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Paleontólogo , Stephen Jay Gould

Declarou guerra aos chamados darwinistas fundamentalistas, que vêem seleção natural em tudo, até onde não tem, e muitas vezes usam Darwin para justificar teses racistas.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 31 jul 2002, 22h00

Voltaire Schilling

Desde o tempo de Pitágoras, quando um de seus seguidores advertia contra os perigos de a água pura da ciência ser derramada para baixo – ao alcance dos ignorantes – há entre os cientistas um certo elitismo. Pois foi exatamente contra esse primado reacionário, o de confinar os conteúdos científicos às redomas dos gabinetes e dos laboratórios, que Stephen Jay Gould, falecido em Nova York, aos 60 anos, em 20 maio de 2002, insurgiu-se. Professor em Harvard, onde foi curador do Museu de Zoologia Comparada, em nenhum momento Gould hesitou em contribuir para a Natural History Magazine e outras revistas com seus ensaios sobre o evolucionismo e as ciências que o envolvem – foram mais de 300, reunidos em 20 best-sellers. Por três décadas, esse paleontólogo e historiador da ciência mostrou ao mundo, todos os meses, os mundos maravilhosos que estão escondidos em rochas fossilizadas, as teorias fantásticas que a ciência esqueceu, as pessoas incríveis por trás das pesquisas, as limitações da ciência e da religião.

Contemporâneo de Carl Sagan, a quem admirava, ele, assim como o astrônomo, foi muito mais que um divulgador. Fascinado ainda menino pelos dinossauros, sua inclinação pelo darwinismo, única doutrina científica séria para explicar a evolução da vida, foi automática. Mas, apesar da filiação a Darwin, não teve medo de tentar aperfeiçoar a teoria. Defendeu o punctuated equilibrium, a tese do equilíbrio pontual, segundo a qual a evolução não se dá gradual e uniformemente, mas avança aos trancos, impulsionada por grandes desastres naturais. O clima, a geografia, um meteoro podem provocar o rápido surgimento de uma espécie, ou substantivas mutações na estrutura das já existentes. Depois disso, elas se estabilizam, seguindo por séculos sem muitas alterações. Ao gradualismo dos chamados neodarwinistas, ele opôs o espontaneísmo da vida.

Sua visão, por assim dizer, é mais democrática, mais “esquerdista” que a da maioria dos biólogos: a vida não muda apenas por causa da implacável prevalência dos mais fortes sobre os mais fracos – ela obedece principalmente ao imponderável, ao acaso. Claro que essa posição rendeu uma polêmica imensa contra o grupo adversário, liderado por outro grande divulgador, Richard Dawkins. Mas, por mais que Gould não fugisse de polêmicas e por melhor que fosse na arte de brigar com palavras, jamais perdeu a elegância.

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O novaiorquino comprou outras brigas. Declarou guerra aos chamados darwinistas fundamentalistas, que vêem seleção natural em tudo, até onde não tem, e muitas vezes usam Darwin para justificar teses racistas. Seus adversários favoritos eram os criacionistas, os teólogos cristãos que rejeitam o evolucionismo por não suportar a idéia de que a nossa espécie, criada à imagem e semelhança de Deus, pudesse compartilhar com outras um passado simiesco. Todas essas brigas ele venceu com inteligência, armado de um texto apaixonado e apaixonante. Seu espírito combativo se revelou também na luta contra o mesotelioma, o câncer contra o qual se debateu desde 1982. Mas, se Gould não conseguiu superar a doença, pôde ao menos escrever sobre ela – um dos seus ensaios, “O meio não é a mensagem”, trata de explicar o significado das médias estatísticas, dando como exemplo o fato de que o mesotelioma, na média, mata em oito meses, o que não elimina a possibilidade de que alguém possa conviver com ele por 20 anos.

Frase

O paleontólogo revelou a história fascinante que está escondida em rochas

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