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Coisas úteis que aprendemos com o Manual do Escoteiro Mirim

Em tempos pré-google, esse livro ensinava as crianças a atar nós, decifrar código morse, identificar pegadas, entender as regras do futebol e até a preparar um bom coquetel de conhaque (hic).

Por Denis Russo Burgierman
Atualizado em 11 mar 2024, 09h18 - Publicado em 24 fev 2016, 20h30

Esta semana a Editora Abril (que publica a SUPER) está lançando seu clássico Manual do Escoteiro Mirim, da Disney, gerando frisson nas redes sociais entre os velhinhos, que passaram a infância acreditando que aquele livro quase mágico trazia todos os ensinamentos fundamentais para sobreviver neste mundão selvagem: de armar barracas a acender fogueiras, de consertar pneu usando uma folha de papel a contar até 10 como os antigos egípcios, babilônios e maias. O livro se vendia como uma espécie de google antes do google: o portador de todas as respostas. E, em 1971, ainda havia gente que acreditava que um livro pudesse ser tudo isso.

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Antes de relançar o livro, o time da Abril Jovem teve que encontrá-lo: afinal, nos anos 1970, publicações ainda não eram feitas com computadores e a obra não existe em formato digital. A Abril possuia apenas um exemplar, que pertencia à coleção pessoal do dono da empresa, Roberto Civita, falecido em 2013, hoje está guardada a sete chaves na Memória Abril, o departamento que preserva todas as publicações da história da empresa. Fui visitar a Memória Abril para matar as saudades do velho Manual.

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O livro, antes de existir de verdade, surgiu na ficção: era presença constante nas historinhas dos Junior Woodchucks, criadas por Carl Barks nos anos 1950 nos EUA e traduzidas no Brasil com o título de “Os Escoteiros Mirins” (a Abril também está lançando uma coletânea das histórias clássicas dos personagens). Os três patos escoteiros, Huey, Dewey e Louie (por aqui Huguinho, Zezinho e Luizinho), abriam o livro fantástico sempre que estavam em apuros, fosse por causa de um ataque de urso, de um terremoto ou de um avião em queda sem paraquedas. A resposta para a aflição estava sempre no Manual. Em 1969, a editora italiana Mondadori lançou uma versão real do livro, Il Manuale delle Giovani Marmotte, que foi traduzida e adaptada para ser lançada no Brasil em 1971. Fez tanto sucesso que foi reeditada várias vezes, e depois ampliada em obras maiores como o Supermanual do Escoteiro-Mirim (que podia ser fechado a chave, o que complicava um pouco a vida em caso de ataque de urso ou avião em queda) e a Biblioteca do Escoteiro-Mirim, com 20 volumes.

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O livro, de 250 páginas, traz pequenos textos nos quais os três patinhos e seu atrapalhado tio, Donald, dão dicas básicas de acampamento, sobrevivência na selva e outros conhecimentos práticos. O jovem leitor aprendia a identificar as constelações no céu, os símbolos nos escudos heráldicos, as placas de trânsito, o simbolismo da bandeira nacional e as regras do futebol. Algumas páginas são lindas:

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Outras coisas ficaram datadas, claro. As lições de obediência, os patinhos batendo continência na capa e as páginas ensinando a compreender as patentes dos uniformes militares fazem lembrar que o livro foi lançado no auge da ditadura militar.

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Já as lições ensinando a tirar manchas usando água morna, sumo de limão, vinagre branco e sal de cozinha remetem a um passado em que, além de não haver Google, não havia Vanish. E as manchas não saíam.

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Mas o mais deliciosamente anacrônico dos textos é um que ensina a preparar o “coquetel dos escoteiros mirins”, um drinque feito de açúcar, pó para pudim, leite e… meio litro de conhaque. O único cuidado do texto é recomendar ao barman júnior que não beba enquanto prepara o coquetel – espere ao menos que ele fique pronto. Aqueles que não conseguirem resistir à tentação de encher a cara de conhaque antes da hora “não serão Escoteiros-Mirins cem por cento… hic!”, avisa o Manual. (Na nova versão, relançada em 2016, o conhaque foi substituído por leite de coco, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente.)

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Encontrei também no velho Manual um guia para ajudar as crianças a escolherem suas profissões. Será que foi tudo culpa dele?

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Hoje a maioria de nós carrega no bolso um smartphone, com respostas quase imediatas a qualquer pergunta imaginável. Ano retrasado, a Disney anunciou que não patrocinaria mais a Boy Scouts of America, organização que congrega todos os grupos de escoteiros dos EUA, por discordar de sua política oficial de proibir líderes gays. Os tempos são outros. E às vezes dá saudades.

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