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E se as abelhas sumirem?

Sem sua polinização, um terço dos vegetais desaparece, empobrecendo gôndolas e paisagens. O sumiço leva à criação de um santuário, onde as últimas abelhas zunem em paz. Que tal uma visita guiada?

Por Emiliano Urbim
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 11 Maio 2014, 22h00

Bom dia! Bom dia a todos. Vieram bem no barco? É normal ter um pouco de enjoo, não se preocupem. Vocês conseguem me ouvir aí atrás? Sejam muito bem-vindos à Primeira Reserva Apiária do Atlântico Sul, mais conhecida como Ilha das Abelhas, menos conhecida como Abilha – é, o apelido não pegou.

Assim como é uma honra para nós recebê-los, é um privilégio para vocês estar aqui, não é mesmo? Vocês fazem parte de um clube seleto: são pouquíssimos os candidatos que recebem o visto para conhecer este santuário da natureza, um dos lugares mais vigiados do mundo. Não sei o que vocês fizeram para estar aqui, nem me interessa. Só me resta lhes dar os parabéns.

Bem, nunca é demais lembrar que vocês acabam de desembarcar no último local do planeta Terra onde ainda é possível encontrar abelhas que produzem mel. Sim, senhora, vai haver degustação de mel e você pode comprar o quanto quiser na lojinha. Mas vamos aproveitar o passeio, não é mesmo? Me acompanhem até o vestiário, por favor.

Pendurados nos cabides, com os nomes de vocês, estão seus uniformes de apituristas. Sim, é um antigo uniforme de apicultor, mas acharam que chamar de apiculturista agregaria valor. Peço que todos vocês se besuntem abundantemente de repelente e só depois comecem a vestir as roupas, absolutamente imprescindíveis para a realização do passeio. Ela existe para proteger vocês das abelhas, mas principalmente para proteger as abelhas de vocês.

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Como vocês sabem, ou deveriam saber, as abelhas começaram a desaparecer em 2006. Nunca se soube com certeza a causa do Distúrbio do Colapso de Colônias. Muitos falaram em um tipo específico de pesticida. Alguns apostaram em ácaros nas colmeias. Pode ter sido fungos, vírus, destruição do habitat natural. Provavelmente uma soma de todos esses fatores. O fato é que nunca se chegou a uma solução. E as abelhas desapareceram do mundo inteiro, a não ser por esta pequenina ilha. Desculpem o tom melancólico, somos obrigados por lei a passar esse conteúdo.

Quem tiver dificuldade é só me chamar que eu ajudo a fechar o zíper. Primeiro aviso: os kits foram montados com base em medidas que vocês nos passaram. Se vocês engordaram, emagreceram ou mentiram, sinto muito. Segundo: essa é a última oportunidade que vocês têm para ir ao banheiro sem serem incomodados pelas nossas anfitriãs. Aproveitem.

Todo mundo pronto? Por favor, me sigam por este longo corredor. Vejo que hoje temos gente de todo o mundo. Bem: não interessa de onde vocês vieram, com certeza é uma paisagem muito diferente do que vocês vão ver aqui. As paisagens que vocês estão acostumados a ver são, por assim dizer, meio monótonas, certo? Que plantas vocês conhecem? Soja. Milho. Isso mesmo, arroz. Tudo bege. Aqui, se preparem: vocês vão encontrar um arco-íris. Um mosaico. Um caleidoscópio. Sua metáfora favorita não será suficiente.

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De tirar o fôlego, não é? Toda essa diversidade – para ser correto, essa biodiversidade – só é possível graças à polinização que as abelhas fazem, levando o pólen de planta em planta. Tenho impressão de que vocês estão com dificuldade em identificar algumas espécies, me permitam ajudar. Aquilo ali é café. Ali, uma laranjeira, cheia de laranjas. Aquilo ali tem a cor parecida, mas é uma cenoura. Temos também abóboras, melões, chuchus, pepinos, quiabos, cebolas. Essa se chama melancia. É vermelha por dentro, uma delícia. Sim, está tudo à venda na lojinha. Melancia também, mas atenção ao excesso de bagagem, senhora.

Gente, gente. Aqui, por favor. Chegou o grande momento. Tudo muito exuberante, muito deslumbrante, mas está faltando alguma coisa, não é mesmo? Faltam as estrelas da festa! Para chamar as abelhas, vou usar este spray especial. Vou poupá-los dos detalhes sórdidos, mas ele atiça os hormônios sexuais dos insetos. Peço que vocês não realizem movimentos bruscos e permaneçam em seus lugares para não atrair picadas. Assim que eu espalhar o líquido no ar, elas devem ser atraídas. Em três, dois… zum.

Calma. Esse barulho vem delas mesmo, é o zumbido do enxame. É natural que elas cerquem vocês, chegem perto. Estão curiosas, não estão acostumadas a humanos de fora. Reparem nos tons de preto, de amarelo. Reparem nos olhos. Sempre reparo nos olhos.
E pronto. Passeio encerrado, dêem adeus a essa maravilha. Sim, senhora, agora é a degustação de mel. Tem na lojinha. Mais barato que no freeshop.

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