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E se o padrão de beleza fosse ser gordo?

Caso os padrões se invertessem, o preconceito se voltaria contra os magros e sarados. Como seria viver nessa ditadura da gordura?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 29 set 2014, 22h00

Gabriel Esteves

Meu nome é Maurício. E eu sou magro. É muito difícil dizer isso na frente de outras pessoas, mas acho que o primeiro passo é admitir. Comecei a emagrecer aos 14 anos, quando meu pai saiu de casa. Eu não tinha mais referência, alguém que dissesse o que era certo e o que era errado. Primeiro eu parei de comer carboidrato à noite, depois eu já tinha me envolvido com barrinha de cereal, iogurte light. Às vezes me dava a louca e eu saía no meio da noite para correr no parque. Mas foi quando eu conheci um pessoal barra-pesada que as coisas pioraram mesmo. Fiquei amigo de um cara que mexia com lambaeróbica e pilates. Ele me levou para o mundo do fitness. Hoje eu sou viciado em academia, meu percentual de gordura é de 3%, minha expectativa de vida é de aproximadamente 97 anos e consigo ver meu próprio pênis. Meu nome é Maurício. E eu sou magro.

Mauricio Ozório, 28 anos, membro do vigilantes do peso.

Ok, ok! O cantor Fininho, ex-Skinny Family, é visto com uma morena saindo de churrascaria na Barra. É isso mesmo! Fininho, que acabou de passar por uma cirurgia de ampliação de estômago, raspou o prato. Quem não gostou muito foi sua ex, a modelo Andressa Klein. A bela já perdeu muitos contratos publicitários de tanto que emagreceu após a separação. Ela estaria pesando, atenção, 103 quilos. É isso mesmo! 103 quilos! É, parece que Andressa vai ter que ouvir muito Fininho para sair dessa! Abafa!

Rubens Nelson, 57 anos, fofoqueiro.

É com muita satisfação que eu venho divulgar o enredo da Unidos da Vila Esmeralda para o carnaval carioca. “Obeso, o Belo: da Grécia Antiga ao Espaço Sideral, Gordice é Fundamental” vai ser uma linda viagem pela história da gordice no mundo. A comissão de frente vai trazer bailarinos vestidos de enzimas, interagindo em câmera lenta uns com os outros. O carro abre-alas conta a origem do culto à obesidade, trazendo toda essa relação de um Deus guloso que não deixava Adão e Eva comerem o fruto proibido, que era só Dele, não dividia com ninguém. Depois tem a ala Agito no Egito, onde a maravilhosa Claudinha Ferraz vai aparecer irreconhecível, toda magra, seca e horrorosa, vestida da baranga da Cleópatra. E tem o carro Fernando Botero, uma homenagem ao maior fotógrafo sensual do mundo, que, poucos sabem, começou a carreira como escultor de gordinhas. Enfim, vai ser um desfile fantástico. Principalmente porque gordo é isso, é mais espaço para o amor, é mais espaço para a alegria. O que é gordo é para se mostrar. O povo quer ver peso, que ver pelanca pulando para fora da fantasia. Isso é carnaval!

Jurandir Barroso, 39 anos, carnavalesco.

Querido diário, a Bianca me bateu. Eu tava no recreio, aí a Bianca chegou, aí ela perguntou “quê que você tá comendo?”, aí eu disse “club social”, aí ela me chamou de pau de sushi, aí eu falei que pau de sushi era ela, aí ela me chamou de magra, aí eu comecei a chorar, aí ela pegou uma coxinha e enfiou na minha boca, aí eu gritei, aí ela esfregou a gordura da coxinha na minha cara, aí eu falei “para!”, aí ela falou “isso é pra você deixar de ser pau de sushi”, aí eu disse “eu não sou pau de sushi”, aí as amigas gordas dela ficaram rindo de mim e gritando “Manu pau de sushi! Manu pau de sushi!”, aí o Felipinho chegou e me salvou. Eu odeio a Bianca. Um dia eu vou ser mais gorda do que ela, e os meninos vão gostar mais de mim, e nem por isso eu vou chamar os outros de “pau de sushi”. Pena que o Felipinho é magro.

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Manuela, 8 anos, vítima de bullying.

Cinco quilos. Esse é o peso da minha felicidade. Com mais 5 quilos eu passo de 120 e encaixo nesse vestido. Quando entrar na igreja não quero parecer um berimbau embrulhado numa cortina. Tá bom, eu não tô tão magra assim, mas 115 na minha idade é quase caminho sem volta. É só olhar para minha mãe, um saco vazio. Outro dia perguntei para o Valter se ele achava que eu tava magra. Ele desconversou, me chamou de baleia, mas você vê na cara da pessoa que aquilo ali não vem de dentro. Eu já falei que minha mãe parece um saco vazio? Esse negócio de peso tá mexendo mesmo comigo. Qualquer coisa também, eu faço que nem essas famosas: passo uma semana no retox e saio cheia. Dizem que é doença, mas eu não tô nem aí. É como o saco vazio da minha mãe sempre diz: “uma caloria de cada vez.”

Raquel, 29 anos, noiva.

*Gabriel Esteves é roteirista do canal de vídeos Porta dos Fundos.

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