porta que o micróbio usa para entrar.

2. O objetivo do agente infeccioso é se multiplicar, mas ele é incapaz de fazer isso sozinho. Então, usa os genes da célula para gerar filhotes.

3. Aí, os recém-nascidos têm de escapar. Como não há porta de saída, eles arrebentam a célula, enchendo-se de ácido siálico. O ácido funciona como uma cola que gruda as crias umas nas outras.

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4. Imobilizados pela cola do ácido, as pragas apelam para um trunfo: a neuranimidase, uma outra proteína de sua casca, capaz de desgrudar os microsseres. Graças a ela, ganham liberdade para novas invasões.

5. É bem aí que os medicamentos agem. Eles envolvem a neuranimidase e impedem sua ação. Condenando os vírus à inércia, encurtam a gripe de duas semanas para uns poucos dias.

Invasores diferentes

Veja como agem o rinovírus, o agente do resfriado, e o influenza, a causa da gripe.

Só por cima

O rinovírus ataca apenas o nariz e a garganta. Além disso, sua capacidade de invadir as células é pequena. Assim, os sintomas do resfriado são fracos e duram uma semana.

Pegando pesado

O influenza é mais agressivo e causa febre, dores no corpo e tosse. No geral, age por mais de quinze dias, no nariz, na garganta e no pulmão. Neste último pode abrir feridas que levam à pneumonia viral. Além disso, abre espaço para microrganismos como a bactéria da pneumonia.

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Exército de prontidão

A melhor forma de prevenir a gripe é a vacina.

As novas drogas servem para enfrentar o influenza depois que ele ataca. Mas você pode se antecipar por meio da vacina – eficaz em 80% dos casos. Tomada no outono, ela estimula o corpo a produzir células protetoras de antemão. Como o vírus muda de cara, também se altera a vacina todo ano. Para isso, os laboratórios colhem amostras das vítimas precoces – os gripados no verão. Assim, sabe-se como será o vírus do inverno a tempo de preparar o antídoto.

Resfriado não cola

É preciso inventar uma droga que faça o rinovírus passar direto pelo nariz.

1. O vírus do resfriado passeia pelo ar que você respira. Graças a proteínas grudentas que existem dentro do nariz (Icam-1), ele adere à mucosa e pode, a partir daí, começar a invadir as células.

2. Seria possível fazer um remédio que imitasse as substâncias pegajosas. Aspirado, fisga o vírus, enganando-o. Sem se prender na mucosa, ele acaba no pulmão, onde não tem como agir. E morre.

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