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Vulcões: Montanhas de fogo

As impressionantes imagens de vulcões, seus rios de lava e plumas de rochas pulverizadas são um testemunho de que o planeta continua cheio de vitalidade.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 30 nov 1993, 22h00

O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) costumava dizer que os terremotos e vulcões, justamente por sua força trágica, indomável, tinham o dom de manter o espírito humano alerta e humilde diante da natureza. Somente um grande poeta poderia entrever essa virtude tortuosa, em fenômenos que causam tanto sofrimento. Mas é fácil admitir que ela existe quando se vêem as fotografias recentes das erupções, rios de lava e monumentais plumas de cinza vulcânica. São manifestações de vitalidade do planeta, que os fotógrafos aprenderam a traduzir em imagens de impressionante realismo.

Não por acaso, essa arte segue o impulso sem precedentes, registrado nos últimos dez anos pela vulcanologia, a ciência dos vulcões. Muitos cientistas atribuem uma data precisa a esse avanço: a manhã do dia 18 de maio de 1980. Foi quando o Monte Santa Helena, após 123 anos de aprazível quietude, no noroeste dos Estados Unidos, finalmente se moveu. Parte da parede norte de seu cone, com 1 000 metros de altura, veio abaixo um pouco antes da explosão que espalhou rochas, cinzas e chamas sobre uma área de 500 quilômetros quadrados. A erupção foi acompanhada passo a passo pelos pesquisadores, como nunca se fizera em fenômenos desse porte, e pela primeira vez se registraram alguns dos indícios que os precedem.

Meses antes daquela avalancha, por exemplo, a parede norte do monte se abaulara de modo quase imperceptível, mas o bastante para que se previsse o desastre à frente. Isso não impediu imensos prejuízos, nem a morte de 57 moradores da vizinhança. Um problema é que não basta prever como vão se comportar as entranhas da Terra: mesmo que se soubesse fazer isso, não haveria como colocar em segurança os milhares de pessoas que vivem próximas aos vulcões, e muito menos evitar danos às suas casas e negócios. Uma ilustração viva dessa dificuldade foi a erupção do vulcão filipino Pinatubo, que não escondeu de ninguém sua disposição de ressuscitar em grande estilo, em 1991, após um sono de 600 anos.

No início de abril, dois meses antes da explosão principal — uma das maiores vistas neste século —, o gigante de quase 6 000 metros de altura passou a despejar no ar incontáveis toneladas de grossas cinzas e gases. Essa fuligem geológica, poucas vezes explicada com clareza, não é outra coisa que a própria lava, ou rocha fundida, transformada em pó pela violência com que é dispersada no ar. A origem primária da lava é a matéria do manto, imenso abismo ardente sobre o qual flutua a crosta rígida do planeta — que em comparação com o manto não passa de uma casca de ovo, embora sobre ela repousem os oceanos e continentes.

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O manto existe num estado físico incomum: é constituído por rochas sólidas, mas estas estão submetidas a pressões e temperaturas tão altas que se tornam fluidas e se movem constantemente, carregando junto o leito dos oceanos e os continentes. Agora se sabe que o Pinatubo, por volta do final de março, estava sendo alimentado por rochas fluidas provenientes do manto, o chamado basalto. Este, então, passou a se acumular na câmara de magma, um grande depósito de matéria nova, originária das entranhas da Terra, existente sob os vulcões. O conteúdo da câmara, em seguida, começou a ser arremessado ao ar como formidáveis colunas de cinza e gases.

Uma das muitas maneiras de avaliar as condições de um vulcão é examinar a incrível rede de depósitos de lava à sua volta. No Havaí, por exemplo, há tubos de lava em fluxo permanente que podem ser estreitamente monitorados. No caso do Pinatubo, um aumento brutal no conteúdo de dióxido de enxofre denunciou a presença de magma novo sob o vulcão. O passo seguinte foi verificar que espessos depósitos de cinza e lava se estendiam a regiões muito distantes do vulcão, sinal de que suas erupções obedeciam a uma tradição de violência.

Em meados de junho, afinal, percebeu-se que a explosão era iminente porque dobrou o volume de lava nos domos, depósitos de lava junto ao topo, ou cone da montanha. Isso posto, é claro que houve algum tempo para providências, e de fato 200 000 pessoas puderam ser retiradas da área de maior perigo. Mesmo assim, no final das contas, houve nada menos que 900 mortes e 42 000 famílias ficaram sem lar. Os vulcanólogos acreditam que essa situação deve melhorar, em futuro próximo. O otimismo se deve à maior persistência no estudo dos fenômenos e na maior freqüência das análises.

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Hoje ainda, o foco maior das pesquisas incide sobre os cinco vulcões do Havaí, especialmente sobre o Kilauea, assim como seus deslizamentos de solo e derrames de lava (que em menos de dez anos aumentaram a maior ilha do arquipélago, a Grande Havaí, em 1,2 quilômetro quadrado). Eles também são os mais conhecidos do público porque são visitados por grande número de turistas, e também porque os fotógrafos fazem acrobacias — até debaixo de água — para retratá-los em todos os aspectos. Diversas outras regiões, porém, começam a ser estudadas com regularidade. É o caso das Filipinas, onde apenas a Ilha de Luzon, sede da capital Manila, contém treze vulcões ativos.

Também o Japão amplia seus quadros de especialistas e atrai outros de todo o mundo. Lá morreram os respeitados vulcanólogos franceses Maurice e Katia Krafft, durante a erupção do Unzen, em junho de 1991. Outros países importantes são os da costa oeste da América Latina, ou os da região nórdica, como a Islândia. Para seus habitantes, a ciência não promete apenas segurança. Ao lado da arte, ela enseja uma mudança do medo natural para uma compreensão melhor do mundo em que vivem.

Para saber mais:

As janelas da Terra

(SUPER número 2, ano 3)

Procura-se um buraco de 200 quilômetros

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(SUPER número 10, ano 5)

1 000 léguas subterrâneas (SUPER número 8, ano 10)

Vozes do inferno

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(SUPER número 1, ano 7)

Gelo e fogo

O estreito contato do frio dos pólos com o calor dos vulcões cria fenômenos caprichosos na pequena Islândia, a noroeste da Grã-Bretanha. Vapores vulcânicos que exalam das rochas às vezes esculpem brancas cavernas sob imensas geleiras, ou transformam águas frígidas em sofisticadas termas. Isso, sem falar na minúscula ilha Surtsey, que, graças a uma erupção submarina no início dos anos 60, aflorou do fundo do mar e concedeu aos islandeses um gratuito acréscimo de território.

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