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Pôquer é esporte?

O maior torneio de pôquer é transmitido para quase tantos países quanto a Copa do Mundo. Cada vez mais pessoas ganham a vida como profissionais das cartas. E mesmo assim ele ainda é ilegal. Faz sentido?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h14 - Publicado em 21 set 2010, 22h00

Alexandre Versignassi

Alexandre Gomes é um dos maiores esportistas do país. Ganhou seu primeiro título mundial em 2008, aos 26 anos. Prêmio: US$ 770 mil. Um ano depois veio a consagração: 1º lugar no maior Grand Slam de sua modalidade. Mais US$ 1,2 milhão na conta. E o rapaz não para de colecionar vitórias. “Ééééé… do Brasil!!”, diria o Galvão.

Alexandre é jogador profissional de pôquer. Um dos mais bem-sucedidos. Mesmo assim, seus feitos somem diante das lendas do carteado de hoje. Phil Ivey, um americano de 34 anos, tem 22 títulos de primeira linha e US$ 13 milhões em prêmios. Isso só em torneios oficiais. Por fora é mais ainda: ele chegou a ganhar US$ 16 milhões numa tacada só, depois de uma partida que durou 3 dias (ninguém sai, ninguém sai) contra outro gênio do pôquer, o matemático Andy Beal. Se fosse boxe, teria sido a luta do século.

O mundo do pôquer, por sinal, nunca teve tantos milionários – o top 100 de quem mais faturou não tem ninguém com menos de US$ 3 milhões. Quem banca são os sites de pôquer online. Dinheiro é o que não falta ali. Em 2009, essa indústria faturou US$ 4,9 bilhões – 25% mais que em 2008. O maior desses torneios hoje, o World Poker Tour, é transmitido para 150 países. Quase uma Copa do Mundo.

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A onda extrapolou o mundo dos fanáticos e transformou o jogo num fenômeno social. Nunca tantos grupos de amigos se reuniram para jogar – principalmente a versão do pôquer usada nos megatorneios, a Texas Hold’em, que dá mais chances de blefar. Nisso, a coisa ficou mais organizada. Existe até uma Confederação Brasileira de Texas Hold´em, responsável pelos campeonatos nacionais. Só tem um probleminha aí: é tudo ilegal. Promover jogos de azar é algo proibido no Brasil desde 1941 – fora as loterias do Estado, só as corridas de cavalo estão livres. E a lei nunca mudou.

Lá fora é parecido. Nos EUA você só pode apostar nos poucos lugares onde o jogo é liberado. O pôquer online, apesar de gigante por lá, só existe à margem da lei – os servidores dos sites ficam em outros países, geralmente paraísos fiscais, onde a legislação é frouxa. Mas tanto a banca como quem só quer apostar em paz defende uma mudança: a de que o pôquer deixe de ser considerado como jogo de azar. Vire um esporte, como o xadrez.

Exagero? Nem tanto. Nos jogos em que só a sorte conta, como Mega-Sena ou dados, é impossível perder de propósito. No pôquer dá (pode tentar em casa). E tem o maior argumento dos defensores: dizer que não haveria multicampeões de Texas Hold’em se o jogo fosse governado pelo acaso. Alguns números deixam claro o que o acaso significa em pôquer. A chance de você cair com uma trinca na mão, coisa simples, que todo iniciante espera em qualquer rodada, é mínima: uma em 46. Isso é mais difícil do que acertar um número numa roleta de cassino (uma chance em 37). Conseguir royal straight flush, então, é quase uma bênção divina. A possibilidade de cair com essa combinação imbatível de cartas altas do mesmo naipe é de uma em 650 mil; a de ser atingido por um raio, uma em 280 mil. Conclusão: não dá para ganhar com frequência, ano após ano, dependendo de eventos tão improváveis. Seria uma aberração estatística.

A distribuição de mãos boas e ruins é democrática. Não há sorte que resista ao tempo. Depois de algumas horas de jogo, a mesa toda vai ter experimentado basicamente a mesma quantidade de sorte e de azar. A diferença é como cada um age nessas situações. Aí entra o cérebro, e o carteado vira xadrez. Ou mais do que isso.

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Quem diz é Garry Kasparov. O Pelé do tabuleiro acredita que o pôquer pode lidar com a mente de uma forma ainda mais profunda que o seu esporte. E com uma vantagem: “Alguns aspectos do pôquer, como o gerenciamento de risco, são ba-seados na psicologia humana – coisa que talvez nunca seja reproduzida por uma máquina”, disse. Truco, Deep Blue!

No Brasil, olha só, a tese tem um defensor até mais poderoso. É o Instituto de Criminalística de São Paulo. Eles fizeram um laudo em 2006 declarando que o pôquer é, sim, um jogo de habilidade mental. O documento ajuda a Confederação Brasileira de Texas Hold´em a conseguir liminares para montar seus campeonatos. E também pode representar um primeiro passo para a legalização do pôquer.

Não seria nenhum absurdo jurídico: no Reino Unido, por exemplo, até a versão online é regulamentada e paga impostos. Mas e aí? Com uma legislação assim no Brasil, o pôquer pode virar um jogo em que todo mundo ganha? Talvez valha tentar a sorte. Porque lançada ela já está.

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