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Onça-Pintada: A dona da América

Maior felino do novo mundo, aonça tem uma mordida tão forte quearrebenta até casco de tartaruga

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 31 mar 2005, 22h00

Cláudia de Castro Lima

Ela é o maior felino das Américas. Tem também outro troféu de dar medo: o da mordida mais poderosa entre todos os grandes gatos, incluindo o leão e o tigre. A onça-pintada é capaz de partir com seus caninos mesmo os maiores ossos, como o crânio de uma anta, ou até cascos de tartaruga. Pode abater uma enorme variedade de presas – e as abate, pois quase nenhum animal escapa à sua voracidade. Fazem parte do menu mais de 80 espécies – há quem afirme que o número chega a 150. Ela se alimenta de jacarés, queixadas, capivaras, pacas, tatus – cutias também –, macacos, catetos, veados, aves, peixes, antas e até touros e búfalos. É uma exímia nadadora, capaz de atravessar até 1 quilômetro de rio atrás de comida ou de companheiros para reprodução, e consegue subir com destreza em árvores. Mas, devido ao porte encorpado e às pernas relativamente curtas, não é uma boa corredora – e prefere a emboscada.

“A onça-pintada é evolutivamente adaptada para encontrar, atacar, matar e se alimentar de sua presa de forma extremamente eficiente”, afirma Fernando Azevedo, biólogo da Associação Pró-Carnívoros. “Para isso, ela precisa ter três sentidos bastante aguçados: a visão, a audição e o olfato. Em conjunto, são os responsáveis por seu sucesso em procurar e achar uma potencial presa.” Apesar disso, o índice de bom êxito de uma caçada não passa de 10%.

Também conhecida como jaguar – nome de origem tupi mais popular no exterior do que aqui –, a onça costuma estar mais ativa à tarde ou à noite, o que dificulta o trabalho dos pesquisadores em observá-la caçando. “Sua atividade diária é solitária. As únicas fases de sua vida que são compartilhadas com outras onças são o período de acasalamento e a fase em que a mãe cria os filhotes”, diz Fernando.

Os bebês ficam com as mães até completarem aproximadamente 2 anos. Durante esse período, a maior lição que aprendem é como caçar de forma eficiente. O aprendizado inicia já bem cedo – com 3 ou 4 meses de idade, as oncinhas acompanham a mãe durante as caçadas. No começo ficam só olhando, para depois começarem a ajudar de verdade. “Os felinos, em geral, têm infância bem maior que os outros animais”, afirma Carlos C. Alberts, especialista em felinos da Unesp de Assis. “É durante esse período que eles aprendem as técnicas básicas de predação: escolher a presa, pegá-la, matá-la e prepará-la para ser consumida. A preparação é necessária porque as onças não comem pêlos nem penas. Se o filhote não for criado com a mãe, não saberá caçar.” Quase adultos, a mãe os força a procurar o próprio território e achar o jantar sozinhos.

Peter Crawshaw, analista ambiental do Ibama e especialista em onças, teve duas oportunidades de assistir a uma mãe ensinando seus filhotes a caçar. “Em uma das vezes, eles haviam matado três queixadas, cujas carcaças estavam uma ao lado da outra”, diz. Na outra, viu um filhotão de quase 1 ano correndo ao lado de um touro, acompanhado da mãe e de outro filhote. “Acredito que ela estava ensinando os filhotes o que não caçar, porque um touro é um animal perigoso”, afirma.

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Há dois tipos de predadores na natureza: os especialistas e os oportunistas. Os primeiros são aqueles que, como o nome diz, se especializam em determinado tipo de caça – caso dos guepardos, que perseguem quase exclusivamente duas espécies de gazela africana. Já o predador oportunista aproveita toda ocasião que surja para capturar qualquer animal que possa subjugar. “A pintada é um pouco dos dois tipos”, afirma Crawshaw. “É oportunista por se alimentar de uma gama variada de presas, de tatus e primatas a sucuris e lagartos. E pode ser considerada especialista porque criou técnicas especiais para caçar determinados animais.” No Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, por exemplo, as pintadas predavam mais queixadas do que seria esperado, em relação à densidade do animal no parque. “Isso indica uma preferência por essa espécie.”

As onças passam a maior parte da vida em busca de comida. Ingerir entre 5% e 10% de seu peso é uma batalha diária – ou quase, porque, quando comem presas muito grandes, elas podem ficar alguns dias sem se alimentar. “Boa parte do tempo de uma onça é gasto no deslocamento dentro de seu território, no intuito de demarcá-lo, achar comida ou parceiros para reprodução”, diz Fernando Azevedo. O território do macho normalmente é maior e tem pontos em comum com o de várias fêmeas – ele pode chegar a 200 quilômetros quadrados.

É dentro de sua área que a onça caça, se alimenta, se acasala. E a defende com unhas e dentes. Literalmente. “Por serem animais de uma constituição física muito forte, as onças evitam o contato físico com outras onças no caso de defesa do território. Uma briga entre elas pode acarretar danos físicos muito graves ou até mesmo a morte”, diz Fernando. Isso porque os músculos da mandíbula do animal são muito desenvolvidos e ela tem uma mordida de potência bastante grande – mais ainda que a do tigre ou do leão.

Por causa da força na mandíbula, a onça costuma matar suas presas quebrando o pescoço delas. “Ela insere os caninos, que podem ter até 5 centímetros, entre a primeira e a segunda vértebra da presa. Assim, rompe sua medula espinhal. A morte é instantânea”, diz Peter Crawshaw. Em outras ocasiões, ela morde o crânio da presa para matá-la. A forma como a onça agarra as vítimas varia bastante – pode ser pelo focinho, pelas costas, pela garganta ou pela cabeça. Em presas maiores, morde na garganta e mata por asfixia ou golpeia de forma que elas caiam no chão com o peso do corpo sobre o pescoço, quebrando-o.

Normalmente, a onça só come o animal que abateu. Não é comum ela se alimentar de bichos que morreram de causas naturais. “A pintada não precisa se preocupar em defender a carcaça de sua presa, porque não há nenhum outro competidor com ela em seu hábitat”, diz Carlos C. Alberts. Vem daí a famosa expressão popular que diz respeito a seu hálito. O felino nem sempre tem um bafo de onça, mas, quando caça animais grandes, pode se alimentar da carcaça por dias. Acontece que a carne em florestas tropicais apodrece logo por causa da umidade. Assim, não tem quem agüente o odor exalado pela boca do felino. Nem quem é amigo da onça.

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Dopada, mas não morta

Nem mesmo sedada uma onça perde seu instinto. Em julho de 1991, o biólogo Peter Crawshaw capturou e anestesiou uma onça-pintada no Parque do Iguaçu (PR), para colocar um rádio-transmissor. O processo foi acompanhado por um casal de turistas estrangeiros, que passeava pelo local. No final da tarde, a onça já se recuperava – mas ainda estava tonta – quando o casal resolveu tirar uma foto. O felino se assustou com o flash e arrancou na direção da mulher. Peter, num impulso, se colocou entre as duas. “Felizmente, as pessoas tiveram a presença de espírito de entrarem nos veículos”, diz ele – que, depois de momentos angustiantes, fez o mesmo. Por sorte, o biólogo acabou apenas com ferimentos leves. Culpa da imprudência humana.

Fatos selvagens

Nome vulgar

Onça-pintada

Nome científico

Panthera onca

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Dimensões

Até 2,60 metros do focinho à ponta da cauda

Peso

Até 160 quilos

Principais armas

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A poderosa audição e caninos de até 5 centímetros

Comportamento social

É solitária, exceto na época de reprodução, e tem hábitos noturnos

Ataques a humanos

São raríssimos (o último registrado foi em 2004, na Argentina)

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Quanto come

Até 16 quilos por dia

Expectativa de vida

Na natureza, 15 anos

Dieta

Queixadas, capivaras, tartarugas

Principais inimigos

Jacarés e cobras

Se você encontrar uma

Não corra. Olhe-a nos olhos para ela perceber que você a viu – a onça ataca de surpresa

Para saber mais

Na internet

https://www.savethejaguar.com – Site da Wildlife Conservation Society com informações sobre onças e um link para “adotar” financeiramente animais

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