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O matemático da diversão

Com 22 anos, Erik Demaine misturou cálculo a origamis e se tornou o mais jovem professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 31 ago 2003, 22h00

Mauro Tracco

Quem assiste a uma aula do canadense Erik Demaine, professor mais jovem do prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Estados Unidos, nem imagina que o pesquisador de 22 anos não freqüentou a escola durante boa parte da infância. Isso mesmo: aos 7 anos, Erik abandonou as salas de aula para cair na estrada com seu pai, um artesão que viajava pelos Estados Unidos vendendo seus produtos. Com ajuda de manuais de “escola em casa” (prática comum nos Estados Unidos), ele aprendeu todas as matérias do ensino fundamental. A experiência deu tão certo que, aos 12 anos, ele voltou a sua cidade natal, Halifax, no estado de Nova Escócia, e convenceu a diretoria da Dalhousie University a aceitá-lo como aluno – apesar da idade e da falta de registros escolares.

Com o passar do tempo, Erik terminou se especializando em origami computacional, uma área pouco conhecida cujo principal desafio é resolver complexos problemas da geometria espacial. Aparentemente simples, o resultado de suas pesquisas com a dobragem de papel pode ser aplicado da robótica à bioinformática, onde as fórmulas matemáticas são usadas, por exemplo, para entender como as proteínas se dobram.

É verdade que foi o jogo Tetris que despertou seu interesse pela matemática?

Não foi exatamente assim. Eu costumava jogar muito videogame quando era criança. Um dia perguntei ao meu pai como eram feitos esses jogos e ele respondeu que era por meio de programação de computadores. Ele conseguiu algumas apostilas de programação para me ensinar e logo eu mesmo comecei a ler sozinho livros sobre o assunto. Depois de mais ou menos um ano ele disse que para ser bom em computação é preciso ser bom em matemática. Comecei com um texto de álgebra do colegial e depois não parei mais. Mas, com certeza, Tetris estava entre meus jogos prediletos.

Pode-se dizer que você é um especialista em dobrar coisas. Como foi atraído para esse assunto?

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No começo do meu doutorado, fiquei interessado pelos aspectos computacionais da geometria em geral. Pouco depois, fiquei conhecendo o trabalho de Robert Lang, um pioneiro do origami computacional, e comecei a trabalhar em problemas ainda não solucionados na área. Rapidamente me tornei viciado no assunto.

O que é o origami computacional?

É uma interseção entre ciências da computação e matemática do origami, onde o objetivo é desenvolver algoritmos (conjunto de operações) que resolvam problemas relacionados à dobragem de papéis. Tem muita gente de olho nessa área e ela a cada dia chega a resultados mais interessantes. Um dos primeiros, feito por Robert Lang, é um algoritmo para desenvolver um tipo comum de “origami base”, crucial para a formulação de dobraduras. As idéias por trás dele são responsáveis pelo surgimento de modelos complexos de origamis nunca antes imaginados. Uma das primeiras questões que resolvi é conhecida como “Problema do Dobre e Corte”. Basicamente, o que fiz foi encontrar um algoritmo para provar que qualquer forma poligonal, seja ela uma simples estrela ou um complexo dragão, pode ser feita ao dobrar um pedaço quadrado de papel e depois fazer apenas um único corte retilíneo. Basta saber dobrar o papel do jeito certo. O resultado desse problema já está sendo aplicado no design de airbags desenvolvidos na Alemanha.

Como essa área é vista pelos outros matemáticos?

No geral, acredito que os matemáticos concordam que o origami é uma fonte de muitos problemas geométricos interessantes. Um aspecto particular do estudo matemático da dobragem de papéis é que os problemas são tangíveis. Podem ser mais facilmente compreendidos por pessoas que não entendem muito de matemática.

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Em que você está trabalhando agora?

Eu costumo trabalhar em muitas coisas ao mesmo tempo. Na área de dobragem, estou trabalhando junto com Joseph O’Rourke (matemático da Smith College, Estados Unidos) como co-autor de um livro sobre o assunto.

Você “fugiu” das salas de aula e agora é professor. Existe uma parte dentro de você que acredita que seus alunos aprenderiam mais se estivessem fora da universidade?

Minha educação universitária foi normal. Apenas durante o ginásio e o colegial eu não freqüentei salas de aula convencionais. Acredito que muitas pessoas poderiam se beneficiar do sistema de escola em casa. No entanto, isso não seria apropriado no ensino universitário.

Por ter apenas 22 anos, seus colegas professores ou seus alunos o tratam de maneira diferente?

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Não. Essa questão da idade nunca foi muito importante na minha vida. Eu não gosto de enfatizar o fato de eu ser novo como uma forma de valorizar meus feitos. Eu tento deixar de lado esse aspecto porque um dia todo mundo fica velho.

Ter viajado tanto durante a infância o ajudou na carreira de cientista?

Sim, essa experiência removeu todas barreiras e facilita a comunicação com outras culturas. De tanto estar em contato com diferentes tipos de pessoas, acabei desenvolvendo uma habilidade comunicativa que é muito útil na minha vida acadêmica. Não me acanho em abordar as pessoas para testar idéias novas. Quando pego um grande problema pela frente, a primeira coisa que faço é encontrar alguém para debater.

Com sua infância singular, você não passou por experiências comuns dessa fase da vida. Alguma vez você sentiu falta do convívio com crianças da mesma idade?

Eu tive bastante convivência tanto com pessoas da minha idade quanto com gente mais velha. Acho que essa minha experiência é melhor do que ficar restrito a um mesmo grupo.

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Quando tiver um filho, você mesmo vai educá-lo? Ou vai optar por uma escola convencional?

Depende da criança, mas eu daria uma chance à escola em casa.

Você é praticante de malabarismo. Existe alguma relação entre ele e a ciência? Todos seus hobbies são relacionados à matemática?

O malabarismo virou uma moda entre matemáticos. Existe um estudo matemático que já ajudou a criar uma variedade de novos truques e movimentos, apesar de poucas pessoas saberem disso. Para mim, ele está mais para um lazer divertido do que para ciência. Sempre gostei também de quebra-cabeças, que têm uma relação muito estreita com a matemática. Eles deixam bastante claro o que você deve fazer e a solução é quase sempre simples, mas encontrá-la pode ser difícil. Provar teoremas matemáticos é similar em muitos aspectos: o problema e a solução podem ser fáceis de entender, mas achar e provar um resultado é uma tarefa extremamente desafiadora. Além disso, a solução também envolve diversas peças. Enfim, meus hobbies costumam nascer da matemática, mas depois adquirem vida própria.

Erik Demaine

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• Tem 22 anos e mora em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unid os

• Nunca assiste televisão

• Ama jazz e é fã de Ella Fitzgerald

• Quando arranja algum tempo livre, anda de bicicleta

Frase

Os quebra-cabeças mostram que as soluções corretas são invariavelmente simples, embora às vezes seja difícil descobri-las

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