Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Sapos venenosos podem nos ajudar a produzir analgésicos melhores

O amarelinho aí da foto, com só 5,5 cm, tem veneno suficiente para matar 10 seres humanos. E isso pode ser chave para analgésicos mais eficientes

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 16h21 - Publicado em 22 set 2017, 18h02

Phyllobates terribilis. Esse é o nome científico do simpático anfíbio aí em cima. Ele tem 5,5 centímetros – mais ou menos o tamanho de uma peça de LEGO –, e contém veneno suficiente para matar dez pessoas numa tacada só (o que provavelmente explica o terribilis do nome).

A morte é rápida: a substância secretada pela pele do animal, comum na Colômbia, impede o cérebro da vítima de enviar sinais elétricos para o resto do corpo. Todos os músculos são paralisados – inclusive o coração e o diafragma, responsável pela respiração.

O terribilis é mencionado por várias fontes como o vertebrado mais venenoso do planeta. Um mísero grama de seus alcalóides, chamados batracotoxinas, é suficiente para matar 15 mil seres humanos. Ele, porém, não é o único. Há mais de 100 espécies de anfíbios tóxicos por aí, que contam com um arsenal de algumas dúzias de substâncias letais.

A pergunta de um milhão de dólares, nesse caso, é simples: como bichinhos desse tamanho se tornaram imunes a substâncias tão perigosas – a ponto de andarem por aí com a pele besuntada por elas sem serem afetados? A resposta está em um artigo científico publicado hoje na Science.

“Ser tóxico é bom para sua sobrevivência – te dá uma vantagem sobre seus predadores”, explica Rebecca Tarvin, bióloga da Universidade do Texas e líder do estudo. “Então por que não há mais animais tóxicos por aí? Nosso estudo mostra que a principal restrição é se os animais serão capazes de desenvolver resistência às suas próprias toxinas. Nós descobrimos que a evolução deu um jeito nisso exatamente da mesma maneira em três grupos diferentes de sapos. Isso é muito bonito.”

Continua após a publicidade

Tarvin e sua equipe focaram o estudo em um grupo de sapos tóxicos típicos do Equador, que compartilham o mesmo princípio ativo: a epibatidina, um alcalóide com efeito analgésico que não vicia, mas é 200 vezes mais forte que a morfina. Seu uso terapêutico já foi considerado por médicos, mas a substância se torna letal em doses tão pequenas que não vale o risco.

Atenção: contém epibatidina. Não faça carinho. (OpenCage/Creative Commons)

Eles também analisaram o material genético de sapos que secretam outras substâncias e de sapos que não secretam nada – mas servem como base de comparação. Foram coletadas, ao todo, amostras de 28 espécies.

O próximo passo foi criar uma árvore genealógica dos DNAs desses animais, mapeando as modificações que genes equivalentes sofreram em cada espécie ao longo da história.O truque é simples: pegue dois sapos, um imune à epibatidina (e portanto capaz de secretá-la) e outro não. Se eles possuírem apenas dois genes de diferença entre si, as chances de que sejam esses os genes responsáveis pela imunidade são muito altas.

Aqui é preciso entender duas coisas:

Continua após a publicidade

1º: esses sapos não produzem epibatidinas ou batracotoxinas em seu próprio organismo. Essas substâncias perigosas vêm, em geral, dos insetos e outros artrópodes de que eles se alimentam. Por isso, se um sapo quiser suar veneno pelos poros, ele precisa primeiro se tornar imune à ingestão desse veneno.

2º: essas substâncias atuam bagunçando o coreto de proteínas chamadas receptores. Os receptores ficam do lado de fora das nossas células, e permitem que elas recebam informações sobre o meio exterior. O que uma molécula tóxica faz, de maneira bem simplificada, é se disfarçar de outra molécula familiar à célula em questão – e aproveitar a semelhança para dar um comando (muito) errado a ela.

A análise da árvore foi um passe de mágica: ficou estabelecido que uma proteína receptora com 2,5 mil aminoácidos que era resistente à epibatidina tinha apenas três aminoácidos de diferença em relação a uma que não era. Como cada aminoácido é codificado por apenas três bases nitrogenadas (as letras A, T, G, C), a diferença entre o DNA de um sapo tóxico e de um incapaz de sobreviver à toxina é de apenas seis “letras”.

Em outras palavras, sapos venenosos tem proteínas receptoras mais malandras, que ignoram os maus conselhos dados pela epibatidina – e deixam as células seguirem sua vida em paz. Isso é pura seleção natural.

A equipe da Universidade do Texas já havia revelado antes o mecanismo de imunização dos sapinhos da família do terribilis, que abre essa nota. Entender as alterações genéticas que tornaram cada um desses sapos resistentes aos diferentes alcalóides pode ser o pulo do gato para desenvolver analgésicos e anestésicos mais eficientes para seres humanos.

Continua após a publicidade

“Qualquer informação que pudermos coletar sobre como esses receptores estão interagindo com as drogas é um novo passo para criarmos drogas cada vez melhores”, afirmou Cecilia Borghese, outra colaboradora do estudo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.