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Atualizado em 31 out 2016, 19h01 - Publicado em 16 jan 2010, 00h00

O Bestiário cósmico que nos rodeia

Conversas sobre o invisível, Jean Audouze, Michel Casse e Jean-Claude Carrière, Editora Brasiliense, São Paulo, 1991.

Você imagina o Universo como o reino da ordem? A palavra céu lhe inspira paz, luz, eternidade? Pois trate de arranjar outro lugar para projetar esses conceitos arcaicos. O céu que é apresentado em Conversas sobre o invisível nada tem de arrumadinho, de perfeito. É um Universo sem maquiagem, marcado por morte, violência, transformação e vida. O céu, hoje, é mais parecido com um bestiário, um zoológico, do que com o arranjo de etéreas esferas de cristal.

Nos diálogos entre os astrofísicos Jean Audouze, Michel Casse e o escritor Jean-Claude Carrière desfilam todos os atores que compõem o Cosmo moderno. Não é, entretanto, este aspecto de totalidade o que mais distingue o livro. O clima de conversa informal produz resultados surpreendentes, inatingíveis em textos escritos só por especialistas. A interrupção do discurso científico quebra seus automatismos, seus longos encadeamentos lógicos, tornando o texto digerível, menos hermético.

A participação de Jean Claude Carrière, roteirista de filmes famosos como Danton, de Andrazej Wajda, Casanova e a Revolução, de Ettone Scola, A insustentável leveza do ser, de Philip Kaufman e outros, foi fundamental para situar as concepções cosmológicas num contexto mais abrangente do pensamento humano. O leitor não deve, no entanto, esperar um texto de amenidades. A Cosmologia é a mais antiga das ciências, acumulando contribuições dos mais refinados pensadores de todos os tempos. É preciso abrir novos horizontes na mente para que possam caber os elaboradíssimos conceitos da Física Quântica e as intrigantes descobertas da Astrofísica moderna.

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A título de consolo, vale lembrar que o próprio Einstein relutou em aceitar a expansão do Universo e a natureza probabilística dos movimentos quânticos. Com um certo empenho, o leitor poderá visualizar as relações entre as partículas subatômicas e o Universo como um todo. Esta é a óptica produtiva para analisar as relações entre o micro e o macrocosmo, tantas vezes tratadas de modo estéril e fácil por um certo tipo de literatura sempre pronto a explorar o impulso que sentimos por temas que transcendem o cotidiano.

Apesar de a Cosmologia ter como pressuposto a máxima simplicidade, não seria lícito esperar dela uma descrição simplória do mundo. Mais do que um ser complexo, o Universo se recusa a ser enquadrado em nossas categorias mentais. Para descrever os quarks, por exemplo, que formam a estrutura fundamental da matéria, nos chocamos com os próprios limites da linguagem. Como falar das quantidades “cor” e “sabor” que os definem? E o que dizer das famílias em que os cientistas os organizaram como a dos “charmosos”, a dos “estranhos”, dos “para cima”, dos “para baixo”, dos da “parte de baixo” e dos da “parte de cima” – estes últimos ainda não encontrados. Nós e todos os astros somos feitos dessas coisas inomináveis. Isso nos torna menos conhecidos, mais estranhos. Menos mal, pois assim podemos ficar à vontade neste bestiário cósmico que nos circunda. Os atores do espaço em grande escala também mudaram. Longe vai o tempo em que planetas à imagem dos deuses do Olimpo conduziam os destinos do mundo.

Hoje sabemos que eles não são mais que minúsculos grãozinhos de corpos rochosos em volta de uma estrela. Grudados neste mirante giratório, estão bilhões e bilhões de estrelas. Foi-se o tempo em que o Universo era pensado como uma sucessão infindável de estrelas. Neste século, descobriu-se que ele é preenchido por imensos grupos de galáxias. E se pensava que bastava contá-las e adicionar a luz fóssil que existe em todo o espaço para se recensear o Universo.

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O tempo em que esses “universos-ilhas” eram os atores principais do cenário cósmico também está terminando. Primeiro, vieram os neutrinos, partículas sem carga; e devem ser tantos que, se tiverem massa, por mínima que seja, sua soma deve superar a de todas as galáxias. Assim, o lado invisível do Universo talvez seja mais importante que o visível.

Outra grande personagem do lado escuro do céu está entrando em cena. Como apresentá-la, se mal começou e já ameaça roubar o papel principal? Ela não é feita de matéria nem de antimatéria do tipo que se conhece até agora. Não emite luz e é transparente. Por falta de um nome melhor é chamada de “matéria escura”. Tudo o que foi mapeado até agora, os enxames de galáxias, os quasares, todas a matéria luminosa, parece ser apenas uma leve espuma arrastada por turbilhões de “matéria estranha”. Ela seria a verdadeira condutora dos ritmos de expansão e possível retração do Universo. E a matéria luminosa, apenas a ponta do iceberg cósmico.

Estranho barco este em que estamos metidos: não sabemos ao certo de que é feito nem conhecemos as leis que traçam o seu rumo. Nós, aqui, significa nosso pesquisadores, nossos cosmólogos. Desprovidos de uma ciência determinista e triunfante como a do século passado, eles navegam num espaço sem balizas. Isto requer uma nova atitude. Em vez de impotência diante do grande invisível, os autores revelam humildade, abertura de espírito, disposição de pesquisar sempre, em todas as direções, sem idéias preconcebidas, sem cair no erro de criar um Universo à imagem e semelhança de seus desejos.

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Essa é uma luta difícil, pois no trabalho científico existe uma parte de descoberta e outra de criação. Por despercebido narcisismo ou limite de imaginação, a criatura sempre se parece com o criador ou com o que ele sonha ser. Aos leitores aconselho um pouco de paciência, uma leitura mais vagarosa. Mesmo deixando de lado as dificuldades com os conceitos da Física, trata-se de uma reprodução de conversa de gente grande, com amplas referências culturais. Mesmo em ambientes profissional não se consegue apreender rapidamente mais que algumas poucas idéias novas por vez. E o livro tem muitas delas.

Augusto Daminelli Netto é astrônomo do Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo e presidente da Sociedade Astronômica Brasileira

O sonho não acabou

A ilha prometida, Anka Muhlstein, Companhia das Letras, São Paulo, 1991

A principal metrópole do mundo, Nova York, foi a única cidade da América do Norte fundada por holandeses. Por esse motivo é que se chamou inicialmente No-va Amsterdam, até ser conquistada pelos ingleses. A história da ilha de Manhattan, do século XVII (sua fundação se deu em 1609) até os dias de hoje é narrada pela autora, francesa radicada nos Estados Unidos, que tem em sua bagagem as biografias da rainha Vitória da Inglaterra e de James de Rothschild. Povoada por europeus, quinze anos depois de seu surgimento, em Nova York se falavam quinze línguas diferentes. De lá para cá, muita coisa mudou, a cidade cresceu, mas continua sendo o destino e o sonho de centenas de milhares de imigrantes.

Origens curiosas

O homem e a medicina, Ritchie Calder, Hemus, São Paulo, 1991

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Ao longo da história, a prática médica incorporou os rudimentares conhecimentos do homem no combate a doenças graves. Um exemplo é o do marinheiro acometido de escorbuto que foi abandonado pelos companheiros numa ilha. Sozinho e faminto, ele passou muitos dias alimentando-se da única coisa que estava ao seu alcance: limões. E se curou. Esse e outros casos curiosos foram reunidos pelo autor, especializado em divulgação científica, e estão na origem da Medicina moderna.

O homem no Cosmo

Nosso lugar no Universo, J.J.C. Smart, Siciliano, São Paulo, 1991

Trata-se de uma série de conferências pronunciadas em 1987 pelo autor na Universidade de Adelaide, na Austrália. O tema central é o modesto lugar que o homem ocupa na imensidão do Universo. Escrito de forma acessível destina-se tanto aos que têm quanto aos que não têm formação científica. Ao fim de cada capítulo, Smart faz sugestões de leitura e dá referências bibliográficas aos interessados em seu aprofundar nas polêmicas questões abordadas, sobre as quais não existe um consenso geral.

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Apesar dos preconceitos

Eleonor de Aquitânia, Marion Meade, Editora Brasiliense, São Paulo, 1991

Rainha da França e mais tarde da Inglaterra, mãe de um herói – Ricardo Coração de Leão – e de um vilão – João Sem Terra -, ela foi uma figura determinante no século XII, apesar da ausência de direitos que se conferia às representantes do sexo feminino. De acordo com a autora desta biografia. Eleonor era uma mulher muito culta, inteligente, extremamente enérgica, bela e corajosa. Para chegar a governar teve de lutar muito. Como ela nada deixou de pessoal – cartas ou poemas, por exemplo – , a não ser uns poucos decretos de rotina, a biógrafa Marion Meade teve de recorrer a fontes de cronistas dos séculos XII e XIII, mesmo sabendo dos preconceitos que eles nutriam por mulheres independentes.

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