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A máfia do stress

Relato do livro sobre os gângsteres mafiosos italianos.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 31 jan 1992, 22h00

Vivos, no cinema, os gângsteres mafiosos têm pose agressiva, peito estufado, roupas vistosas, comportamento exuberante e cruel. Ostentam mulheres bonitas e a carteira recheada de dólares. Mortos, na vida real, revelam na mesa de autópsia as marcas de um cotidiano marcado pelo medo e angústia. O exame acusa uma existência atribulada, com uma sucessão de frustrações, estresse intenso, contínuo, sem intervalos de serenidade. O retrato dessa vida infeliz foi traçado, ao longo dos últimos trinta anos, pelo professor italiano Francesco Aragona, que dirige o Instituto de Medicina Legal da Universidade de Messina, na Sicília. Desde os anos 60, ele se dedica à autópsia de mafiosos e é o perito médico legal de muitos tribunais na Sicília e da Calábria, as duas regiões da Itália que mais padecem da ação desses criminosos. Segundo o professor, sob a fachada arrogante e segura de si, o mafioso tem sérios problemas de saúde: seu dia-a-dia turbulento afeta de maneira impressionante o coração, o cérebro, as glândulas supra-renais e até os testículos ou os ovários, conforme o sexo.

O resultado desse extenso trabalho acaba de ser publicado no livro Ndrangheta, viver de estresse, morrer como mafiosos. “Ndrangheta” é como a máfia é conhecida na Calábria, que corresponde à ponta da bota da península italiana, região de onde provém a maioria dos corpos de mafiosos examinados por Aragona. A palavra, segunda lingüistas é de origem grega: deriva de aghatia, cujo sentido é nobreza de caráter e andros, que significa homem.
Especialista nas alterações orgânicas provocadas pelo estresse. Aragona começou a se interessar pelos mafiosos quase por acaso. A princípio, ele apenas estudava casos de pessoas mortas depois de períodos de estresse intenso, breve ou prolongado, como suicidas e pacientes que morriam durante uma cirurgia ou depois de um longo período de hospitalização. No entanto, o pesquisador precisava de corpos normais, para fazer comparações. Buscou então vítimas de mortes instantâneas, em acidentes ou tiroteios. E não deu em outra: “Minha surpresa foi descobrir que as vítimas de assassinatos, quase todas fichadas como mafiosos na policia, não apresentavam um organismo normal, como imaginava.

Ao contrário, elas tinham marcas ainda mais dramáticas de estresse”, conta o professor a SUPERINTERESSANTE. “Por isso, decidi fazer um estudo sistemático sobre a anatomia dos mafiosos.” Segundo o professor o aumento da violência entre as diversas famílias da máfia, nos últimos anos, teve uma enorme repercussão no organismo dessas pessoas. “No ano passado, encontrei doenças cardíacas graves nos corpos de rapazes entre 18 e 20 anos de idade”, revela. As artérias dos jovens mafiosos estavam extremamente dilatadas, como se eles tivessem vivido algumas décadas com a pressão alta, por causa do estresse. O cientista notou, também, um processo de destruição bastante rápido de células do músculo cardíaco – e para esse mal não existe outro remédio, a não ser o transplante. “Se não tivessem sido assassinados, eles morreriam de infarto dali a pouco”, conclui o pesquisador.

“É o caso de se dizer que, até em termo de saúde, o crime não compensa.
Nas centenas de casos que examinou, entre 1958 e 1990, Aragona observou, por exemplo, uma retenção maior do que o normal de água e sódio no cérebro, o que indica uma hiperatividade das supra-renais, duas glândulas sobre os rins. Elas são responsáveis, entre outras coisas, pela descarga de adrenalina no sangue, hormônio que acelera as batidas do coração em momentos de tensão. As supra-renais liberam ainda a cortisona, substância que, em excesso no organismo dos mafiosos, terminou afetando seu sistema imunológico, ao destruir verdadeiras fábricas de células de defesa, como podem ser considerados os chamados gânglios linfáticos, espalhados pelo organismo.
“Esse estudo é muito útil. Consigo classificar, assim, as vítimas de assassinato, descobrindo que tipo de vida levavam”, explica Aragona. “Sinais de estresse intenso podem denunciar uma vida dedicada ao crime”, exemplifica. Os conhecimentos do professor Arigona muitas vezes revelam que determinado corpo poderia pertencer ao um mafioso que simplesmente não era fichado nos arquivos da polícia – e isso daria pistas para a localização de outros mafiosos, ao se investigarem os conhecidos parentes da vítima.

Monica Falcone, de Roma.

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