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A polícia que prende e não arrebenta

Muita gente confundiu as UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora do Rio, com os carros das milícias. Felizmente, o Coronel Nascimento não tem com o que se preocupar: elas não têm nenhuma relação

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 25 mar 2011, 22h00

Mauricio Svartman

No Rio de Janeiro de Tropa de Elite 2 existem dois tipos de policiais. O primeiro, miliciano, é corrupto e violento.

O segundo, do Bope, tende a ser mais honesto. E mais violento – quem mora no morro está sob a ameaça constante de uma bala perdida. Nos últimos anos, porém, surgiu uma tentativa de levar às favelas uma polícia honesta, que traga às comunidades aquilo que todo mundo busca: segurança para tocar a vida em paz. As UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora, têm essa função.

Contudo, muita gente saiu do cinema confundindo milícias com UPPs. Então, para esclarecer: como disse o próprio Wagner Moura, o Coronel Nascimento do filme, as UPPs não são retratadas em Tropa 2. As UPPs surgiram no final de 2008 com o objetivo de ocupar as favelas com policiais recém-formados, gente com pouca chance de ter sido assediada por colegas corruptos, 24 horas por dia. O efeito foi imediato: na Cidade de Deus, uma comunidade de 60 mil habitantes cuja violência foi imortalizada no filme de Fernando Meirelles, o número de assassinatos caiu de 29, em 2008, para 13 em 2009. No 1º semestre de 2010, foram “apenas” dois. Um dos motivos do sucesso é uma avaliação realista: não é possível eliminar o tráfico de drogas de uma hora para outra. O próprio Coronel Nascimento do filme percebeu o quanto essa tarefa é difícil. O objetivo das UPPs é banir as armas de fogo e diminuir a criminalidade antes da Copa de 2014. O Rio de Janeiro vai receber a final do torneio.

A mente por trás das UPPs é a do Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, gaúcho de 53 anos, ex-delegado da Polícia Federal, que ocupa o cargo há quase 4 anos – um recorde. A inspiração surgiu de uma bem-sucedida experiência colombiana em Bogotá e Medellín, que conseguiram reduzir suas altíssimas taxas de homicídios. Hoje, o Rio conta com 13 UPPs, cada uma com pelo menos 100 policiais militares (a maior, na Cidade de Deus, passa dos 300). Eles recebem um bônus de R$ 500 como parte do esforço de mantê-los longe da corrupção. Até 2014, a projeção é de 40 UPPs, ocupadas por 12 500 PMs (hoje, o efetivo total na cidade é de 40 mil homens).

Para ganhar a confiança das comunidades, os PMs oferecem um programa que vai além da pancadaria: aulas de caratê, inglês, espanhol, música, teatro, economia doméstica, além dos ensinos fundamental e médio. O capitão da UPP do morro da Providência, Glauco Schorcht, foi ainda mais longe: organizou um baile de debutantes no qual ele e outros policiais participaram como “príncipes”. “Na Providência tinha um baile funk muito famoso patrocinado pelo tráfico, que acabou proibido com a chegada das UPPs”, explica Schorcht. “Então busquei algo novo para nos aproximar da comunidade”, conclui. Hoje, há uma lista de espera para a participação dos policiais em eventos similares em outros morros da cidade.

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Como em qualquer ação que se origine no governo, há quem critique as UPPs – ainda que poucos se oponham à existência delas. As principais ressalvas são:

1) as UPPs privilegiam a zona sul do Rio, mais rica, em detrimento da zona norte, mais violenta;
2) não haveria policiais suficientes para ocupar todas as favelas;
3) elas seriam fruto de um objetivo puramente eleitoreiro do governador Sérgio Cabral.

A Secretaria de Segurança justifica a medida com o seguinte argumento: acuados nas menores comunidades, os bandidos migrariam para um centro maior e, concentrados, seriam mais facilmente combatidos. De acordo com a inteligência da polícia, a maior parte dos traficantes dos morros ocupados pelas UPPs realmente migrou. Muitos deles foram para o Complexo do Alemão – um conjunto de 13 favelas cujo centro é o Morro do alemão, na zona norte. Para instalar uma unidade ali, no entanto, seriam necessários cerca de 1 000 policiais militares. A experiência na zona sul, de certa forma, é um laboratório para operações mais arriscadas no futuro.

Quanto à falta de homens, o problema não é nem tanto o número de vagas – o governo tem feito concursos para preencher os postos. O principal obstáculo é encontrar pessoas preparadas para cumprir a função: os concursos públicos mais recentes não preencheram nem 50% das vagas, porque as pessoas não tinham qualificação mínima para o trabalho.

Se as UPPs tiveram como alvo as urnas, deram certo: Cabral foi reeleito com 66% dos votos válidos. Esse também é o reflexo de uma boa máquina de propaganda. Além do aumento do orçamento de “comunicação e divulgação”, de R$ 67 milhões para R$ 92 milhões, Beltrame teve centenas de almoços e entrevistas com jornalistas brasileiros e estrangeiros. Em outubro, reportagem do New York Times com uma foto de PMs em meio a bebês em uma creche da Cidade de Deus teve grande repercussão mundo afora. Se as UPPs mostrarem que realmente é possível levar a polícia do asfalto para o morro, talvez dê até para imaginar um Tropa de Elite 3 em que o Coronel Nascimento e o deputado Fraga dividam uma cerveja na Favela da Rocinha.

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Filme
As UPPs não aparecem no filme, mas elas tiveram um papel fundamental nas filmagens. Foi por causa do trabalho de pacificação delas que as cenas de ação puderam ser rodadas no morro Dona Marta.

 

 

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