Texto Tiago Jokura
Diferentemente do pedágio rodoviário, um pedágio urbano não tem cancelas nem guichês. A conta, em geral, é registrada via radares eletrônicos e pode ser paga no mesmo dia (como uma tarifa de Zona Azul) ou ao fim do mês (usando a lógica do sistema Sem Parar). A idéia é taxar o motorista não só pelo uso da via mas pelo prejuízo que ele causa ao tirar o carro da garagem: como atrapalham todo o fluxo de bens e serviços, os congestionamentos custam a uma cidade como São Paulo cerca de R$ 33 bilhões ao ano. Algumas grandes cidades, como Londres e Estocolmo, já colocaram a idéia em prática. Na maior parte delas, os recursos arrecadados não são investidos nas ruas, mas em melhorias na qualidade do transporte público.
No Brasil o buraco é mais embaixo. Apesar de o nosso trânsito ser digno das maiores metrópoles mundiais, o transporte público das grandes cidades brasileiras não chega aos pés do de países desenvolvidos. Ou seja, quem não quiser pagar para chegar de carro ao trabalho pode não ter alternativa. Mas os especialistas acreditam que vale pagar o preço do desconforto, físico ou financeiro. Essa seria uma medida de emergência capaz de, ao menos, refrear o aumento da frota das metrópoles brasileiras. “A cidade de São Paulo ganha 200 mil novos veículos por ano. Para manter o trânsito como está, seria preciso construir 50 quilômetros de avenidas de mão dupla, com 4 faixas de cada lado, anualmente”, diz o urbanista Cândido Malta Filho, da USP.
Como seria no Brasil?
O passo-a-passo da implantação do sistema em uma grande cidade brasileira
1. Sem parar
Sempre que o carro entrar em uma região pedagiada, um chip instalado no pára-brisa avisa as antenas pelo caminho. Em alguns países, o sistema é monitorado por câmeras.
Mais um imposto?
Sim. Mas, segundo os estudiosos, essa seria uma forma de mandar a conta apenas aos responsáveis pelo trânsito, e não a todos, como acontece hoje.
2. Lata de sardinhas
Quem não quiser pagar a taxa de cerca de R$ 4 vai procurar os ônibus e o metrô. De imediato, o sistema público de transporte ficaria sobrecarregado, piorando ainda mais a qualidade do serviço.
Qual é a opção?
Este é o maior problema: nenhum outro país carente de transporte público implantou pedágios urbanos. O Brasil seria a cobaia.
3. Sem milagres
Essa tarifa não seria suficiente para acompanhar o aumento da frota nacional, que cresce 3,8% ao ano. A médio prazo, o pedágio apenas manteria o trânsito como ele está hoje. Mas, nesse caso, não piorar já é uma boa notícia.
4. Investimento em metrô
A arrecadação de um ano de taxa seria suficiente para construir 12,5 km de metrô. Em tese, em cerca de 5 anos, o transporte seria capaz de acomodar a demanda causada pela implantação do pedágio.
5. Ex-motoristas
Com o o aumento da frota de ônibus e a expansão das linhas de metrô, mais gente se tornaria adepta do transporte público, reduzindo efetivamente o número de carros nas ruas.
6. Quase europeus
É nesse ponto que outros países costumam adotar o pedágio urbano – com transporte público abrangente e capaz de suportar um aumento imediato do número de passageiros. Se tudo correr bem, chegaríamos a esse ponto em cerca de 10 anos.
7. Custo/benefício
Neste estágio, carro será um artigo de luxo. Mas quem de fato precisar dele não vai ter do que reclamar: a redução de 15% no tempo da viagem e de 30% nos atrasos e a economia em freio, embreagem e câmbio podem compensar o investimento.
8. Apoio popular
A rejeição inicial ao pedágio não costuma durar muito. Em Londres, o prefeito Key Livingstone foi reeleito após implantar o sistema. Em Estocolmo o voto popular aprovou o pedágio provisório. A tendência é que pedestres e motoristas tenham melhores condições de locomoção, com redução nos índices de poluição e acidentes.
Fontes Thiago Guimarães, economista especializado em mobilidade urbana e autor do estudo Pedágio Urbano: Teoria e Prática (FEA-USP); Cândido Malta Filho, urbanista da USP.