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Para o público, violinos atuais soam melhor que um Stradivarius

Voluntários vendados ouviram o lendário violino italiano do século 18, que hoje sai por 2 milhões de dólares... e surpresa: não sentiram diferença

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 15h09 - Publicado em 9 Maio 2017, 17h56

Na virada do século 17 para o 18 – mesma época em que viveu Isaac Newton – o fabricante de instrumentos musicais italiano Antonio Stradivari entrou para a história. Em vida, o luthier foi responsável por 1.116 peças, das quais 960 eram violinos. Segundo as estimativas mais confiáveis, 650 deles alcançaram os dias atuais – incluindo algo entre 450 e 500 violinos.

Esses instrumentos, hoje, estão entre as coisas mais caras que um músico profissional (não) pode comprar. Um dos filhotes mais conhecidos de Stradivari, chamado The Lady Tenant e terminado em 1699, saiu por 2 milhões de dólares em um leilão em 2005. Parte disso, é claro, se deve ao valor histórico de um objeto de madeira intacto mais de 300 anos após sua fabricação.

A outra parte se deve ao som. Quem pôs a mão (e o arco) em um afirma que a magia é indescritível. Emma John, colunista de música clássica do jornal britânico The Guardian, tocou outro Stradivarius, chamado Beechback, e seu relato está cheio de trechos como o que vem a seguir: “Eu fui afinar as cordas e o primeiro toque […] foi tão alto que eu parei, chocada e meio baqueada. É a mesma coisa que dirigir um Mazda a vida inteira, e então subir em uma Ferrari e acelerar tudo de uma vez, sem querer.”

Esse hype todo torna a pergunta inevitável: será que um leigo percebe a diferença? Um grupo do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França fez testes cegos com o público de duas salas de concertos em Nova York e Paris. 137 pessoas, com diferentes níveis de conhecimento sobre o assunto, ouviram músicos profissionais tocarem as mesmas peças em um Stradivarius e em outros violinos caríssimos, mas não tão antigos. Os resultados já foram publicados.

Surpresa: ninguém, logo de cara, percebeu a diferença entre eles. E quando questionados sobre a capacidade de cada instrumento projetar o som com intensidade em direção ao público – segundo especialistas, uma das características que põem o Stradivarius em uma categoria à parte dos demais – os voluntários consideraram o instrumento italiano pior que os outros testados.

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A decepção bate com os resultados de outro estudo, publicado em 2014, que deu uma série de violinos valiosos, entre eles um Stradivarius, na mão de 10 músicos profissionais com vendas nos olhos. Todos os instrumentos foram testados em condições idênticas. No final, só quatro dos dez voluntários julgaram o italiano centenário melhor. Neste ponto, vale lembrar que mesmo os melhores violinos fabricados hoje custam no mínimo 100 vezes menos que os assinados por Stradivari e sua família.

Do ponto de vista da carteira, é claro, nada chega perto de um Stradivarius. Mas tanto na música clássica quanto na popular há instrumentos de certas marcas ou épocas que são vendidos por valores muito superiores à média.

Baixos e guitarras Fender produzidos até 1965 (anteriores à compra da empresa pela CBS, a gigante americana de rádio e televisão) custam uma nota. Um exemplar em ótimo estado deste modelo aqui, por exemplo, pode alcançar 30 ou 40 mil dólares em um dia de sorte. Violões Martin de antes da década de 1930, como este aqui, também atingem preços astronômicos.

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Valor histórico a parte, músicos e cientistas já discutem há anos se esses instrumentos realmente fazem tanta diferença na hora de tocar. Uma explicação bastante razoável envolve uma espécie de seleção natural inconsciente feita pelos próprios músicos. Talvez Stradivari não tenha acertado a mão em todos os violinos que fez, mas só os que eram excepcionais continuaram sendo tocados e passados de mão em mão ao longo da história, enquanto os não tão bons assim eventualmente acabaram em uma gaveta e foram esquecidos – o mesmo se aplicaria às guitarras e baixos acima.

Seja como for, é praticamente consenso que o cuidado empregado na produção artesanal tem alguma influência sobre o som.

De saída, vale lembrar: os pesquisadores declararam, em uma nota de rodapé no final do estudo, um conflito de interesses. Um deles é funcionário da D’Addario, uma famosa fabricante de cordas para instrumentos, e outro é luthier. Isso não é, de forma alguma, evidência de que eles tenham interesse em manipular os resultados – o estudo foi avaliado rigidamente e aprovado na revisão técnica da revista científica.

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