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Mapa literário do Brasil

Um guia com os escritores que melhor representaram (e representam) cada um dos estados brasileiros.

Por Pâmela Carbonari Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 nov 2021, 21h33 - Publicado em 12 jul 2017, 15h18

Sudeste

Berço do modernismo, as grandes cidades impulsionaram a produção de crônicas urbanas.

(Ricardo Davino e Thales Molina/Superinteressante)

1. Minas Gerais

Guimarães Rosa – 1908-1967
Grande Sertão Veredas (1956)

João Guimarães Rosa foi médico, diplomata, falava oito idiomas e entendia outros 15. A habilidade com outras línguas também explica sua prosa inconfundível, cheia de invenções linguísticas, neologismos e dizeres regionais. Ao juntar sua erudição com a linguagem dos grotões do País, renovou o romance brasileiro e levou o sertão do interior de Minas para o centro da nossa literatura.

2. São Paulo

Mário de Andrade – 1893-1945
Pauliceia Desvairada (1922)

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Ele inaugurou o modernismo junto a outros artistas na busca por uma linguagem que ligasse o brasileiro à própria terra. Suas obras estrearam o conceito de “sentir-se paulistano”. Em Pauliceia Desvairada, Mário versa sobre sua relação visceral com São Paulo e as constantes transformações da cidade – o nome do livro virou uma forma de se referir à frenética capital.

3. Espírito Santo

Rubem Braga – 1913-1990
50 Crônicas Escolhidas (1951)

Seu nome é sinônimo da crônica brasileira. As produções de Rubem são leves e poéticas – ele consagrou o gênero literário escrevendo com simplicidade sobre temas cotidianos, pessoas e natureza. Crônicas do Espírito Santo é um retrato da alma capixaba.

4. Rio de Janeiro

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Clarice Lispector – 1920-1977
A Hora da Estrela (1977)

Apesar de ser ucraniana de nascimento e pernambucana de coração, o Rio foi onde Clarice mais escreveu – não à toa, ela e seu cachorro Ulisses ganharam uma estátua no bairro do Leme. Sua obra é o cânone brasileiro das tramas psicológicas e das epifanias cotidianas – como as inúmeras citações erroneamente atribuídas a ela na internet.

Sul

Romances históricos, poemas abolicionistas e haicais – com uma dose de crítica social.

1. Paraná

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Paulo Leminski – 1945-1989
Distraídos Venceremos (1987)

O sobrenome é polonês, mas a irreverência não tem como ser mais brasileira. Com gírias, ditados e jogos de palavras, o curitibano construiu sua obra por meio de poemas profundos, mas coloquiais. Leminski também foi letrista, professor e tradutor. Fascinado por cultura japonesa, foi pioneiro dos haicais no Brasil.

2. Santa Catarina

Cruz e Sousa – 1861-1898
Broquéis (1893)

A linguagem do simbolista é requintada, influência do parnasianismo e da educação que recebeu dos senhores de seus pais, ex-escravos alforriados. Trabalhou a favor do abolicionismo na imprensa catarinense e, como seus versos mostram, não teve vida fácil: foi vítima de racismo e viu toda a família morrer de tuberculose – ele incluso.

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3. Rio Grande do Sul

Érico Veríssimo – 1905-1975
O Tempo e o Vento (1948)

Difícil ler a saga dos Terra e dos Cambará e não imaginar o Minuano soprando nos pampas: o Rio Grande do Sul foi personagem dos seus escritos. Érico escreveu contos, crônicas e livros infantis, mas foram seus romances históricos, intimistas e diretos que o eternizaram. Olhai os Lírios do Campo é um dos melhores romances brasileiros.

Nordeste

Gigantes da literatura narraram o folclore, a seca e as injustiças sociais da região.

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1. Maranhão

Aluísio Azevedo – 1857-1913
O Mulato (1909)

É comum encontrar nas obras do autor ludovicense críticas à sociedade moralista da época, ao preconceito racial e à exploração das classes mais pobres. Abolicionista e um dos expoentes do naturalismo no País, também foi diplomata e caricaturista – costumava desenhar seus personagens antes de escrevê-los.

2. Piauí

Assis Brasil – 1932-
O Salto do Cavalo Cobridor e Pacamão (1968)

Assis Brasil talvez seja um dos mais profícuos escritores brasileiros. Sua tetralogia piauiense se passa em Parnaíba, sua cidade natal. Ele também foi crítico literário em veículos como Jornal do Brasil, revista O Cruzeiro e O Globo.

3. Bahia

Jorge Amado – 1912-2001
Capitães de Areia (1958)

Ler Jorge Amado é ouvir a Bahia. Ele escreveu sobre o ciclo do cacau em Gabriela (1958), o candomblé em Jubiabá (1935), a boemia soteropolitana em Dona Flor (1966) e abordou os problemas sociais do Estado em Capitães de Areia (1958). Comunista, Jorge foi preso na Ditadura Vargas e milhares de livros seus foram queimados.

4. Ceará

Rachel de Queiroz – 1910-2003
O Quinze (1930)

Aos 20 anos, publicou seu trabalho mais importante: O Quinze, em que retrata a seca de 1915 e a realidade dos retirantes cearenses. Romancista, tradutora, jornalista e cronista (escreveu mais de 2 mil), foi a primeira mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras, em 1977.

5. Rio Grande do Norte

Madalena Antunes – 1880-1959
Oiteiro – Memórias de uma Sinhá-moça (1958)

Mulher e longe dos grandes centros culturais, seu único livro foi publicado às vésperas de completar 80 anos: um registro histórico-comportamental sobre o início da República no interior do Nordeste e a vida em uma fazenda de cana-de-açúcar.

6. Paraíba

Ariano Suassuna – 1927-2014
O Auto da Compadecida (1955)

Se existe alguém que conseguiu escrever uma ode ao folclore nordestino, esse alguém foi Suassuna. Uniu a cultura popular regional a elementos eruditos. Nascido em João Pessoa, ele tinha uma relação especial com Pernambuco, mas sua obra reflete todo o Nordeste: a começar por seu Estado natal.

7. Pernambuco

João Cabral de Melo Neto – 1920-1999
Morte e Vida Severina (1968)

O diplomata pernambucano escancarou ao País a crueza da vida no sertão. Influenciado pela literatura de cordel, é considerado o grande surrealista nordestino, mas nem por isso pouco rigoroso: seus poemas são objetivos, com versos rimados e descrições concretas de percepções e sentimentos.

8. Alagoas

Graciliano Ramos – 1892-1953
Vidas Secas (1938)

Autor de uma das narrativas mais representativas sobre o sertão, Graciliano é outro grande regionalista. Viveu muito tempo no interior de Alagoas, e descreveu a região sem floreios, com uma boa dose de pessimismo. Foi preso pela ditadura – período registrado em Memórias do Cárcere.

9. Sergipe

Amando Fontes – 1899-1967
Os Corumbas (1933)

Amando Fontes mudou-se ainda criança para Aracaju, cidade que o inspirou a escrever romances sociais. Os Corumbas retrata a história uma família de retirantes que se muda para a capital sergipana e a exploração dos trabalhadores na industrialização da cidade entre 1920 e 1930.

Centro-oeste

A natureza, o povo da roça, as sutilezas do cotidiano e os excluídos de Brasília viram poesia no coração do País.

1. Mato Grosso

Manoel de Barros – 1916-2014
Livro sobre Nada (1996)

Se o Pantanal fosse um poema, teria sido escrito por Manoel de Barros. O cuiabano que viveu muito tempo em Campo Grande é o poeta brasileiro das sutilezas. Ele criou um universo próprio de sinestesias e neologismos em que a linguagem e a natureza, sua principal inspiração, entram em sintonia.

2. Goiás

Cora Coralina – 1889-1985
Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965)

Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas começou a escrever seus versos aos 14 anos. Porém, a poeta que retratou o cotidiano do interior de Goiás publicou o primeiro livro aos 75 anos. Cora, que também era doceira, estudou só até a terceira série.

3. Mato Grosso do Sul

Hélio Serejo – 1912-2007
Abusões de Mato Grosso e de Outras Terras (1976)

Escritor, jornalista e folclorista, Hélio Serejo trabalhou com seu pai na exploração da erva-mate, na fronteira com o Paraguai, e anotou em 64 caderninhos suas vivências e o vocabulário técnico aprendido no campo. Mais tarde, esse período inspirou suas obras sobre a exploração ervateira na região.

4. Distrito Federal

Renato Russo – 1960-1996
Faroeste Caboclo (1979)

Se Renato Russo se inspirou em Hurricane, de Bob Dylan, para compor Faroeste Caboclo, nós aproveitamos o último Nobel para citar um músico como representante literário do Distrito Federal. Com a saga de João de Santo Cristo, o compositor mostra a pobreza e a violência das cidades satélites de Brasília.

Norte

A Amazônia, a exploração e as complexidades do homem como inspiração.

1. Roraima

José Miranda de Aquino – 1963-
Amazônia e Animais Ameaçados de Extinção (2002)

Zezé Maku, nome artístico do professor e escritor José Miranda de Aquino, é uma referência ao ritmo makulelê e à lenda Makunaima. Dedicada à literatura infantil, sua obra transita entre a pesquisa histórica e o cordel, trazendo enredos sobre tradições indígenas e preservação da Amazônia.

2. Amazonas

Milton Hatoum – 1952-
Relato de um Certo Oriente (1989)

O descendente de imigrantes libaneses é romancista, tradutor e professor. Um dos maiores escritores vivos do País, Milton tece seus enredos sobre Manaus, sua cidade natal, a Floresta Amazônica e as complexidades de conflitos familiares – sempre com nuances políticas.

3. Acre

Márcio Souza – 1946-
Galvez, Imperador do Acre (1976)

A Floresta Amazônica e a exploração da região Norte são temas frequentes na carreira de Márcio. Importante também para Rondônia, ele ficou famoso com Galvez, Imperador do Acre, sobre a conquista do território acreano pelo Brasil, e com o romance Mad Maria, que relata a construção da ferrovia Madeira-Mamoré.

4. Rondônia

Vespasiano Ramos – 1884-1916
Coisa Alguma (1916)

O maranhense Joaquim Vespasiano Ramos foi o precursor das letras em Porto Velho, quando a cidade tinha apenas dois anos. De origem humilde, publicou poemas sensíveis em jornais da época e morreu jovem, pouco após lançar Coisa Alguma. Grande nome para Rondônia, também pertence à Academia de Letras do Maranhão.

5. Amapá

Manoel Bispo Corrêa – 1945-
Cristais das Horas (1978)

Muito se vê de Macapá na obra de Manoel. Nascido em Belém, mudou-se com a família para a capital amapaense ainda criança. Além de escrever contos e poesias, Manoel é professor, compositor e artista plástico – formando na Escola de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

6. Pará

Olga Savary – 1933-2020
Sumidouro (1977)

Paraense radicada no Rio, Olga foi a poeta do amor e das águas. Publicou poemas em jornais de vários estados, assinando muitos como Olenka (diminutivo russo de seu nome e como Drummond, seu amigo, a chamava). Foi a primeira brasileira a lançar um livro de poemas eróticos – Magma (1982), escrito na casa de Hilda Hilst.

7. Tocantins
José Consesso – 1936-2020
Meu Primeiro Picolé (2004)

Mineiro radicado em Araguaína, José Concesso era filósofo, tradutor, teólogo, professor de direito e latim. O título de seu livro mais importante faz referência à iguaria que não existia em sua cidade natal. Sua seleção de contos foi selecionada para compor todas as bibliotecas do Tocantins.

O patrono do Brasil

Machado de Assis (1839-1908)
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)

Defini-lo como escritor carioca seria desonesto. Sua obra transcende os regionalismos e é o que existe de mais genial e inovador na literatura nacional. Então aqui Machado representa o País todo. Fundamental para a transição do romantismo para o realismo, Machado foi um autor completo e versátil: escreveu romances, crônicas, peças e poemas. O “Bruxo do Cosme Velho” explorou as hipocrisias e vaidades de seus personagens em narrativas concisas,  repletas de ironia – sem perder a profundidade. Machado superou a origem humilde, o preconceito racial, a epilepsia e nos deixou o estilo machadiano como legado.

Notas de rodapé

  • 1922 foi o marco inicial dos modernistas – maioria neste mapa. Os artistas narram problemas sociais, regionalismos e cotidianos de cantos intocados do País. Escreveram, finalmente, narrativas nacionais de um jeito brasileiro.
  • O cortiço que inspirou Aluísio Azevedo a escrever sua obra chamava-se Cabeça de Porco: a moradia carioca chegou a abrigar 4 mil pessoas.
  • Clarice Lispector e Érico Veríssimo ficaram amigos nos EUA. Tanto que o gaúcho e sua esposa, Mafalda, são padrinhos dos filhos de Clarice.
  • Jorge Amado é o 2º escritor do País com mais livros vendidos e traduzidos, atrás apenas de Paulo Coelho. O Alquimista (1988) é a única obra brasileira entre os 50 livros mais traduzidos do mundo, adaptada para 70 idiomas.
  • Em 1964, desiludida com o comunismo, Rachel de Queiroz apoiou o golpe militar e integrou a Arena.
  • Graciliano Ramos foi prefeito de Palmeira dos Índios-AL: os relatórios de sua gestão, obviamente, chamam atenção pela qualidade literária.
  • A amizade entre Mário e Oswald de Andrade (não, eles não eram parentes) acabou quando Oswald publicou comentários ácidos sobre a homossexualidade velada de Mário.
  • 1970 foi a década em que Nicolas Behr começou a escrever sobre Brasília. É autor de Braxília Revisitada (2004) e outros 25 livros. Desde então, a capital é a obsessão poética do cuiabano.
  • Alguns dizem que o filho de José de Alencar foi fruto da traição da esposa com Machado de Assis. O boato nunca foi confirmado, mas pode ter inspirado Dom Casmurro.
  • Na ditadura, Incidente em Antares, de Veríssimo, avisava: “Em um país totalitário, este livro seria proibido”. Mesmo assim, a obra não foi censurada.
  • O maior cordelista do Brasil é Leandro Gomes de Barros, de Pombal, no interior da Paraíba. Uma de suas 300 histórias inspirou O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
  • Clarice Lispector incendiou a própria casa ao pegar no sono com um cigarro aceso, já participou de um congresso de bruxaria e foi enfermeira da Força Expedicionária Brasileira na Itália durante a Segunda Guerra.
  • 15 mil foi o número de crônicas que Rubem Braga escreveu ao longo da vida.
  • Dom Casmurro, O Cortiço, A Hora da Estrela, Capitães de Areia, Macunaíma, Vidas Secas e Grande Sertão Veredas estão entre os livros mais cobrados nos vestibulares brasileiros.
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