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Pássaros urbanos usam bitucas de cigarro para fumigar seus ninhos

Fazendo isso, eles garantem que seus lares ficarão livres de carrapatos e outras pragas da vida em cidades

Por Guilherme Eler
Atualizado em 2 out 2017, 17h39 - Publicado em 2 out 2017, 16h59

É verdade que folhas e galhos costumam ser os ingredientes preferidos pelos pássaros para construir seus ninhos. Mas, na ausência de matéria-prima adequada, itens menos nobres também acabam entrando na mistura. Restos de embalagens, sacolas plásticas, fios elétricos e até bitucas de cigarro. Pelas patas habilidosas de aves como os tentilhões (Carpodacus mexicanus), os ninhos ganham forma e se tornam obras únicas de engenharia – personalizadas de acordo com o arquiteto emplumado responsável.

Esse comportamento sustentável da espécie, no entanto, intrigava um grupo de pesquisadores da Universidade Nacional Autônoma do México. Seria o hábito de reaproveitar objetos tão variados – como as bitucas – apenas uma forma de agilizar o sonho da casa própria? Em um novo estudo, publicado no Journal of Avian Biology, eles descobriram que não. Na verdade, usar os restos de cigarro tem função estratégica: deixar seus lares livres das pragas urbanas.

Para testar essa hipótese, os cientistas monitoraram 32 ninhos de tentilhões localizados na área urbana da Cidade do México. Um dia depois dos filhotes de cada ninho nascerem, eles retiraram a cobertura original, feita por seus papais, e substituíram por um feltro artificial. Tudo para garantir que as casas não fossem contaminadas por agentes externos.

Então, veio a segunda parte do experimento. Os pesquisadores adicionaram 70 carrapatos vivos em dez dos ninhos, 70 carrapatos mortos em outros dez e deixaram 12 casas sem nenhum parasita. Daí foi só observar a postura dos pais, e recolher amostras dos telhados das casas – para conferir se havia alguma novidade no design.

Os resultados mostraram que os pássaros fazem o possível para garantir um ambiente harmonioso à sua família. Quem viu sua casa ser infestada por carrapatos começou a buscar mais pelas bitucas – apostando na sua comprovada ação inseticida. Os lares que receberam carrapatos vivos foram os que mais mudaram: passaram a ter, em média, 40% mais fibras de cigarro, se comparados àqueles cujos carrapatos estavam mortos. Tudo muito bom, tudo muito bem. Com o cheiro forte e às toxinas presentes nos restos de fumo, a dedetização estava completa. Era o fim dos danos às penas e das mordidas constantes, causadas por aqueles hospedeiros indesejáveis e sedentos por sangue.

Porém, assim como fumigar a casa com os moradores dentro não é uma opção inteligente, a escolha pelo repelente também impacta na saúde dos filhotes. A longo prazo, seria mais ou menos como se os pais e seus pequenos virassem fumantes passivos. Como mostrou um estudo de 2012, feita pela mesma equipe de pesquisadores, quanto mais bitucas nos ninhos, maior o número de mutações nos cromossomos dos moradores.

“As bitucas causam danos genéticos aos tentilhões, atrapalhando a divisão celular. Percebemos isso analisando seus glóbulos vermelhos”, explicou Constantino Macías Garcia, um dos autores do estudo, à New Scientist. Problemas de divisão das células acarretam uma menor taxa de renovação celular – um dos fatores que aceleram o envelhecimento. Aí, o problema passa a ser outro. O que vale mais: uma vida mais curta e livre de pragas ou uma mais longeva e cheia de mordidas de carrapato? Melhor deixar essa para os tentilhões responderem.

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