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A Máquina de Escrever

A invenção da máquina de escrever, que salvou uma fábrica de armas da falência, contribuiu para a emancipação feminina: não se pode conceber o mundo de hoje sem ela

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h09 - Publicado em 31 jul 1989, 22h00

Silvio Atanes

Em 17 de agosto de 1714, a rainha Anne da Grã-Bretanha concedeu ao engenheiro Henry MiIl a primeira patente de que se tem notícia para uma máquina de escrever. Nesse momento, abria-se um caminho até então inexplorado: o da aplicação da mecânica à escrita que desde os sumérios, precursores do alfabeto, cerca de 5 mil anos atrás, era feita somente com o uso das mãos. A idéia de MiIl era construir uma engenhoca capaz de imprimir letras isoladas ou em grupo, em papel, pano ou pergaminho, tão nítidas quanto as de imprensa. Não teve sorte, porém: seu projeto, de tão complicado, jamais saiu do papel.

A idéia, contudo, não se apagou. Durante o século XIX, muita gente tentou aperfeiçoar a máquina que não escrevia de Mill. Todas as alternativas eram grandes e desajeitadas, algumas parecendo um piano. E tinham em comum um grande defeito: eram mais lentas que a escrita a mão. Somente em 1867 o tipógrafo americano Christopher Latham Sholes (1819-1890), de Milwaukee Wisconsin, fabricou a primeira máquina de escrever que realmente funcionava. A idéia surgiu quando ele estava lendo um artigo sobre uma recém-criada máquina inglesa que numerava páginas de livros.

Sholes gostou do invento e resolveu aperfeiçoá-lo. Para começar, pediu ajuda a seus sócios Carlos Glidden e Samuel W. Soule. Eles perceberam que, com algumas adaptações, a máquina poderia imprimir facilmente também conjuntos de sinais gráficos, letras e números, sendo muito útil nas repartições públicas e escritórios em geral, que àquela época mais pareciam escolas de caligrafia, tamanho o número de penas e tinteiros em uso. Assim, naquele mesmo ano, Sholes lançou o seu primeiro escreve dor de tipos. Era um modelo de madeira, com porta-tipos independentes, presos a hastes de metal, acionadas por arames e teclas. O teclado foi disposto de modo que as hastes não se prendessem umas às outras. Por isso, as letras que mais aparecem juntas, em inglês, foram colocadas longe. Mesmo assim, as hastes embolavam constantemente, por mais devagar que se escrevesse.

O segundo modelo, patenteado em 1868, incorporava algumas melhorias mecânicas, além de permitir uma escrita mais veloz que a pena. A máquina, que só escrevia maiúsculas, chamou a atenção do comerciante James Densmore, que comprou a patente de Sholes em 1872. Com uma idéia na cabeça e a máquina nas mãos. Densmore foi até Ilion, no Estado de Nova York. propor a produção em larga escala à fábrica de armas Remington.

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Philo Remington, presidente da firma, gostou da idéia. Afinal. A Guerra de Secessão tinha acabado fazia cinco anos e, desde então, a venda de rifles diminuíra sensivelmente. A máquina de escrever seria a salvação de Remington, que já tinha tentado construir máquinas de costura.

Assim, em 1873, Densmore e Remington assinaram contrato, para aperfeiçoar, junto com Sholes, o projeto original. Somando o pioneirismo de Sholes, que não tinha tino comercial, com dois especialistas no ramo, o negócio começou a dar certo: as máquinas passaram a ser produzidas em série e postas à venda. As primeiras já exibiam várias características das máquinas atuais – exceto, é claro, a montagem em móveis de máquinas de costura -, como o arranjo das barras de tipo para atingir o papel no mesmo lugar e a impressão com fita umedecida de tinta. O pedal e a correia da máquina de costura serviam para movimentar o carro.

Apesar das inovações, as maquinas só ficaram conhecidas para valer na Exposição Cenária de 1876, realizada na Filadélfia. O problema de imprimir maiúsculas e minúsculas foi resolvido por Sholes de maneira simples e engenhosa: duas letras ou caracteres em cada barra de tipo; cada letra numa das extremidades superior e inferior da barra. Para trocar as letras bastava apertar uma tecla que, abaixando o cilindro, determinava qual extremidade da barra atingiria o papel.

Para persuadir os ainda céticos consumidores, Remington arquitetou um golpe de mestre de marketing: cedeu as máquinas a mais de cem firmas. O sucesso foi total e logo foi partilhado pelas pessoas físicas. Mark Twain (1835-1910), por exemplo, foi o primeiro escritor a datilografar seus originais. Nem o inconveniente de pedalar – como se estivesse costurando – tirava o bom humor do autor de As aventuras de Tom Sawyer. Outra coisa que aborrecia os datilógrafos era não poderem ver o que escreviam, porque o papel ficava por trás do rolo – uma inconveniência que seria superada em 1882.

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Sholes, muito tímido, sumiu de vista assim que sua máquina se popularizou. Estava em todo caso orgulhoso de ter colaborado com a emancipação feminina, como afirmou certa vez, pois ajudou a criar a profissão de secretária. De fato, quando a máquina de escrever entrou nos escritórios americanos, encontrou forte resistência dos’ homens – então, a grande maioria dos funcionários. Temerosos de perder o emprego, obtido graças ao domínio da caligrafia, diziam que a máquina não prestava. Foi inútil: as mulheres demonstraram que escrever com cinqüenta teclas era tão fácil quanto costurar.

Mais de um século depois de sua invenção e de se incorporar em toda a parte à paisagem cotidiana, pouca coisa mudou na máquina de escrever, como a alavanca de retomo do carro. Thomas Alva Edison, o genial inventor americano, para poupar esforços de sua secretária, projetou em 1872 a primeira máquina elétrica. Baseada num rolo impressor, a máquina não fez sucesso, talvez pelo perigo de choque. Anos mais tarde, em compensação, originaria a impressora de teletipo. Em 1914, outro americano, James Field Smathers, criou a primeira máquina com motor elétrico, que começou a ser produzida regularmente seis anos depois.

O salto seguinte na evolução foi a máquina de escrever eletrônica, nascida no início dos anos 60. Nela, o carro permanece parado, enquanto um cilindro ou disco giratório que contém os tipos se movimenta ao longo do papel. Circuitos eletrônicos selecionam letras e calculam o avanço do elemento único, conhecido como “bola de golfe”, no caso do cilindro, ou “margarida”, correspondente aos discos que têm as letras nas pontas de pétalas. As máquinas de última geração literalmente escrevem sozinhas: têm memória, recursos de programação e, acopladas a microcomputadores, transformam-se em impressoras. Embora sem a velocidade das impressoras matriciais, que imprimem a partir de uma programação, cerca de vinte vezes mais rápidas, as máquina eletrônicas mantêm o charme da boa datilografia e proporcionam a ilusão do texto personalizado, contra os frios sinais de computador.

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