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Somos todos parentes

De onde viemos? Como chegamos até aqui? O que nos tornaremos? Darwin encontrou as respostas - e levou 23 anos para colocá-las no papel

Por Alexandre de Santi (edição: Bruno Garattoni)
Atualizado em 26 out 2020, 17h25 - Publicado em 13 nov 2015, 16h30

Livro: A Origem das Espécies
Autor: Charles Darwin
Ano: 1859
Por que ler? Para entender de onde viemos.

(…) é também evidente que, desde que um organismo começou a variar, continua ordinariamente a fazê-lo durante numerosas gerações.

Em 29 de dezembro de 1831, o tímido Charles Darwin embarcou no H.M.S. Beagle, um navio britânico que faria um levantamento científico nas costas da Argentina, Chile, Peru e Ilhas do Pacífico, instalando equipamentos de medição de tempo. A viagem de quase cinco anos rendeu um livro, A Origem das Espécies, publicado em 1859. Demorado, certo? O inglês de saúde frágil levou 23 anos para colocar no papel os insights que teve durante a aventura. Se houvesse Facebook na época, talvez Darwin caísse na tentação de compartilhar a epopeia em tempo real, postando fotos de tartarugas das Ilhas Galápagos e levantando dúvidas sobre os cascos dos répteis, que  variavam conforme o local de origem – um debate incendiário tomaria conta da caixa de comentários. Mas foi justamente o capricho de Darwin que tornou o livro um blockbuster – e, mais tarde, um marco da ciência.

A ideia da evolução das espécies já estava no ar antes do navio zarpar. Na Antiguidade, chineses, gregos e romanos haviam levantado a hipótese, sepultada pela popularização do conceito de criação divina de cada espécie. No início do século 19, o naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck ganhou notoriedade ao propor um protoevolucionismo. Bateu na trave. Enquanto a tese do francês circulava, Darwin vagava sem muito rumo por universidades. Chegou a estudar medicina e geologia, mas sua vida começou a tomar jeito mesmo quando conheceu o cientista John Stevens Henslow, que virou uma espécie de mentor de Darwin.

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O rapaz tinha apenas 22 anos quando recebeu o convite de Henslow para subir no navio e viver a aventura científica. O pai de Darwin reprovou a ideia, mas o tio do jovem, Josiah Wedwood II, considerou a proibição absurda e convenceu Darwin pai que jovens de 22 anos devem explorar ilhas remotas – devemos muito ao tio. Darwin pisou no convés do Beagle como um naturalista amador, ou seja, como um mero observador dos trabalhos. No início, ficou mais curioso por pedras do que por animais, o que o levou a propor alguns avanços na geologia quando desembarcou. Antes de arrumar a mala, o jovem não tinha motivos para crer em evolução. Foi documentando bichos exóticos que Darwin começou a perceber que as diferenças entre exemplares da mesma espécie não eram resultado de puro acaso (ou escolha divina), mas de adaptações.

Intuiu que geografia e fauna estavam relacionadas e passou a observar que, em algumas áreas, espécies haviam sido extintas. Depois, notou que tatus fossilizados na América do Sul eram parecidos com os que ainda viviam no continente, sugerindo que os animais vivos tinham íntima relação com extintos, apesar de não serem idênticos. Darwin também notou variações em emas de partes diferentes do continente – as da Patagônia eram menores que as demais – e de tartarugas em Galápagos. Por fim, veio a grande sacada: espécies sobrevivem e morrem devido à disponibilidade de recursos e às condições para sua perpetuação, a tal de seleção natural. E foi assim, comparando tartarugas, tatus e emas, que o cientista chegou à sua mais brilhante conclusão. As espécies não permanecem imutáveis, mas se transformam. Uma única espécie pode ter dado origem a duas ou mais, e o isolamento de grupos favorecia cruzamentos entre animais melhor adaptados ao meio, perpetuando novas características.

Mas as conclusões não vieram a público logo depois da viagem. Darwin formulou uma primeira teoria e, perfeccionista que era, fez muitas e muitas versões. Os amigos ridicularizavam o esforço interminável, mas o cientista foi ganhando reputação como naturalista nos bastidores. E teria continuado na lenga-lenga de revisar o manuscrito infinitamente não fosse um pequeno incidente: em 1858, recebeu uma carta do amigo Alfred Russel Wallace, contendo um manuscrito sobre – tchanãaan! – a Teoria da Evolução. Vindo diretamente da Malásia, o artigo mostrava que Wallace chegara às mesmas conclusões que Darwin. Depois de conversas e combinações, o já não tão jovem Charles decidiu publicar sua obra-prima, com o apoio do amigo e dividindo os louros da vitória. Além de gênio, Darwin também era um bom amigo. Origem contém todo o raciocínio que levou à Teoria da Evolução, explicado tim-tim por tim-tim. Em um mês, cerca de 6 mil cópias estavam na rua – um best seller instantâneo até para os padrões de hoje. Na virada do século, mais de 100 mil exemplares haviam sido vendidos somente em inglês. Nada mal para um livro sem figuras ou diálogos.

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