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O fundo do mar é a nova Lua

Existe mais biodiversidade no fundo do mar do que em florestas tropicais, mas menos de 1% dos oceanos foi pesquisado pela ciência. Um cineasta bilionário quer mudar essa história. E está conseguindo bem mais do que isso

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 24 Maio 2012, 22h00

Rodrigo Rezende

James Cameron tem uma missão. O diretor de Titanic e Avatar quer colocar uma nova estrela na calçada da fama das expedições científicas do Homo sapiens. O lugar escolhido por Cameron é tão pouco explorado que, para cada 6 pessoas que pisaram na Lua, apenas uma o visitou. Só consegue chegar a ele quem for capaz de escalar um Monte Everest até debaixo d¿água. Literalmente. Para ir lá, é preciso mergulhar a uma profundidade equivalente à altura do Everest (8,85 km) e continuar descendo por mais de 2 km. Um esforço que pode valer a pena, pois o destino final é páreo duro até para as melhores superproduções de ficção científica: um desfiladeiro 120 vezes maior que o Grand Canyon, mais escuro que o planeta Netuno, repleto de vulcões expelindo ácido e com pressão capaz de esmagar um ser humano em milissegundos.

Mas por que Cameron escolheu justamente a fossa abissal das Marianas – uma rachadura submarina situada ao sul do Oceano Pacífico com 70 km de largura média e 2 500 km de extensão – como locação para sua aventura? O ponto mais profundo da Terra seria mesmo um concorrente à altura da Lua ou de Marte? Quem considera o fundo do mar um ambiente raro, inóspito ou mesmo chato demais talvez mude de ideia ao encarar duas coisas: um tour pela ciência submarina e um bate-papo com Cameron.

Primeiro, o tour. Que 71% da Terra é coberta por água é um fato razoavelmente conhecido. Mas há outra estatística bem menos pop: quase toda essa superfície submarina está mergulhada em águas abissais, a mais de 3 mil metros de profundidade. Ou seja, a fossa das Marianas não tem nada de rara. Faz parte, na realidade, do ambiente mais típico do planeta. Outro dado pouco comentado é o grau de ignorância científica a respeito do ambiente mais comum da Terra. Cerca de 95% do fundo dos oceanos nunca foi tocado pelo homem. E menos de 1% foi pesquisado biologicamente. Segundo estimativas, de 10 a 100 milhões de espécies submarinas vivem em anonimato no fundo do mar. Hoje se sabe que as fossas abissais, longe de serem inóspitas, possuem pelo menos tanta biodiversidade quanto as florestas tropicais. Isso significa que, se um biólogo extraterrestre tivesse a missão de capturar o máximo de espécies para levar a seu planeta, provavelmente teria que fazer escala em uma fossa abissal. Não é para menos: as fossas são uma espécie de Galápagos submarina. Exatamente como nas ilhas exploradas por Charles Darwin, os ecossistemas enterrados nas profundezas dos oceanos estão isolados uns dos outros, o que faz turbinar o processo de evolução das espécies – é como se cada um fosse um planeta diferente.

Se não bastasse o potencial biológico do fundo do mar, há outra função importante para as fossas: laboratório de teste para ideias científicas revolucionárias. A atividade geológica frenética nas fossas pode ter sido o berço tanto do primeiro ser vivo do planeta quanto do chão que você pisa agora. Por isso, estudar a química no interior de vulcões submarinos e a física das pancadas entre placas tectônicas pode ser indispensável para entender tanto o surgimento da vida quanto a configuração dos continentes atuais. De quebra, o fundo do mar ainda pode funcionar como simulador de ambientes extrerrestres com características extremas, como Europa, a lua de Júpiter que guarda um oceano líquido debaixo de uma crosta de gelo.

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Ok, a ciência atual diz que o fundo do mar pode ser tudo, menos um ambiente raro e inóspito. Mas, se você ainda desconfia que ele pode ser chato, ouça James Cameron: “A cada mergulho que faço, vejo coisas inimagináveis. Medusas transparentes de mais de 2 metros. Polvos rosa com asas na cabeça…”, escreveu num artigo para a revista americana Wired.

O diretor já fez 72 mergulhos em águas abissais e passou mais de 3 mil horas submerso. A empolgação dele é tamanha que, em março, ele levou um mini-estúdio de cinema até o ponto mais fundo do planeta. Com o feito, ele se tornou o primeiro homem a chegar sozinho a 11 mil metros de profundidade. As imagens do que ele viu devem sair num documentário neste ano. Em 3D, claro.

A expedição de um figurão de Hollywood pode soar pouco científica, é verdade. Mas não. O fato é que ela inaugura uma nova era das grandes explorações. Se o primeiro homem na Lua foi um militar, agora o fundo do mar é de um cineasta blockbuster. Uma pequena mudança de papel. Mas um grande salto para a popularização da ciência.

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