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O naturalista do Museu Nacional que foi os olhos brasileiros de Darwin

Nas selvas catarinenses, o alemão Fritz Müller fez descobertas que encantaram o pai da evolução. Sua biografia, escrita pela bióloga brasileira Flavia Pacheco, está disponível para download gratuito na Amazon até o final de outubro – aproveite.

Por Salvador Gomes e Bruno Vaiano
Atualizado em 29 out 2020, 14h00 - Publicado em 19 fev 2011, 22h00

Um lugar distante, de clima imprevisível, com animais estranhos e plantas desconhecidas. Quando o naturalista alemão Fritz Müller chegou ao interior de Santa Catarina, em 1852, era como se pousasse em outro planeta. Um planeta onde ele realizou estudos minuciosos, que lhe renderam fama internacional e o apelido de “príncipe dos exploradores” – cortesia de seu ídolo e fã, Charles Darwin.

Em dificuldades na Alemanha – que estava em crise econômica e cujo governo não compartilhava de suas convicções políticas –, Müller decidiu se mudar para o Vale do Itajaí, movido por seu fascínio pela fauna e flora abaixo do Equador e por um apreço pela índole brasileira. Considerava nosso país mais compatível com sua personalidade que os EUA, sua outra opção imigratória.

Em 1850, dois anos antes, um ex-funcionário da rede de farmácias do avô de Müller, chamado Hermann Blumenau, havia estabelecido uma colônia alemã batizada com seu sobrenome. Müller, então com 31 anos, contribuiu consideravelmente para povoar a recém-fundada Blumenau: teve 9 filhas (seu único filho, porém, morreu horas depois do parto).

Agnóstico, o naturalista não se entendeu com o fundador luterano e mudou-se para Desterro (hoje, em homenagem a Floriano Peixoto, chamada Florianópolis). Foram 11 anos como professor de matemática – no tempo livre, estudava a vida marinha. Graças a seus estudos, conquistou o prestigiado cargo de naturalista viajante do Museu Nacional do Rio de Janeiro, que garantiria financiamento para suas pesquisas em Blumenau. Muitos dos exemplares enviados por Müller ao Museu Nacional provavelmente foram destruídos pelo incêndio.

A bióloga brasileira Flavia Pacheco escreveu a mais completa biografia de Müller disponível no Brasil, que está disponível para download gratuito da Amazon até o último dia de outubro. Sim, custa zero real. Clique aquipara ter o ebook.

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O Museu Nacional foi fundado em junho de 1818 – na época, foi batizado de Museu Real. A história natural estava na moda: botânicos e zoólogos das potências imperialistas viajavam por colônias e terras recém-descobertas na Américas, na África, na Ásia e na Oceania. Faziam mapas dos territórios, realizavam prospecção de plantas e minerais e desenvolvam e disseminavam técnicas agrícolas mais eficientes. 

“Querendo propagar os conhecimentos e estudos das ciências naturais no Reino do Brasil, que encerra em si milhares de objetos dignos de observação e exame e que podem ser empregados em benefício do comércio, da indústria e das artes: hei por bem que nesta Corte se estabeleça um Museu Real”, escreveu dom João VI no decreto de criação (veja mais detalhes na revista da Fapesp). 

Müller se interessava por quase tudo: dissecou plantas para entender a composição de seus órgãos, estudou as asas das borboletas, descreveu a organização social das formigas, pesquisou os formatos de colmeias e analisou os hábitos de águas-vivas e pássaros. Entre crustáceos, insetos, aves e plantas, o alemão identificou 248 novas espécies.

Boa parte dessas descobertas foi dividida com um correspondente muito especial: entre 1865 e 1882, Müller e Charles Darwin trocaram 70 cartas. Não se sabe quem escreveu primeiro, mas o bromance começou em 1864, quando Müller publicou na Alemanha Für Darwin (“Para Darwin”), conjunto de suas observações científicas defendendo a Teoria da Evolução. O inglês encomendava várias pesquisas a Müller e maravilhava-se ao ver a precisão com que o alemão desenhava plantas e dissecava animais. Em 1881, lhe escreveu: “Não acredito que haja alguém no mundo que admire seu zelo pela ciência e seu grande poder de observação mais do que eu”.

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Além de ser uma honra, ajudar o autor da teoria da seleção natural bombava o currículo: Darwin remetia os estudos de Müller a outros cientistas e promovia sua publicação na Europa. Apesar de distante geograficamente, Fritz Müller estava incluído na comunidade científica. Suas pesquisas são citadas 17 vezes nas edições posteriores à primeira impressão de A Origem das Espécies.

Em 1889, com a Proclamação da República, os naturalistas viajantes do Museu Nacional foram impedidos de… viajar. Müller, que amava Santa Catarina, não gostou nada dessa história de morar no Rio de Janeiro, e pediu demissão. Se tornou pesquisador indepedente. Ainda assim, jamais deixou o Brasil. “Não troco o meu mato pela Europa”, dizia. Admirado como o mais notável dos naturalistas brasileiros, Müller morreu em Blumenau em 1897, quando tinha 75 anos e pesquisava bromélias – uma planta pela qual jamais se interessara, mas que vinha cultivando para atender ao desejo dos dois netos de tê-las no quintal.

A casa onde viveu o naturalista é hoje o Museu Fritz Müller, onde estão objetos pessoais, além de animais e plantas usadas nas pesquisas.

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