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Expulso de casa

Logo depois de apresentar o Macintosh ao mundo, Steve Jobs foi demitido pelo CEO que ele mesmo contratou. Sua nova empresa, a NeXT, foi um fracasso retumbante

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h20 - Publicado em 8 Maio 2012, 22h00

“Você quer vender água açucarada pelo resto da vida ou quer mudar o mundo?” Foi com essa frase, hoje famosa, que Steve Jobs convenceu John Sculley a se tornar o CEO da Apple em 1983. Era uma parceria das mais improváveis e acabou se transformando num casamento de negócios muito tumultuado. Por um ano, Jobs e Sculley viveram em lua de mel. Quando o relacionamento desandou, o fundador da Apple acabou sendo expulso da própria empresa, exatamente como aconteceu com Edwin Land (1909-1991), o inventor da máquina fotográfica Polaroid e mais um de seus ídolos.

Nascido em 1939, John Sculley era um talento evidente. Tornou-se trainee da Pepsi em 1967 e, três anos depois, já tinha se tornado o mais jovem vice-presidente de marketing da história da empresa. Neste cargo, desafiou a todo-poderosa Coca-Cola. Ele criou a campanha da Geração Pepsi e, em 1975, lançou os testes cegos em supermercados, para comprovar que seu produto era, no mínimo, tão bom quanto o concorrente. (Sculley se submeteu ao experimento. Preferiu a Coca.) Em 1977, ele batia mais um recorde: assumia o cargo de mais jovem presidente da história da Pepsi. Naquele momento, nem conhecia Jobs.

Empresa rachada

A Apple que Sculley assumiria, em 1983, era uma empresa de bastidores tumultuados já fazia algum tempo. Para entender como a companhia tinha desandado tão rápido, é preciso relembrar que, até então, Jobs nunca tinha sido diretor da empresa que criou. Desde o começo, tinha concordado em atuar na criação e no desenvolvimento de produtos. A condução do dia a dia, com seus problemas burocráticos, ficava a cargo de Michael Scott.

Em 25 de fevereiro de 1981, Scott demitiu 40 funcionários, incluindo metade da equipe que trabalhava nas atualizações do Apple II. Fez isso sem consultar o conselho, que o substituiu por Mark Markkula, o primeiro investidor da Apple que fazia parte do conselho.

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A cadeia de comando estava fragilizada e os novos produtos não ajudavam. Em 1980, chegava ao mercado o Apple III, um projeto tão mal resolvido que o jovem patriarca Steve Wozniak se recusou a participar. A máquina em si era avançada: tinha um processador Synertek 6502A de MHz e uma tela com resolução melhor do que a do Apple II (mas o fundo preto com letras verdes continuava firme). Só que Jobs exigiu que o Apple III não tivesse saídas de ar, para ficar mais bonito, e ele superaquecia o tempo todo. Foi um fiasco gigantesco, que abriu espaço para o crescimento dos PCs da IBM, lançados em 1981.

Enquanto isso, o cientista da computação e funcionário novo da empresa Jef Raskin reunia uma pequena equipe de engenheiros para começar a trabalhar em paralelo num outro modelo, o Macintosh – nome inspirado em sua espécie favorita de maçã, McIntosh. Era um projeto secundário. Quem comandava o novo carro-chefe da empresa, o produto que retomaria a dianteira no mercado, era Jobs. Só que o fundador da Apple vivia um momento pessoal tumultuado.

Em meio ao nascimento de sua filha, que ele renegaria por sete anos, Jobs desenvolvia o Apple Lisa. Mas o computador nunca ficava pronto. Considerado turrão e inexperiente pelos executivos da empresa, Jobs foi afastado desse trabalho e relegado ao Mac. Em retaliação, demitiu Jef Raskin em 1981 e rachou a Apple em duas. Instalou sua turma em um prédio isolado, onde colocou uma bandeira pirata na entrada. Quem não estava no seu time era tachado de incompetente. No refeitório, as duas metades da empresa faziam guerra de comida.

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Em 1983, ironicamente durante uma viagem para promover o Lisa, Jobs abordou John Sculley na tentativa de convencê-lo a assumir o cargo. Conseguiu, e logo os dois se entenderam tão bem, durante apresentações públicas, um completava as frases do outro. Steve voltava a ter um bom momento na empresa: as vendas do Lisa, um produto que Jobs queria ver fracassar, foram mal. De repente, ele era amigo do CEO e responsável pelo projeto agora considerado prioritário, o Mac.

Ladeira abaixo

“A princípio, Jobs gostou da ideia de ter junto a si um homem de negócios agressivo, mas sem experiência com tecnologia. Achou que iria dominá-lo”, afirma o jornalista americano Mike Swaine, que acompanhou de perto aquela fase da empresa. “Quando percebeu que Sculley não iria se submeter a ele, Jobs ficou inconformado e começou a boicotá-lo.” Em 24 de janeiro de 1984, o fundador voltou a brilhar. Durante a reunião anual dos acionistas, ele se apresentou como um pastor diante de fiéis exaltados pela apresentação do Macintosh.

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“De fato, era uma máquina inovadora. Com mouse e interface gráfica, levava a experiência do usuário comum a um novo nível”, afirma o americano Tim Bajarin, analista da indústria de tecnologia há 30 anos. A tela era colorida e o conjunto com o software PageMaker e a impressora LaserWriter faziam do aparelho uma estação de trabalho completa. Mas o primeiro Mac tinha vários problemas, em especial a memória, muito pequena, que deixava a máquina irritantemente lenta. “Eu me apaixonei pela proposta do Mac, que era fascinante. Mas a máquina em si era muito ruim”, diria Douglas Adams, o escritor do Guia do Mochileiro das Galáxias. As vendas foram catastróficas e só melhorariam dois anos depois.

Inconformado com o fracasso inicial, Jobs começou a articular a derrubada de Sculley assim que ele embarcasse em uma viagem prevista para a China. O CEO ficou sabendo e, em maio de 1985, convocou o conselho para uma reunião emergencial. “Eu mando nesta companhia, Steve, e quero você fora para sempre!”. Dito isso, perguntou a cada um dos executivos quem eles apoiavam. Markkula foi um dos que se posicionaram contra Jobs, que acabou afastado de seu cargo, chefe da divisão Macintosh. Sairia em definitivo em setembro. Os amigos temiam que ele se matasse. “Minha saída foi a melhor coisa que aconteceu comigo”, ele diria depois. “O peso de ser bem-sucedido foi substituído pela leveza de ser um iniciante de novo.” Não foi bem assim.

Próximo!

Jobs demorou um pouco para absorver o golpe. Pensou em se candidatar ao governo da Califórnia e pediu à Nasa para ir para o espaço. Viajou para a França e para a União Soviética. Mas chegou a um plano razoável: criar uma empresa, a NeXT, que produziria computadores para universidades.

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Em 1987, a NeXT já valia US$ 125 milhões, sem ter um único produto. Depois de uma série de adiamentos, Steve apresentou o NeXTCube. De novo, os detalhes técnicos inviabilizaram o sucesso do modelo: a tela de 17 polegadas era em preto e branco, quando os clientes preferiam cores. Para piorar, quem encomendou a máquina em 1987 (caso do rei da Espanha, Juan Carlos I) só a recebeiu em 1989.

A empresa estava virtualmente falida em 1993. “Steve demorou para perceber que não poderia revolucionar o hardware de novo. Ele já tinha feito isso antes”, afirma Mike Swaine. Jobs optou então por só produzir softwares. A decisão o salvou do ostracismo. Em 1996, a Apple quis comprar o sistema operacional desenvolvido por sua equipe na época, o NeXTStep OS. Como parte do acordo de venda, Jobs voltou a empresa como consultor e rapidamente destronou o diretor executivo Gil Amelio. Em 1997, ele estava de volta, com um poder incontestável.

Diretores executivos
Os CEOs da Apple ao longo da história da empresa

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1977-1981
Michael Scott

1981-1983
Mike Markkula

1983-1993
John Sculley

1993-1996
Michael Spindler

1996-1997
Gil Amelio

1997-2011
Steve Jobs

2011
Tim Cook

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