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Vida, o desenho inteligente

A tese criacionista afirma que a evolução da vida é lógica e perfeita demais para ter sido obra do acaso. Para eles, que usam a biologia molecular para contestar Darwin, a idéia de que descendemos de primatas é absurda.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 31 Maio 2002, 22h00

Jomar Morais

Como começou o universo? “Com o Big Bang”, responderão nove entre dez especialistas. Big Bang, ou a grande explosão, é o fenômeno que permitiu, há 15 bilhões de anos, que uma minúscula bola de fogo, de extrema densidade e altíssima temperatura, se expandisse e esfriasse dando origem às galáxias e a tudo o que existe no espaço. O Big Bang é apenas uma hipótese, claro. Mas pouca gente discorda dessa idéia, concebida pelos físicos no início do século XX. Agora, pergunte como a vida começou na Terra e você terá uma boa chance de iniciar um acalorado bate-boca. Seres vivos são as coisas mais complexas do universo. Ao contrário de rochas e nuvens, eles exibem qualidades, habilidades e competências que despertam inúmeras perguntas.

A vida surgiu por acaso ou a partir de uma vontade superior? Os seres vivos sempre tiveram a aparência atual ou sofreram transformações ao longo do tempo? Os animais de diferentes espécies apresentam algum grau de parentesco? Temos todos um ancestral comum? Até hoje, a tentativa de responder a essas perguntas opõe cientistas e, sobretudo, cientistas e religiosos, os herdeiros das primeiras tentativas de explicar a origem da vida. O confronto entre ciência e céu começou no século XVIII, quando surgiram novas teorias que contradiziam as antigas crenças numa vida planejada por um ser superior. O ponto alto da discórdia foi a publicação, em 1859, do livro A Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural, do naturalista inglês Charles Darwin. A vida, dizia Darwin, resultou de mutações aleatórias da matéria a partir de modelos extremamente simples. E foi evoluindo por meio de uma seleção adaptativa dessas mutações, guiada pela necessidade de sobrevivência.

Na época, o naturalista escandalizou a Igreja e todos os defensores da idéia de um desígnio superior na criação – os chamados criacionistas. Mas, em pouco tempo, a teoria darwinista convenceu a maioria dos cientistas e se espalhou pelo mundo. Seu conceito de evolução passou a permear da medicina à sociologia, da psicologia à economia. Darwin, hoje em dia, é invocado para iluminar assuntos tão diversos quanto a competição entre empresas e a culinária regional. Na maioria dos países, inclusive o Brasil, o darwinismo é a única teoria sobre a origem da vida estudada nas escolas.

Todo esse sucesso da visão cientificista não chegou a sepultar as controvérsias do passado. A velha polêmica está de volta, agora com nova roupagem e argumentos mais sofisticados. A recente ofensiva contra Darwin, travada principalmente nos Estados Unidos, tem como desafiante um grupo de biólogos, matemáticos e bioquímicos empenhado em provar a inconsistência do evolucionismo com base na biologia molecular. Para eles, a complexidade da vida requer a existência de um “planejamento inteligente”.

“A teoria de Darwin pode explicar cascos de cavalos, mas não os alicerces da vida”, diz o bioquímico Michael Behe, professor da Universidade Lehigh, na Pensilvânia, Estados Unidos, e autor do livro A Caixa Preta de Darwin, uma das peças fortes na divulgação do planejamento inteligente. Do outro lado, a resposta vem também em tom de briga. “A função de um bioquímico é ocupar-se com problemas que envolvem os elementos”, diz o biólogo Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, Inglaterra, autor de uma coletânea de livros evolucionistas. “Não é vomitar idéias apressadas sobre um suposto projeto sobrenatural só porque ainda não se sabe como algumas reações químicas evoluíram.”

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Para entender o que está se passando, é melhor conhecer primeiro o que propõem as duas teorias em jogo nesse confronto. De um lado, Darwin disse que a vida começou espontaneamente no momento em que uma sopa primordial de elementos químicos, submetida às condições da Terra primitiva, produziu pela primeira – e única vez – uma molécula replicante. Mudanças graduais ocorridas por acaso permitiram a formação, ao longo de bilhões de anos, de seres cada vez mais complexos.

A evolução consiste basicamente na repetição incessante da reprodução, por meio da qual a geração anterior passa à seguinte os genes herdados de seus ancestrais, mas com pequenos erros – as mutações. Isso acontece de forma aleatória, segundo Darwin, e é praticamente imperceptível. No decorrer das gerações, no entanto, haveria uma espécie de seleção das mutações que seriam mais úteis à sobrevivência. É o que Darwin chamou de seleção natural, uma espécie de filtro da natureza evidenciado pelo fato de que o número de indivíduos, numa geração, que sobrevivem e conseguem deixar descendentes é sempre menor que o número dos que nasceram. Os felizardos seriam aqueles selecionados pela natureza em razão de suas características de adaptação ao ambiente. Com o tempo, as seleções acabam por estabelecer diferenças tão drásticas entre descendentes de um mesmo ancestral que já não persistem os traços básicos da espécie original.

Dá-se, então, o surgimento de outro tipo de animal. (Esse seria um dos motivos pelos quais você não se identificaria com um Australopithecus afarensis, nosso alegado ancestral de 3,5 milhões de anos, que hoje passaria batido ao lado de alguns macacos no zoológico.)

Já para os chamados neocriacionistas – aqueles que, comparados aos criacionistas originais que lêem a Bíblia ao pé da letra, têm um discurso muito mais apurado – a vida não tem nada de aleatório e parece ter seguido algum desenho inteligente. A prova seria a complexidade dos sistemas celular e molecular: verdadeiras máquinas cujas partes independentes estão tão estreitamente interligadas que a ausência de um único componente é o bastante para impedir que elas funcionem. É o que o bioquímico Michael Behe denomina com o palavrão “complexidade irredutível”: um sistema que existe apenas se todos os seus mecanismos estiverem ali para servir o todo. Órgãos como o olho humano e o sistema de coagulação do sangue seriam os exemplos mais evidentes desse modelo. Eles só conseguem trabalhar quando todas as suas “peças” estão encaixadas. Ou seja: essa engenharia cheia de detalhes e de encaixes únicos e precisos não poderia ser fruto de mudanças aleatórias.

Outra confirmação disso seria o fato de que até hoje não foram encontrados registros de animais transicionais (um fóssil de animal que fosse exatamente uma transição de uma espécie para outra).

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Para os darwinistas, a idéia de que a vida seguiu um plano inteligente é apenas um jeito novo de dizer que Deus criou do nada todos os seres. A velha idéia presente no Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, e no discurso do fundamentalismo cristão americano – desde a década de 1920 empenhado numa cruzada anti-evolucionista. Mas os teóricos do planejamento inteligente afirmam que eles nada têm a ver com o criacionismo de raiz religiosa. “Essa teoria não especula sobre a existência de um Criador ou suas intenções”, diz o matemático William Dembsky, professor da Baylor University, nos Estados Unidos, e um dos líderes da nova escola. “Ela apenas constata que a complexidade dos seres vivos sugere um desenho inteligente.” As duas premissas dos neocriacionistas, segundo Dembsky, não englobam nenhum dos seis pontos básicos do criacionismo clássico (veja boxe na pág. 99), entre os quais estão a afirmação de que a Terra existe há apenas 10 000 anos e a de que humanos e macacos não têm ancestrais comuns.

Os partidários do planejamento inteligente até admitem parcialmente a evolução pregada por Darwin. Mas, para eles, ela só seria válida para microorganismos, onde já se produziram provas experimentais. Em A Caixa Preta de Darwin, Behe considera a idéia de ascendência comum “muito convincente”, mas lança dúvidas sobre o mecanismo da seleção natural como explicação para a origem da vida molecular. Quando Darwin defendeu essa idéia, diz o bioquímico, não existia ainda o microscópio eletrônico e imaginava-se a célula como uma estrutura simples e rudimentar, não como um organismo complexo, cujas partes também abrigam sistemas sofisticados.

O argumento central de Behe é que um sistema irredutivelmente complexo é como uma ratoeira: só consegue pegar o rato se todas as suas partes (uma plataforma, uma trava, um martelo, uma mola e uma barra de retenção) estiverem perfeitas e ativas. É diferente de um automóvel que pode funcionar com faróis queimados, sem as portas ou sem pára-choques. O mundo da bioquímica, segundo Behe, está repleto de sistemas irredutivelmente complexos, verdadeiras máquinas químicas, precisas e interdependentes. E isso requeria uma amarração que está muito além da coincidência.

Os evolucionistas contestam. Eles dizem que um grupo de células sensíveis à luz não seria obviamente um olho no futuro, mas bem poderia servir como um sensor primitivo de localização para animais rudimentares. O ouvido de hoje pode ser resultado da evolução de uma membrana sensível a vibrações do ar, o que seria suficiente para salvar uma antiga espécie de um predador pré-histórico.

Muita gente ainda duvida do modelo evolucionista, diz Dawkins, porque não percebe que as mutações entre uma e outra geração são mínimas, praticamente imperceptíveis, só ganhando consistência ao longo de milênios, milhões de anos. Outro equívoco dos anti-evolucionistas, conforme o pesquisador, é imaginar que a evolução é sinônimo de progresso. A maioria das mutações, provocadas por fatores externos – como as radiações cósmicas, por exemplo –, concorrem para piorar e não para melhorar o organismo. Elas seriam aleatórias. Mas sobre esse leque de opções atua, também ao acaso, a seleção natural, perpetuando as mudanças que facilitam a adaptação do organismo ao ambiente e, conseqüentemente, a sobrevivência da sua espécie. Nos casos em que aconteceu o contrário, não sobraram descendentes para reproduzir a mudança.

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A raiz do planejamento inteligente remonta ao século XIII, quando São Tomás de Aquino usou o argumento da complexidade da vida como uma das provas da existência de Deus. O neocriacionismo do planejamento inteligente livrou-se dos raciocínios metafísicos e das analogias esotéricas do passado, diz Behe, e, apoiado na bioquímica, tenta oferecer alternativas refinadas à tese de Darwin.

A argumentação pró-planejamento inteligente também bebe daquilo que seria o ponto mais frágil da teoria darwiniana: a questão do registro fóssil. A coleta de fósseis já na época de Darwin sinalizava um problema. Nunca ficou evidente a lenta modificação dos traços entre animais prevista pela teoria. Muitas espécies pré-históricas apareciam como que de repente. Essa lacuna, que permanece aberta até hoje, foi minimizada em 1972 pelos paleontólogos americanos Stephen Jay Gould e Niles Eldredge com a formulação da hipótese do “equilíbrio pontuado”, segundo a qual as lacunas fósseis sugerem que a evolução ocorre em saltos rápidos e, em seguida, as espécies tendem a permanecer estáveis por milhões de anos. (Gould, que morreu no último dia 20 de maio de câncer no pulmão, foi entrevistado pela Super na edição de novembro e escreveu vários artigos condenando os defensores do planejamento inteligente).

Mas os neocriacionistas continuam vendo na falta de fósseis uma prova da inconsistência de Darwin. “O registro fóssil é importante no estabelecimento da teoria da evolução como fato”, diz Enézio de Almeida Filho, especialista em estudos bíblicos e principal divulgador do planejamento inteligente no Brasil. “Ocorre que não há como verificar a evolução por meio de fósseis. Há somente evidências circunstanciais, mas não há nenhuma prova.”

Como os darwinistas encaram tais críticas? As reações oscilam do desprezo ao respeito moderado. “Bobagem”, diz Francisco Gorgônio Nóbrega, doutor em Genética Molecular pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). “A teoria de Darwin tem sido comprovada por mais de um século de pesquisas biológicas, abrangendo de bactérias ao homem.” Nóbrega lembra que o cientista é treinado para ser crítico e, certamente, muitos sonham com a possibilidade de oferecer ao mundo uma teoria superior à de Darwin. Para que isso aconteça, no entanto, é necessário reunir dados consistentes e submetê-los ao rigor de outros pesquisadores – “e não apenas escrever livros”.

Outro doutor em Genética, o evolucionista Crodowaldo Pavan – único brasileiro a integrar o fórum independente de cientistas convocado pela Academia de Ciências do Vaticano –, considera o planejamento inteligente pelo menos “uma hipótese mais respeitável” que a do criacionismo clássico, que não acredita na evolução apenas por convicção religiosa. “Ao estudar a complexidade da vida, os neocriacionistas nos ajudam a interpretar a natureza”, afirma.

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Os evolucionistas também têm se debruçado sobre a biologia molecular e dali retirado novos argumentos em defesa da teoria darwiniana. Dawkins lembra que os “textos” (as seqüências de aminoácidos) do citocromo C, presentes no DNA de vários organismos, têm sido comparados com grande sucesso, letra por letra. Está provado que 12 letras – num conjunto de 339 – separam o citocromo C humano do citocromo C dos cavalos, que seriam primos distantes do homem. E apenas uma troca de letras diferencia o citocromo C humano do dos macacos, o mesmo número que separa os citocromos de cavalos e jumentos, que são primos muito próximos. Já a distância entre o citocromo humano e o do levedo, um fungo, é de 45 trocas de letras. São fatos que sugerem o parentesco entre todos os seres vivos e reforçam a tese do ancestral comum.

Apesar do status de ciência pretendido por seus defensores, o neocriacionismo não deixa de dar seqüência, nos dias atuais, ao embate centenário entre religiosos e evolucionistas, hoje praticamente restrito aos Estados Unidos e a alguns países islâmicos. Mas há nuances na visão religiosa. A idéia de evolução choca os conservadores, mas é aceita por religiosos liberais, que preferem ler o Gênesis bíblico como uma narrativa mítica. Até o papa João Paulo II admitiu, há dois anos, que as teorias da evolução, incluindo a de Darwin, merecem ser encaradas como algo além de hipóteses. Nesse caso, a evolução é vista como o meio de Deus criar, ainda que o neodarwinismo (síntese da genética moderna com a teoria da seleção natural) realce a falta de propósito e de intenção na evolução. É nesse detalhe, aliás, que estaria a maior “heresia” de Darwin, um agnóstico, já que os homens não são vistos como o propósito final da evolução, mas apenas como resultado de um acidente que poderia ainda levar a a outros acidentes.

Trata-se de conflitos que ganham dimensões profundas nas religiões judaico-cristãs. Especialmente no fundamentalismo evangélico e no Islamismo – que trabalham com o conceito de um Deus pessoal e intervencionista –, mas perdem densidade em religiões que não consideram a idéia de uma criação instantânea do mundo. No Hinduísmo, por exemplo, as escrituras se referem a infindáveis ciclos de criação e de dissolução na natureza. As tradições orientais são também menos centradas no homem do que as religiões do Ocidente e consideram os humanos uma pequena parte da realidade.

Com ou sem motivações religiosas, a polêmica em torno da evolução está longe de acabar. No momento, são vários os estudos sobre evolução mole-cular in vitro em andamento nos Estados Unidos, o que, certamente, conduzirá a novas revelações e inferências sobre a origem da vida nos próximos anos. “Não há um único artigo respeitado pela comunidade científica que tenha oferecido uma alternativa racional à teoria de Darwin”, diz Gorgônio Nóbrega. “Mas não podemos banalizar o problema: a origem da vida celular está envolvida em mistério, pois a ciência, apesar de muitos progressos, ainda está longe de ter um modelo completo, sem falhas, para explicar a gênese da estrutura celular e da maquinaria básica da vida.” Pelo menos nesse ponto, evolucionistas e neocriacionistas têm a mesma opinião.

Para saber mais

Na livraria: A Caixa Preta de Darwin, Michael Behe, Zahar, Rio de Janeiro, 1999

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O Relojoeiro Cego, Richard Dawkins, Companhia das Letras, São Paulo, 2001

Evolution: A Theory in Crisis, Michael Denton, Adler & Adler, Bethesda, EUA, 1985

Rebuilding the Matrixs, Denis Alexander, Lion, Londres, Inglaterra, 2001

Reconciling Science and Religion, Peter J. Bowler, The University of Chicago Press, Chicago, Estados Unidos, 1996

A bíblia como ela é

A trajetória da teoria da evolução nos Estados Unidos nunca foi tranqüila. Nas primeiras décadas do século XX, metodistas, batistas e presbiterianos realizaram campanhas anti-evolucionistas em mais de 20 Estados e conseguiram banir o ensino da teoria de Charles Darwin, nos anos 20, em quatro Estados – Oklahoma, Tennessee, Mississippi e Arkansas. A inspiração para essa cruzada era conter o avanço de uma teoria que favorecia o ateísmo e o materialismo. Mas, nessa época, havia ainda outras motivações. William Bryan, um dos líderes da campanha – e também político pacifista, alinhado com causas avançadas como o voto feminino – temia que a idéia de seleção natural incentivasse uma “cultura da crueldade” na sociedade, com a discriminação dos mais fracos. O próprio Darwin receava o uso político da sua teoria e hesitou por mais de 20 anos antes de torná-la pública.

Intensas batalhas judiciais foram travadas e em diversas ocasiões os criacionistas conseguiram barrar, temporariamente, o ensino da teoria evolucionista nas escolas de Estados do sul, mais conservadores. A partir dos anos 60, uma nova geração de criacionistas adotou a estratégia de pleitear tempo igual nas escolas para Darwin e para a Bíblia, sendo montado um corpo doutrinário para o que se chamou de ciência-criação, em oposição à ciência da evolução. Foram igualmente criadas fundações e institutos que incentivam e patrocinam pesquisas destinadas a comprovar a narrativa do Gênesis – da criação do homem ao dilúvio de Noé – e uma maciça ação de marketing passou a incluir até excursões geológicas nas quais jovens e crianças garimpam no solo americano indícios do dilúvio global.

Na década passada, os criacionistas voltaram a obter vitórias expressivas – e temporárias – em alguns Estados americanos. O caso mais destacado foi o do Kansas, onde o Conselho Estadual de Educação aboliu do currículo escolar a teoria evolucionista, em 1999. A decisão foi depois derrubada pela Suprema Corte dos Estados Unidos. Não se trata de gestos solitários, num país em que o fundamentalismo religioso é bastante influente. Mais de 50% dos americanos se dizem favoráveis ao ensino das teorias criacionistas nas escolas ao lado da teoria evolucionista. Mas isso pode ser pouco para os criacionistas radicais. Para eles, a questão da origem do mundo e da vida resume-se a seis premissas indiscutíveis:

• Universo, energia e vida foram criados do nada – por Deus.

• Organismos complexos não podem surgir de formas simples de vida, por meio de mutações aleatórias.

• Os seres vivos (plantas e animais) podem variar apenas dentro dos limites fixados para cada espécie.

• Homens e macacos têm ancestrais distintos.

• A geologia terrestre pode ser explicada pelo catastrofismo, a começar pelo dilúvio global registrado na Bíblia.

• A Terra é jovem – tem menos de 10 000 anos e não os 4,5 bilhões de anos estimados pela ciência.

Uma evolução, muitas versões

Charles Darwin não foi o primeiro biólogo a trabalhar com a idéia da evolução e do parentesco entre todos os seres vivos. O principal concorrente de Darwin, na vertente evolucionista, foi o biólogo francês Chevalier Lamarck, cuja teoria, apresentada no século XVIII, teria peso semelhante à de Darwin não fosse um detalhe insólito: Lamarck tratava a evolução com o princípio do uso e desuso, segundo o qual as partes de um organismo usadas com freqüência aumentam de tamanho (como acontece quando exercitam os músculos específicos), ocorrendo o inverso com aquelas mantidas em ociosidade. Para ele, essas alterações seriam passadas às gerações futuras, detalhe que jamais foi comprovado. No começo do século XX, o fenômeno da mutação genética foi descrito pela primeira vez.

Logo cientistas famosos como Wilhelm Johannsen, inventor do termo “gene”, e Thomas Morgan, pai da teoria cromossômica da hereditariedade, deduziram que novas espécies surgiam de uma única grande mutação e não da seleção natural. Outro geneticista, o japonês Motoo Kimura, deu uma roupagem molecular a uma antiga concepção evolucionista: a teoria neutralista. A idéia é a de que a maioria das mudanças evolutivas, no âmbito da genética molecular, são neutras – portanto, não dependentes da seleção natural.

Uma das mais recentes teorias rivais de Darwin – encarada como uma teoria complementar por muitos darwinistas – surgiu em 1972 nos Estados Unidos, formulada pelos paleontólogos Stephen Jay Gould, da Universidade de Harvard, e Niles Eldredge, do Museu de História Natural de Nova York. Para eles, a evolução acontece em saltos rápidos, quando populações pequenas desenvolvem, em períodos de não mais que 10 000 anos, novas características para se adaptar a um certo ambiente. Depois disso, as espécies tendem a se manter constantes por milhões de anos. O modelo, chamado equilíbrio pontuado, oferece uma explicação à ausência de fósseis que mostrem claramente a mutação das espécies ao longo de bilhões de anos, de acordo com a teoria darwiniana.

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