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Projeção Astral: Viagens fora do corpo

Não são poucas as pessoas que relataram a sensação de se desprender do corpo durante o sono.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 abr 2023, 15h52 - Publicado em 30 abr 2005, 22h00

Marcos de Moura e Souza

Numa madrugada há pouco mais de 20 anos, o médico urologista carioca Luiz Otávio Zahar teve a sensação de acordar no meio da academia de ginástica que costumava freqüentar. As luzes estavam apagadas e não havia ninguém usando os aparelhos de musculação nem circulando pelos corredores. O médico percorreu o espaço de um lado para o outro, sentindo-se absolutamente consciente. Mas seu passeio noturno, segundo Zahar, tinha uma peculiaridade: ele via tudo do alto, como se estivesse suspenso, flutuando.

Não foi a primeira vez que Zahar experimentou aquela sensação. Desde a adolescência, sentia-se plenamente acordado no meio de algumas noites, circulando por lugares às vezes conhecidos, às vezes não. Descobriu que alguns davam a essa curiosa experiência o nome de projeção astral, outros de experiência extracorpórea, desdobramento ou projeção da consciência. Zahar acabou por acostumar-se e aceitar alguns desses diagnósticos, mas mantinha consigo uma dúvida secreta sobre a veracidade de suas sensações e visões.

Naquela madrugada na academia, porém, Zahar resolveu pôr à prova a tese de que realmente conseguia – como tantas outras pessoas dizem conseguir – sair do corpo, manter o estado de vigília e usar os sentidos para observar coisas concretas. “Eu não deixo de ser, fora do corpo, aquele médico cartesiano que sou, que quer comprovar as coisas. Pensei: ‘tenho de fazer alguma coisa para provar a mim mesmo essa experiência’. Então vi um parafuso esquecido no alto de uma máquina de exercício. Acordei e anotei”, conta. No dia seguinte, foi até a máquina. Para ver o que havia em cima dela, precisou subir em um banco. Do chão, era impossível enxergar. “Subi e vi o parafuso lá.”

Para a ciência convencional, a idéia de que podemos sair do corpo não apenas está longe de ser provada como soa absurda. Afinal, a ciência não acredita em “espíritos”. Não aceita a idéia de uma “essência” vivendo dentro do nosso corpo – portanto, não dá nem para imaginar que seja possível um se separar do outro. Segundo o modelo científico, somos nosso corpo: nossa essência, inseparável de nós, está dentro das nossas células, em especial nas do cérebro. Está justamente no cérebro a explicação dos cientistas para esse fenômeno – e ela é bem prosaica, quase decepcionante (veja no quadro à direita).

Há quem acredite, no entanto, que o ser humano seja capaz de se desprender do corpo durante o sono, de se deslocar através de paredes, de viajar distâncias a velocidades impensáveis, de interagir com outros que estão no mesmo estado ou mesmo com quem já morreu. Tudo isso sem perder a consciência, o pensamento lógico e o comando sobre seus movimentos, tal qual fazemos durante o dia. Antonio Cesar Perri de Carvalho e Osvaldo Magro Filho, autores de um livro chamado Entre a Matéria e o Espírito (O Clarim, 1990), fizeram uma compilação de relatos sobre personalidades que teriam vivido experiências extra-sensoriais. Um deles teria sido o astrônomo alemão Johannes Kepler (1571-1630), que tentou decifrar o movimento dos planetas numa época em que os telescópios ainda estavam em uma fase inicial. “Todas as observações dos séculos anteriores estabeleciam apenas os movimentos aparentes porque tinham sido feitas de uma plataforma móvel – a própria Terra”, conta seu biógrafo, Robert Strother. “Kepler superou isso transportando-se pela imaginação para fora do sistema, olhando para baixo de um ponto no espaço.” O próprio Kepler narrou em um de seus livros, Somniun, a história de um personagem que viajava em sonhos para a Lua. A descrição da superfície lunar confere com o que, séculos depois, veio a se conhecer de fato.

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Sobre o físico Albert Einstein, o criador da Teoria da Relatividade, o livro Entre a Matéria e o Espírito cita simplesmente um trecho de uma biografia do cientista no qual ele revela a um amigo que tinha concebido suas idéias revolucionárias “através de uma visão”.

Sonhos de Jung

O psiquiatra suíço Carl Jung parece ter ido mais além no terreno das experiências raras. Ele escreveu sobre fatos estranhos que teriam ocorrido em sua casa – como móveis que se partiam sozinhos sem motivo aparente. O criador da psicologia analítica escreveu também sobre sua capacidade de, às vezes, saber de fatos sobre alguém sem que ninguém os tivesse contado. Em 1944, vitimado por um enfarte, descreveu uma visão que alguns consideram uma experiência de projeção astral. “Parecia-me estar muito alto no espaço cósmico. Muito abaixo de mim, vi o globo terrestre banhado de uma maravilhosa luz azul (…) O espetáculo de ver a Terra dessa altura foi a experiência mais feérica e maravilhosa da minha vida.”

Quem diz já ter vivenciado uma experiência desse tipo enfatiza: a lembrança do que acontece é a mesma que se tem de um fato vivido durante o dia, quando se está acordado e de olhos bem abertos. E que essas lembranças nada têm a ver com as de sonhos – por mais reais que estes às vezes pareçam. “As saídas do corpo são estudadas desde a Antigüidade, especialmente no Oriente. Mas era um conhecimento vetado, do campo de cada doutrina”, diz Wagner Borges, escritor, conferencista e pesquisador do assunto. Autor de sete livros e fundador do Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas (IPPB), Borges dá em suas palestras dicas para quem quiser passar pela experiência extracorpórea de forma consciente. Uma das primeiras perguntas que costuma ouvir é: e se o espírito se desprender para sempre? Para Borges, isso é impossível, já que o corpo, enquanto houver vida, manteria uma conexão indestrutível – “um feixe de energia”, como ele descreve – com o espírito.

Borges, de 43 anos, diz já ter passado por várias experiências desse tipo. As primeiras aconteceram aos 15 anos. “Passava um sufoco. Acordava e não conseguia me mexer”, conta, falando de um “sintoma” comum num processo de projeção. “Uma vez tentei me acalmar, me soltei e vi meu corpo deitado.” Esse seria um dos efeitos da projeção: ver a si mesmo no quarto, deitado, dormindo, exatamente como se realmente está. Em outros casos, o que se vêem são cenários desconhecidos e outras pessoas “projetadas”, pessoas e até mesmo animais, diz Borges. O nível de consciência, segundo ele, varia conforme a ocasião.

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O contador paulista Fernando Augusto Golfar, de 37 anos, afirma que vive projeções desde os 6 anos. Contava a seus pais episódios vivenciados por parentes já mortos com os quais falava durante as experiências e visões de lugares que lembrava ter visto dias antes de visitá-los com a família. Por via das dúvidas, a mãe o levou algumas vezes a uma benzedeira. As experiências prosseguiram. “Geralmente me vejo em locais de assistência, hospitais, áreas carentes, enterros ou ajudando usuários de drogas”, conta. Assim como Borges, Golfar afirma ter desenvolvido sua mediunidade. Para ele, isso ajuda em suas projeções astrais, mas não é um requisito fundamental.

O médico Zahar concorda. Agnóstico convicto, ele prefere outra explicação. “Acho que há níveis de consciência e de planos de realidade que ainda não conhecemos.” Curioso e interessado por relatos como os dele, o médico criou em 1999 um grupo de discussão na internet sobre o assunto. O fórum conta hoje com 924 participantes.

Noites maldormidas?

Para neurologista, experiências de projeção astral podem ser atribuídas a problemas relacionados ao sono

Para a medicina convencional, as projeções astrais podem ser explicadas meramente como problemas relacionados ao sono. Segundo o neurologista Rubens Reimão, chefe do Grupo de Pesquisas Avançadas de Medicina do Sono do Hospital das Clínicas, o quadro relatado pelos “projetores” pode ser associado ao que os médicos chamam de alucinação hipnagógica (que ocorre ao cair no sono) e paralisia do sono. As alucinações acontecem quando a pessoa entra abruptamente no estágio de REM (rapid eyes movement, ou movimento rápido dos olhos), que é quando acontecem os sonhos. Normalmente, chega-se a essa fase depois de uns 90 minutos de sono. Mas às vezes mergulhamos nela durante um descuidado cochilo.

“Em geral, a pessoa sonha com o lugar e o momento em que está. Se cochila numa sala de aula, é comum sonhar com alguém falando com ela na sala. E o sonho é tão real que, ao despertar, ela não sabe se aquilo aconteceu ou não”, diz Reimão. Segundo ele, qualquer pessoa pode passar por isso, principalmente se não dormiu o suficiente durante a noite. Já na paralisia do sono, a pessoa acorda, mas sente que simplesmente não pode se mexer nem abrir os olhos e parece estar vendo o próprio quarto.

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