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Capangas da imperatriz

Sob a batuta da czarina, os irmãos Orloff traíram, derrubaram e mataram Pedro III da Rússia

Por Alvaro Opperman
Atualizado em 31 out 2016, 18h19 - Publicado em 31 mar 2005, 22h00

A coisa estava ruça no verão de 1762 em São Petersburgo. Alexei Orloff chegou à residência de campo do czar deposto Pedro III e foi saudado sem palavras pela guarda imperial, que mantinha prisioneiro o ex-soberano da Rússia. Alexei entrou resolutamente no castelo. Quando Pedro III o viu, não entendeu o porquê da visita. Que diabos um maldito Orloff ainda queria com ele? Primeiro, Gregori – irmão mais velho de Alexei – se tornara amante de sua esposa, Catarina. Depois, os três juntos conspiraram para tirá-lo do trono. Agora, aquela visita. Alexei fez Pedro III entender rapidinho o motivo da sua presença. De um golpe, jogou o czar ao chão. Depois, com a ajuda de membros da guarda, o estrangulou. O czar se debateu por alguns minutos, em vão. Alexei Orloff largou o corpo sem vida no meio da sala e saiu do recinto a passos lentos. Apanhou a carruagem que o esperava numa alameda e abandonou o castelo.

Gregori e Alexei Orloff eram destacados militares do exército russo. A varíola acometeu Pedro, então herdeiro do trono, em 1745, ano do casamento com Catarina. Ele ficou para sempre com as marcas da doença no rosto e perdeu boa parte do cabelo. Não que Catarina se importasse: “Eu não ligo pro Pedro, mas sim para a coroa”, dizia. Em pouco tempo, ela engatou uma série de romances, até conhecer Gregori Orloff – sujeito boa-pinta, que logo caiu nas graças da futura czarina. Gregori era também astuto e ambicioso. Com o tempo, ele e seu irmão se tornaram figuras de prestígio na corte.

Pedro III não se importava que a esposa tivesse casos extraconjugais, pois ele também os tinha. Só não gostava de Gregori, cuja ascendência sobre Catarina o preocupava. E ainda temia Alexei, um homem com fama de sanguinário, que ostentava no rosto uma ameaçadora cicatriz ganha em batalha. Segundo alguns, Catarina também foi amante de Alexei.

O reinado de Pedro III foi desastroso. Descontentou o povo, profundamente nacionalista, com uma política de abertura internacional. E enfureceu a poderosa Igreja Ortodoxa Russa ao cortar privilégios do clero. Gregori Orloff orquestrou uma conspiração contra o czar, mas a notícia vazou na corte. Alexei procurou Catarina no dia 28 de junho de 1762 e lhe expôs a situação. Ou ela dava um golpe de Estado, ou eles terminariam enforcados.

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A czarina não titubeou. Com apoio de Gregori, Alexei e da guarda imperial, depôs o marido e foi coroada Catarina II da Rússia. Alexei, porém, não se sentia seguro. Resolveu matar Pedro III. Quando Catarina soube da morte, mandou dizer que o marido morrera de uma cólica violenta. A Europa inteira bradou contra tal cinismo, e ela se deu conta de que teria de despachar da corte os incômodos irmãos Orloff. Gregori perdeu seu posto para o Conde de Potemkin, um garotão de 22 anos. Tentou reconquistar a czarina, enviando para ela um belo diamante. O presente não cumpriu seu objetivo, mas se tornou uma das jóias mais famosas do mundo e eternizou o nome Orloff – até no Brasil, onde há uma vodca homenageando a gema. Mas a pedra não amoleceu o coração de Catarina.

Gregori exerceu ainda algumas funções públicas, mas morreu recluso em Moscou, em 1783, aos 49 anos. Alexei foi mantido no exército. No fim da vida, se tornou criador de cavalos. Quanto a Catarina, ela modernizou a Rússia em 34 anos de reinado. Com mão de ferro: em 1773, suprimiu uma revolta popular massacrando 10 mil camponeses famintos. O filósofo Voltaire, amigo e admirador, a apelidou de “Catarina, a Grande”. No fim da vida, era mesmo grande e gorda. E sem dentes. Mas, mesmo assim, ainda mantinha rapazes como amantes.

 

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