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Arte: Medidas divinas

Os padrões clássicos de beleza geraram obras-primas, mas não resistiram ao tempo.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 14 nov 1999, 22h00

Spensy Pimentel

Se o belo é sinônimo de divino, como pensavam os gregos, então os arquitetos, os músicos e os artistas plásticos brincam de Deus o tempo todo. A busca dos padrões da perfeição estética levou o escultor grego Policleto, do século V a.C., a estabelecer os chamados cânones, regras que orientavam a confecção das estátuas a partir de determinadas proporções entre as partes do corpo humano. O comprimento da cabeça deveria corresponder a um oitavo da altura total, e o do braço, a três palmos.

Esses conceitos, retomados pelos mestres do Renascimento no século XV, produziram obras-primas que até hoje nos deixam embasbacados, mas caíram em desuso. O impressionismo, no século XIX, rompeu as amarras que vinculavam a arte a padrões rígidos e a ciência demoliu as últimas dúvidas. Em 1987, o antropometrista americano Leslie Farkas mediu as proporções faciais de cinqüenta das modelos mais belas do planeta e concluiu que os cânones pouco têm a ver com a realidade. Várias das medidas se mostraram irrelevantes, como os ângulos relativos da orelha e do nariz. Outras eram inexatas – a distância entre os olhos das modelos era maior do que a sugerida pelo cânone. Ou serviam igualmente para as bonitas e as feias.

“Os artistas clássicos devem ter se enganado em relação à natureza fundamental da beleza humana”, comentou a psicóloga americana Nancy Etcoff, do Hospital Geral de Massachusetts. Trata-se, segundo ela, de algo complexo demais para se medir com régua e compasso.

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Feio, porém bonito

Diga a verdade: você acha bonita a figura aí ao lado? Claro que não. Mesmo assim, muita gente adoraria pendurar na parede um quadro como este, intitulado Um Busto de Mulher. Seu autor, o catalão Pablo Picasso (1881-1973), é um dos maiores pintores de todos os tempos. No início do século XX, os modernistas como ele desafiaram os padrões clássicos de beleza. No começo, o público achava estranhas essas obras. “Hoje, o que era novidade já está incorporado ao gosto comum”, explica José Leonardo do Nascimento, professor de História da Cultura na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Há quem se disponha a pagar uma fortuna por este retrato de mulher, apesar das suas linhas tortas e desproporcionais – ou melhor, justamente por causa delas.

Este desenho, revelador do interesse de Leonardo da Vinci (1452-1519) pelas medidas humanas ideais, foi publicado como ilustração de um livro intitulado Sobre a Divina Proporção. Segundo seu autor, o monge franciscano Luca Pacioli, Deus escolheu o corpo humano como um código para expressar a fórmula de tudo o que é belo. Repare que, a partir das extremidades da figura, Da Vinci traçou um círculo e um quadrado. Ambos perfeitos

Números dourados

Matemática define as formas perfeitas.

Ninguém levou a beleza tão a sério quanto os antigos gregos. Eles olhavam para a natureza e ficavam imaginando se seriam capazes de reproduzir aquilo que os deuses desenharam. Dessa procura resultou o número áureo, ou seja, de ouro – uma fórmula matemática para definir a harmonia nas proporções de qualquer figura. Para chegar lá, você pode pegar uma linha e cortá-la de tal modo que a proporção entre o pedaço menor e o pedaço maior seja igual à que existe entre o pedaço maior e o todo. Dividindo uma coisa pela outra, os gregos chegaram ao número irracional que começa com 1,618. Difícil? Olhe, então, no infográfico ao lado, para a fachada do Partenon, um dos principais templos gregos, construído no século V a.C. Suas linhas formam um retângulo que obedece exatamente às dimensões áureas. Suspeita-se que a fórmula tenha surgido da simples observação do homem por ele mesmo. Como nós temos relações proporcionais em nosso corpo, era de se esperar que considerássemos harmoniosas as formas que tivessem relações semelhantes.

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A fachada do Partenon, o principal templo de Atenas, foi construída como um retângulo que expressa a idéia clássica das proporções ideais. Se você cortá-lo de modo a formar um quadrado, vai sobrar um retângulo menor, em posição vertical, cujas proporções serão iguais às da figura original.

De acordo com o ideal grego de perfeição estética do corpo, as relações entre as suas partes devem ser regidas por medidas áureas. O umbigo marca um ponto áureo no comprimento do corpo. A mesma proporção deve ocorrer na cabeça (dividida pela linha dos olhos), na distância entre o nariz e a boca e também na mão, onde as falanges marcam pontos áureos nos dedos.

Há um ponto em qualquer segmento de reta que pode ser chamado de ponto áureo. Para encontrá-lo, você divide o comprimento total pelo número irracional 1,618…

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No exemplo à esquerda, com uma linha de 7,9 centímetros, o resultado dessa divisão foi de 4,9 centímetros – a distância entre qualquer uma das extremidades e o ponto áureo.

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