Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Urso-Polar: O colosso do gelo

Apesar de gigantesco, ourso-polar tem na discriçãosua maior arma na caça

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h36 - Publicado em 31 mar 2005, 22h00

Carolina Salles

Um ataque sorrateiro pode parecer impossível para um urso. Afinal, o corpanzil de 2 metros de altura e 700 quilos não é exatamente discreto. Mas essa é uma das estratégias do urso-polar, o maior carnívoro terrestre e um predador eficiente. Tendo como cenário regiões como o Alasca, o norte do Canadá e da Rússia, a Groenlândia e a Noruega, o animal usa o aguçado olfato para localizar suas presas preferidas, as focas, a até 3 quilômetros de distância. Discretamente, camuflado pelo branco do gelo, o urso vai se aproximando do animal. Quando chega a uma distância de cerca de 20 metros, a surpreende e parte para o ataque. Muito mais rápido do que sua vítima (ele chega a alcançar 40 quilômetros por hora numa corrida curta), o urso a captura usando as garras e os dentes afiados. Pronto. Agora é só descansar por cerca de cinco dias.

“O urso-polar é o predador máximo do ecossistema marinho do Ártico”, afirma Steven Amstrup, biólogo do U.S. Geological Survey (instituto de pesquisas geológicas do governo americano), que há mais de 20 anos estuda esses animais. Mas eles têm uma desvantagem: “O acesso à comida é no gelo”, diz Steven. É muito mais fácil para um urso-polar obter sua presa no imenso rinque de patinação ártico que em águas abertas.

Isso não quer dizer que se seu alimento estiver submerso o urso não consiga pegá-lo. Entra aqui outra estratégia do mamífero, que requer paciência. As focas podem ficar vários minutos submersas, mas precisam de ar para respirar. Elas cavam, com suas garras, pequenos furos pela parte de baixo do gelo, para terem acesso ao oxigênio. Com o faro, o urso localiza esses buracos e espera, imóvel, por até uma hora – até que uma foca distraída apareça para respirar. Então, ele morde firmemente a presa pela cabeça e a traz à superfície. A refeição está servida.

A primavera no hemisfério norte é sinônimo de comida fácil. Nessa época, as focas dão cria e constroem tocas no gelo para abrigar seus filhotes. E no mesmo período os ursos usam uma terceira estratégia de caça: farejam as tocas e se posicionam silenciosamente ao seu lado até perceber algum sinal de vida dentro dela – o odor do filhote ou da mãe, ou algum barulho que denuncie a presença de um animal. Levantam-se então sobre as patas traseiras e investem com as dianteiras sobre a toca, até as quebrarem e alcançarem a presa. “Ser pesado é uma vantagem nessa hora”, afirma Andrew Derocher, biólogo da Universidade de Alberta, no Canadá. E esse método, ao que parece, dá resultados: “Existem estimativas de que os ursos chegam a matar 44% dos filhotes de foca todos os anos”, diz Steven.

A grande temporada de caça para um urso-polar vai de abril a junho. Quando pegam uma foca, podem consumir de uma só vez até 70 quilos de comida. Um estudo conduzido pelo canadense Ian Stirling, pesquisador e professor da Universidade de Alberta, revelou que a primeira coisa que os ursos fazem quando matam a presa é comer sua camada de gordura. É disso o que ele mais precisa para se manter aquecido em temperaturas que podem chegar a 34º C negativos. Muitas vezes, o animal deixa de lado a carcaça e a carne, que são consumidas por animais como raposas-do-ártico e gaivotas.

Continua após a publicidade

É no gelo, e só no gelo, que as estratégias de caça dos ursos-polares funcionam. Sem ele, não existem tocas nem buracos de respiração das focas. E, sem ele, o urso perde a camuflagem. É por isso que, para ursos-polares, a época mais difícil do ano é o verão, quando o sol brilha 24 horas por dia no Ártico. O gelo derrete, as tundras começam a aparecer e o urso perde sua plataforma de caça. Vários deles se deslocam o máximo que podem em direção ao norte, onde ainda há gelo e focas. “Ursos que vivem em regiões como os mares de Barents, no norte da Noruega e da Rússia, e Chukchi, no norte do Alasca, chegam a se deslocar até 1 000 quilômetros”, diz Steven Amstrup. Mas os que vivem mais ao sul, como na Baía Hudson, no Canadá, não conseguem seguir o gelo e são obrigados a se adaptar à vida em terra, correndo o risco de passar um bom tempo sem conseguir alimento até que o mar congele novamente.

Para sobreviver longe do gelo, um urso-polar tem de se prevenir, garantindo seu estoque de gordura durante o inverno. Assim, quando chega o verão, sua maior preocupação passa a ser gastar a menor quantidade possível de energia. “Ursos-polares ficam preguiçosos no verão. Quando a temperatura ultrapassa os 20º C, eles apenas dormem, descansam e dão mergulhos para se refrescar”, diz Andrew Derocher. O animal pode passar semanas – e até meses – sem comer nada. Se a fome apertar, eles podem tentar uma caçada. Sem focas, o jeito é improvisar com morsas, belugas, aves ou peixes. As chances de sucesso, no entanto, são bem menores. Outra opção para não ficar de barriga vazia é deixar a carne de lado e apelar para frutos típicos de regiões frias, a vegetação desses locais e até lixo deixado por homens. O urso ainda pode tentar caçar em águas abertas. Embora seja excelente nadador e consiga mergulhar a até 4,5 metros de profundidade, o urso-polar não consegue entrar na água sem ser percebido, por causa de seu tamanho. Assim, afasta as presas em potencial.

No verão ártico, os ursos-polares não podem gastar muita energia, mas não chegam a hibernar. O mais próximo que um urso-polar chega da hibernação é quando a fêmea grávida entra num estado chamado letargia carnívora – com significativa redução dos batimentos cardíacos e sutil baixa na temperatura corporal. As ursas não entram em estado de hibernação profunda porque têm de se manter aquecidas para dar à luz e amamentar.

O tão amado gelo dos ursos-polares pode deixar de existir. O aumento da temperatura global já faz com que o gelo demore cada vez mais para se formar e derreta com rapidez. Só isso já causa efeitos negativos sobre as populações desses animais, que têm sua época de caça e seu território reduzidos. Mas a situação pode piorar. Estima-se que, no fim deste século, o gelo do Ártico poderá derreter totalmente a cada verão. Entre as conseqüências disso, está a provável extinção dos ursos-polares.

Matador em série

Ursos-polares não costumam estocar alimento, como fazem outros ursos, mas podem caçar mais do que o necessário. O biólogo Steve Amstrup observou isso de perto, quando, a bordo de um helicóptero, procurava ursos-polares para seus estudos. “Avistei um urso macho de tocaia ao lado de um buraco para respiração de uma foca. Perto, havia uma foca morta, parcialmente consumida, e, entre o urso e essa foca, existiam mais três focas mortas amontoadas, como uma pilha de lenha. Quando o meu helicóptero se aproximou do urso, ele abandonou a tocaia, correu para onde estavam as três focas amontoadas e as cobriu com seu corpo, como se estivesse protegendo sua pilha de focas”, afirma. Para o biólogo, o urso parecia satisfeito com o que havia comido da primeira foca, mas seguia perseguindo, caçando e empilhando os animais. “A probabilidade de ele comer tudo o que havia caçado era muito baixa”, diz.

Continua após a publicidade

Como caça o urso

Por cima do gelo,ele rastreia o trajeto da presaembaixo d’água

1. Cheiro de foca

O urso acha o local onde a foca respira

2. Na trilha

Pelo faro, ele vai seguindo os buracos

3. De tocaia

Continua após a publicidade

No próximo buraco, espera a foca e dá o bote

4. Mesa posta

Pela cabeça, ele puxa a presa e a devora

Fatos selvagens

Nome vulgar

Urso-polar

Continua após a publicidade

Nome científico

Ursus maritimus

Dimensões

Até 3 metros de altura

Peso

Continua após a publicidade

Até 680 quilos

Principais armas

Caninos longos e pontudos e garras afiadas, além da força e da camuflagem no gelo

Comportamento social

Solitários e até mesmo hostis com outros indivíduos da mesma espécie

Ataques a humanos

São raros. No Canadá, existem sete registros de mortes causadas por ursos-polares nos últimos 30 anos

Quanto come

Em cativeiro, cerca de 3 quilos por dia

Expectativa de vida

Até 18 anos em ambiente selvagem; 30 anos em cativeiro

Dieta

Focas-aneladas, baleias-beluga, peixes, morsas, pássaros marinhos, narvais, renas

Principais inimigos

Outros ursos-polares

Se você encontrar um

Não corra. Fique parado, a não ser que seja seguro dirigir-se devagar para um abrigo. Coloque uma jaqueta sobre a cabeça e abra-a com os braços, para você parecer maior do que é. Se o urso se aproximar, grite ou faça bastante barulho

Para saber mais

Na livraria

Polar Bears – Living With The White Bear – Nikita Ovsaynikov, Voyageur Press, EUA, 1999

Polar Bears – Ian Stirling e Dan Guravich, University of Michigan Press, EUA, 1998

Na internet

https://www.polarbearsinternational.org – Informações sobre ursos-polares

Nas bancas – DVD

Território selvagem – urso polar, documentário produzido pela BBC e lançado no Brasil pela Super

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.