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Por que Argentière foi tão importante para a ciência brasileira?

Previu as explosões atômicas e os satélites artificiais, pesquisava a utilização de energias alternativas quando isso não passava de uma utopia.

Por Pablo Villarrubia Mauso
Atualizado em 5 nov 2016, 10h27 - Publicado em 30 nov 2002, 22h00

Ele sonhava com viagens espaciais numa época em que elas eram consideradas loucura. Previu as explosões atômicas e os satélites artificiais, pesquisava a utilização de energias alternativas quando isso não passava de uma utopia. Não estamos falando de Júlio Verne, mas de um cientista brasileiro: Rômulo Argentière, um dos maiores divulgadores científicos que o país já teve. Genial e versátil, escreveu livros e artigos que trataram de assuntos tão diversos quanto a química, a teoria da relatividade e a astronomia. Morreu pobre, doente e praticamente esquecido no sertão nordestino.

As amizades que Argentière acumulou hoje são mitos da ciência. Foi aluno de Madame Curie (física polonesa ganhadora do Prêmio Nobel por duas vezes), conheceu um Werner von Braun (cientista alemão pioneiro das pesquisas com foguetes que esteve à frente do programa espacial americano, nas décadas de 50 e 60) ainda muito jovem, trocou correspondência com Einstein e com numerosos físicos da Academia Soviética de Ciências. Sua facilidade com os idiomas – falava oito línguas fluentemente – abriu-lhe as portas do saber.

Argentière nasceu em Amparo, em São Paulo, em 1916. O adolescente do interior ansiava por vôos maiores e conseguiu, em 1932, uma bolsa de estudos para a Escola de Física e Química, em Paris, dirigida por Madame Curie. Voltou com um diploma de engenheiro de minas e um conhecimento extraordinário sobre pesquisa nuclear, em que foi pioneiro no Brasil.

Esse conhecimento causou-lhe problemas com as autoridades. Em 1943, escreveu um artigo jornalístico que antevia o uso da energia nuclear como elemento de destruição. Chegou até a explicar os princípios da bomba atômica, que, naquela época, era um alto segredo de Estado dos países aliados – a destruição de Hiroshima só ocorreria dois anos mais tarde.

“Fui levado a interrogatório pelas Forças Armadas, mas me safei com a lógica: havia lido em algumas revistas especializadas da Inglaterra, às quais tinha acesso, que os cientistas norte-americanos estavam tentando separar o urânio 235 do urânio 238. Eu, como especialista, deduzi rapidamente que isso poderia desencadear uma grande liberação de energia que, possivelmente, seria usada com fins bélicos”, escreveu Rômulo, nesse trecho de uma das suas últimas cartas.

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Mas a perícia em energia nuclear rendeu-lhe também algum reconhecimento. No final de década de 1940, Argentière foi consultor do Exército Brasileiro para questões que envolvessem a manipulação de minérios radioativos. Em 1950, redigiu o anteprojeto que criaria, seis anos depois, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

A partir desse ano e até 1960, coordenou diversas atividades de campo da comissão. Apesar de trabalhar para o governo, Argentière era um crítico do programa nuclear brasileiro, em especial das usinas de Angra dos Reis.

Uma das suas paixões era o Nordeste brasileiro, onde esteve pela primeira vez em 1943, enviado pelo governo de Getúlio Vargas para acompanhar especialistas norte-americanos em busca de minérios para a indústria bélica daquele país. Desde então, passou a viver parte do ano no Nordeste como consultor e pesquisador de empresas de mineração. Foi em Carnaúba dos Dantas, Rio Grande do Norte, que Argentière morreu, em 1995, debilitado por um derrame cerebral e três acidentes automobilísiticos.

Ele é ainda hoje recordista de vendas na área de divulgação científica: mais de 30 títulos e 3 milhões de exemplares vendidos. Um de seus livros levou muitos brasileiros ao espaço. Trata-se de Viagem à Lua, de 1947, no qual o cientista apresentava modelos de naves espaciais elaboradas por seus colegas russos e alemães. Essa obra, profética em alguns momentos, mostrou teorias que se cumpriram na prática.

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