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Skull and Bones: segredos da tumba

A Skull and Bones - uma irmandade de alunos da Universidade Yale - é a sociedade secreta mais poderosa dos EUA. Já saíram lá de dentro 3 presidentes, além desenadores, congressistas e dirigentes da CIA

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h27 - Publicado em 31 out 2008, 22h00

Texto Mariana Sgarioni e Mauricio Manuel

O clima é sinistro. O ambiente, escuro. E um estudante completamente nu está deitado num caixão. Vai começar mais um ritual de iniciação da Skull and Bones (“Crânio e Ossos”), uma sociedade secreta formada por estudantes da Universidade Yale, nos EUA. Em volta do rapaz, alguns colegas vão ouvi-lo revelar seus desejos sexuais mais íntimos. Os que testemunharão as confissões são veteranos que já passaram pela mesma cerimônia. A idéia é que cada um conte seu “pecado” mais comprometedor. Quem compartilha o segredo vira cúmplice, o que só estreita os laços entre os integrantes do grupo. De quebra, fica todo mundo nivelado – já que ninguém ali teria moral para falar do outro.

Talvez você esteja imaginando que a Skull and Bones é coisa de um bando de nerds, cheios de espinhas na cara e idéias pervertidas na mente. Pode até ser. Mas a sociedade dos estudantes de Yale não é qualquer clubinho, não. Ela existe desde o século 19. Seus membros são todos brancos, protestantes e vindos de famílias extraordinariamente ricas. Lá de dentro já saíram ministros, chefes de Estado e dirigentes da CIA (a agência de inteligência americana). Sem contar 3 presidentes dos EUA: William Taft, George Bush pai e George Bush filho.

Mesmo depois de deixarem a universidade, os integrantes da organização continuam se encontrando anualmente, numa ilha comprada por eles no estado de Nova York. Já não bastasse um ritual com gente pelada, caixão de defunto e confissões sexuais, essas reuniões também são cercadas de mistério. Ninguém sabe o que é discutido. E sobram teorias de conspiração. Uma delas diz que a Skull and Bones tem ligações com outras sociedades secretas de gente bacana, como o clube Bilderberg (suspeito de querer controlar o mundo) e os Illuminati (supostos defensores de um governo planetário desde a Idade Média). Para aqueles que desconfiam até da própria sombra, isso tudo não deixa margem a qualquer dúvida: trata-se de uma associação entre os homens mais poderosos de que se tem notícia, que pretendem “lotear” o planeta entre eles.

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

“A Skull and Bones é a sociedade secreta mais poderosa dos EUA”, afirma a jornalista americana Alexandra Robbins, autora de Secrets of the Tombs (“Segredos da Tumba”, sem tradução para o português). Para ela, o melhor exemplo desse poder foi a eleição presidencial de 2004, disputada pelo republicano George W. Bush (o filho) e pelo senador democrata John Kerry – ambos pertencentes ao grupo. “Existem apenas 800 integrantes da Skull and Bones vivos atualmente. Impressiona notar que justamente dois deles cheguem à disputa pela Casa Branca e que tantos outros membros do grupo ocupem cargos importantes no governo”, declarou Alexandra no Democracy Now! (“Democracia Agora!”), um programa de entrevistas americano.

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Segundo a jornalista, a estratégia da organização é exatamente esta: ocupar posições de destaque na administração do país e conduzir outros membros a cargos igualmente relevantes. “Foi o que Bush fez desde que se tornou presidente. Seu assistente direto é da Skull and Bones. Frederick Smith, que só não foi secretário de Defesa por problemas de saúde, também. O conselho do Departamento de Segurança Interna, o chefe da Comissão de Valores Mobiliários, os números 2 e 3 no Departamento de Justiça, o representante do secretário de Segurança na Europa… A lista é enorme.” Isso faz da Skull and Bones, de acordo com Alexandra, a rede de relacionamento mais influente dos EUA – e provavelmente a mais elitista também. Apenas 15 alunos de Yale são recrutados pela Skull and Bones a cada ano e treinados pelos mesmos veteranos que participaram do ritual de iniciação.

Depois da cerimônia de iniciação, os novatos passam um ano prestando serviços à organização. Foi assim com Bush pai em 1948 e Bush filho em 1968. Cada iniciante recebe o apelido de um veterano que já está de saída. Long Devil (“Grande Demônio”) normalmente vira o nome do mais alto da turma. Boaz (uma espécie de diminutivo para Belzebu) fica com o capitão do time de futebol.

Mas tem também o pessoal que leva apelidos bem mais leves, em geral vindos da mitologia grega ou da literatura. O banqueiro Lewis Lapham admitiu certa vez ter transferido sua alcunha, “Sancho Panza”, a Tex McCrary, o jornalista que ajudou a criar o talk show – hoje um dos gêneros jornalísticos mais populares na TV mundial. Bush pai foi “Magog” nos seus tempos de Skull and Bones – nome reservado ao integrante de maior experiência sexual! E Bush filho era o “Temporário” – já que ninguém encontrou um apelido definitivo que lhe caísse bem.

SEGREDO ABLUTO

A sociedade secreta foi criada em 1832 por William Huntington Russell, um jovem de apenas 24 anos que vinha de uma temporada de estudos na Alemanha. Filho de uma tradicional família britânica, o que ele realmente queria era entrar para outra sociedade de Yale, a Phi Beta Kappa (uma das mais antigas e prestigiadas irmandades dos EUA). Mas Russell não foi aceito no grupo. Furioso, uniu-se a outro universitário, Alphonso Taft, para fundar a Skull and Bones.

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Inicialmente, a organização foi batizada Clube de Eulogia. O nome só passou a Skull and Bones quando sua “logomarca” foi criada, pouco tempo depois da fundação. Trata-se de uma caveira com dois ossos cruzados sobre o número 322. Ninguém sabe ao certo o que esses algarismos querem dizer, mas é lógico que não faltam especulações. Segundo Alexandra Robbins, um grande orador da Grécia antiga – Demóstenes – morreu no ano de 322 a.C. A deusa grega da eloqüência, Eulogia, teria ficado tão triste com a morte de seu pupilo que resolveu deixar este mundo. E só voltou em 1832, quando encontrou novo refúgio na Terra: a sociedade Skull and Bones.

Como os fundadores do grupo e seus primeiros integrantes tinham muito dinheiro, trataram logo de construir um edifício para as reuniões, um prédio com cara de cripta que está lá até hoje. Ele é carinhosamente chamado de “tumba” pelos freqüentadores. E continua testemunhando misteriosos encontros. Todos juraram segredo sobre o que se passa lá dentro ou quão poderosa a sociedade realmente é. De acordo com Alexandra, os integrantes da Skull and Bones são tão zelosos desse juramento que levantam e vão embora de qualquer lugar se o nome da organização for pronunciado.

Enquanto ainda são estudantes, os bonesmen – “homens dos ossos”, como são chamados os integrantes da sociedade secreta – se encontram todas as quintas-feiras e domingos na “tumba”. Sobre o conteúdo das conversas, tudo o que se diz por aí não passa de especulação.

ESQUISITICES

Os especialistas de imaginação mais fértil costumam afirmar que os integrantes da Skull and Bones, quando reunidos, falam sobre si mesmos, numa espécie de terapia coletiva. Ou que jantam iguarias esquisitíssimas, usando porcelanas e faqueiros que teriam pertencido a nazistas histórios, entre eles o próprio Adolf Hitler. Seria tradição entre os bonesmen se referir a todos que não pertencem ao grupo como “bárbaros”. Na sede da sociedade, todos os relógios estariam sempre 5 minutos adiantados, para dar a sensação de que os presentes estão à frente do resto da humanidade. Dizem ainda que há muitos cadáveres escondidos na “tumba” e uma sala reservada a cultos de adoração satânica. Mas nada disso jamais foi comprovado.

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Ritos satânicos e caveiras à parte, uma coisa é certa: em pouco mais de 200 anos, a Skull and Bones produziu muitas das personalidades mais influentes nos cenários político e econômico dos EUA. Além dos 3 presidentes, também saíram da “tumba” dezenas de senadores e congressistas, sem contar dirigentes da CIA, juízes, banqueiros e empresários. Eles estão por toda parte, muitas vezes posando de inimigos perante a opinião pública. É o caso de Austan Goolsbee, principal conselheiro econômico de Barack Obama durante sua campanha à Presidência. Obama passou o tempo inteiro criticando a administração Bush. Mas um de seus homens fortes integra a mesma sociedade secreta à qual pertence o polêmico presidente.

Gente que saiu da “tumba”

De William Taft a Bush filho, 8 poderosos integrantes da Skull and Bones

1878 – WILLIAM H. TAFT

Secretário da Guerra (1904-1908) e 27º presidente dos EUA (1909-1913). Filho de Alphonso Taft, fundador do grupo.

1913 – AVERELL HARRIMAN

Embaixador dos EUA na URSS (1943-1946), secretário de Comércio (1946-1948) e governador de Nova York (1955-1958).

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1920 – HENRY LUCE

Fundador da corporação Time-Life, um dos mais importantes conglomerados de comunicação dos EUA – responsável, entre outras, pela revista Time.

1948 – GEORGE H.W. BUSH

Fazendeiro e empresário do petróleo no Texas. Foi o 11º diretor da CIA (1976-1977) e o 41º presidente dos EUA (1989-1993). É pai do presidente George W. Bush.

1966 – JOHN KERRY

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Senador dos EUA (1985 até hoje), vice-governador de Massachusetts (1983-1985) e candidato do Partido Democrata à Presidência da República (2004).

1968 – GEORGE W. BUSH

Governador do Texas (1995-2000) e 43º presidente dos EUA (2001-2008) – um dos mais impopulares da história do país.

Para saber mais

• Secrets of the Tombs

Alexandra Robbins, Little Brown-USA, 2003 (em inglês).

• America’s Secret Establishment: An Introduction to the Order of Skull & Bones

Antony C. Sutton, Trine Day, 2003 (em inglês).

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