O que é a fraternidade Rosa-Cruz?
Entre os simpatizantes da irmandade, especula-se que havia personalidades como o filósofo inglês Francis Bacon e o francês René Descartes.
[Claudio Feliciano Souza, Jacareí, SP]
Não se sabe ao certo, mas tudo indica ter sido uma sociedade secreta que misturava magia e religião, surgida em meio a muito mistério na Alemanha no século 17. O primeiro documento que registra a fraternidade, o manifesto apócrifo Fama Fraternitatis, é de 1614. Ele conta a história de um tal Christian Rosencreuz, figura lendária, conhecedor de magia e cabala e fundador de um grupo que tinha como símbolo uma rosa e uma cruz. Um ano depois, em 1615, teria circulado outro panfleto, o Confessio Fraternitatis. “Na época, esses documentos receberam dezenas de respostas já que seus autores diziam que as pessoas deviam responder se estivessem interessadas em entrar para a comunidade”, diz a historiadora Susanna Akerman, da Universidade de Estocolmo, na Suécia. Entre os simpatizantes da irmandade, especula-se que havia personalidades como o filósofo inglês Francis Bacon e o francês René Descartes.
Como não se divulgavam os nomes nem o endereço dos autores, os panfletos circulavam de mão em mão na tentativa de atingir seus seguidores. Alguns dos mandamentos da irmandade exigiam que os integrantes não tivessem outra profissão, não usassem roupas características (para não serem identificados) e procurassem uma pessoa digna para sucedê-los após a morte. “Apesar dos traços religiosos, não se exigia que a pessoa abandonasse sua religião original”, afirma o teólogo Carlos Caldas, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Acredita-se que os membros da ordem eram fortemente influenciados pela cabala, alquimia e hermetismo. “Alguns pesquisadores duvidam até da existência de Christian Rosencreuz e acham que o movimento não passou de uma piada de autores que não faziam parte de sociedade secreta nenhuma”, diz o historiador Hakan Hakansson, da Universidade de Lund, na Suécia.
Já a historiadora Susanna Akerman acredita que o teológo alemão Johann Valentin Andreae, autor de O Casamento Alquímico de Christian Rosencreutz (1616), é o verdadeiro autor dos escritos. Os diversos movimentos religiosos que atualmente reivindicam o nome rosa-cruz, porém, teriam pouca relação com a filosofia pregada nos manifestos da irmandade no século 17.
Principais influências
Reforma Protestante
Em pleno século 17, 100 anos depois do início da Reforma Protestante que acabou com a hegemonia católica, os documentos da irmandade também criticavam os jesuítas e o próprio papa.
Alquimia
Surgida na Europa no século 12, a alquimia acreditava que era possível transformar metais em ouro e prolongar a vida.
Cabala
Tradição mística hebraica cujos iniciados detêm conhecimentos secretos revelados por Deus na Torá (livro sagrado dos judeus).
Cristianismo
Apesar de não exigir que seus membros fossem cristãos, os rosa-cruzes adotavam o batismo e a eucaristia entre os seus ritos.
Hermetismo
Baseado na filosofia teológica e astrológica de Hermes Trimegisto (deus egípcio que teria vivido no século III a.C.), o hermetismo teria influenciado Christian Rosencreuz em suas viagens ao Oriente.