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“Procurando Dory”, na verdade, é um filme sobre deficiência intelectual – e isso é ótimo

Um tema complexo, com a delicadeza (e fofura) da Pixar

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h01 - Publicado em 30 jun 2016, 19h30

Animação não é coisa só para criança, e a Pixar faz questão de deixar isso bem claro. A empresa vencedora de 8 Oscars, e consagrada como uma das apostas de Steve Jobs, adora mesclar temas sérios com desenhos bonitinhos. Wall-e, por exemplo, é uma forma lúdica de falar sobre poluição. Procurando Nemo, a história de um pai solteiro que atravessa o mundo atrás de seu filho que tem sequelas de um acidente, é uma grande trama sobre a superproteção e a aceitação da deficiência física. Procurando Dory não só continua essa tradição, como dá um passo à frente e trata de um assunto megacomplexo: a deficiencia intelectual.

O filme mostra Dory, a peixinha coadjuvante em Procurando Nemo, tentando entender um pouco sobre seu passado, e indo atrás de seus pais. A personagem ganha status de protagonista, e sua falta de memória – que foi combustível para diversas piadinhas no primeiro filme – começa uma roupagem mais séria. É aí que entra a grande sacada da continuação: a gente já sabe que um peixinho com deficiência física consegue atravessar o mundo e fugir de um aquário, mas e se o problema dele fosse cognitivo? Quais são os limites que esse tipo de deficit pode trazer? A Pixar encara de frente que a dificuldade de memorização é um problema complexo, que afeta milhões de pessoas. E que, se Dory fosse alguém de carne e osso, ela enfrentaria algumas dezenas de dificuldades todo santo dia.

Calma, isso não deixa o clima pesado, e as crianças não vão sair da sala de cinema chocadas. Na verdade, é tudo contado de maneira sutil e fofa – o que só deixa o resultado melhor ainda. A versão infantil de Dory é uma das coisas mais adoráveis do cinema recente. É pequena, é inocente, é divertida, mas não é irritante como um Minion que repete incansavelmente a palavra “banana”, até você desistir de ver o filme. Os diretores Andrew Stanton e Angus MacLane conseguem falar sobre isso do jeito mais delicado possível – é capaz que você saia do cinema e nem perceba que estavam falando sobre transtornos mentais, só sobre peixinhos carismáticos, e a trama é tão boa que já bastaria mesmo.

LEIA: Qual animação da Pixar você é?

O roteiro é extremamente construído, enquanto Dory não lembra o que aconteceu, você também não fica sabendo. E quando ela consegue recuperar a memória sobre determinado fato, um flashback aparece na tela, criando uma segunda linha temporal com clima de mistério. Faz jus à primeira temporada de True Detective. Tudo isso enquanto um monte de personagens novos são apresentados. Um mais divertido e interessante que o outro. Sem deixar de lado os bichinhos que já haviam se consagrado no primeiro longa, como a tartaruga Crush.

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Mesmo parecendo tão maduro em discutir um tema tabu como esse, Dory tem um problema: o leão marinho Geraldo. Enquanto o longa apresenta diversos personagens que também tem transtornos – como o polvo Hank, que após ser mutilado desenvolve uma espécie de estresse pós-traumático, e o beluga Bailey, que tem sérios problemas de autoestima -, o único propósito de Geraldo, que claramente também tem algum deficit cognitivo, é servir de piada. O personagem fica completamente deslocado das ideias do filme, e fica no ar a dúvida se ele era mesmo necessário.

Além de uma aula sobre inclusão, o filme é, no fim das contas, bom pra caramba. Dá para rir com as piadinhas inteligentes – na versão dublada existem algumas sacadas pensadas exclusivamente para o público brasileiro -, dá para chorar com as frases de impacto acompanhadas de uma trilha delicadíssima, e, de quebra, os fãs do primeiro longa ainda entendem um pouquinho mais sobre baleiês. Se isso não bastar, vale a experiência de ir ao cinema só para lembrar que sempre dá para cantar “continue a nadar, continue a nadar, continue a nadar, nadar, nadar”. 

 

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