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Teóricos do século 18 criaram “horóscopo” para a personalidade das músicas

Ou melhor, das tonalidades em que as músicas eram escritas. Entenda como funcionava essa maluquice esotérica, e descubra o signo de algumas canções famosas.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 fev 2019, 19h56 - Publicado em 8 fev 2019, 19h46

Você já deve ter visto um cantor pedir aos instrumentistas que toquem uma canção em Sol menor, ou Do maior, ou Mi menor – ou qualquer outra combinação que você possa imaginar. Ele está pedindo uma mudança de tonalidade  algo que a gente vai explicar nos próximos parágrafos.

Esse pedido geralmente é feito para que os instrumentistas se adaptem ao alcance da voz do cantor (ou para tornar a execução mais confortável em um determinado instrumento que beneficie mais uma tonalidade do que outra).

Uma pessoa baixinha evita instalar um armário muito alto na cozinha, pois sabe que não será capaz de alcançá-lo. Da mesma forma, alguém de voz grave, quando resolve cantar algo do repertório da Katy Perry, vai precisar que a banda toque uma versão mais grave da música para dar conta do recado.

Cantores profissionais sabem exatamente qual é a nota mais grave e a mais aguda que são capazes de alcançar usando cada técnica. E, assim, podem pedir uma mudança de tonalidade condizente com as limitações da sua voz.

Graças ao tipo de afinação adotada pelos instrumentos musicais ocidentais contemporâneos – em que a distância entre duas notas quaisquer é fixa, por assim dizer , uma mudança de tonalidade é algo praticamente imperceptível para um ouvido leigo. Ela só serve mesmo para criar versões mais agudas ou mais graves da mesma música.

Uma tonalidade, diga-se de passagem, não é algo difícil de entender. Imagine que um compositor escolheu um acorde para começar sua música. Pode ser o de Do maior, que em um Cifraclub da vida, vai aparecer como C. Esse C vai ser o guia da música toda: agora, todos os outros acordes vão soar de uma maneira especial em relação ao de Do maior.

Nessa situação, o acorde de Sol maior (G), por exemplo, passa a ter a função de criar um som tenso (a chamada função dominante). Depois de tocar um G, portanto, se você quiser “resolver” a tensão, faz sentido tocar, de novo, um C – o Do maior vai trazer uma sensação de alívio, de que tudo voltou “aos conformes” na música.

É isso que significa dizer que estamos tocando na tonalidade de Do maior. Toda tonalidade tem uma tônica, que é sua nota de referência, por assim dizer, e os acordes de outras funções, que giram em torna da tônica e causam sensações diferentes.

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Se o cantor sente que não está confortável cantar a música começando no acorde de Do maior, por exemplo, ele pode tentar começar a música no acorde de Ré maior (o D), que é mais agudo. Aí, ele precisa mexer em todos os outros acordes da tonalidade de Do maior para tocar seus equivalentes na tonalidade de Ré maior. Para dar a mesma sensação de tensão que o Sol (G) trazia no nosso exemplo anterior, por exemplo, o instrumentista poderia tocar um Lá Maior (A). A lógica, de forma bem simplificada, é que C (do) está para D (ré) assim como G (sol) está para A (lá).

No começo, dá um trabalhinho fazer a transposição mental dos acordes de uma tonalidade para os acordes de outra tonalidade. Músicos profissionais, porém, se acostumam.

E onde entra o horóscopo? Bem, até o século 18, a afinação era feita de maneira diferente. E aí certas tonalidades eram mais beneficiadas do que outras. Os acordes em Do maior, por exemplo, saiam super cristalinos. Já os acordes em Sol sustenido maior soavam extremamente dissonantes e aflitivos. Isso (entre muitos outros fatores culturais, essa é uma simplificação) criou uma longa tradição de músicos que discutiam a personalidade das tonalidades. Quase como se fosse um horóscopo de sons.

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Em 1806, na obra Ideen zu einer Aesthetik der Tonkunst (em português, algo como “Ideias acerca da estética da música”), o alemão Christian Friedrich Daniel Schubert dá a sua versão desse “horóscopo”.

Nem precisa dizer que ele não tem nenhum embasamento científico: é puramente subjetivo. Além disso, já que a afinação adotada hoje pelos instrumentos musicais ocidentais gera intervalos entre as notas perfeitamente equivalentes do ponto de vista matemático, não faz o menor sentido falar em “personalidades” diferentes para cada tonalidade. Como já dissemos acima, fica tudo idêntico.

Mas, já que é para brincar de horóscopo, vamos voltar ao que os músicos teóricos dos anos 1700 e bolinha tentavam caracterizar como “características” para cada grupo de notas em tonalidades diferentes.

Para ajudar a sua imaginação, adicionamos um link para uma música conhecida em cada tonalidade – e selecionamos apenas tonalidades comuns na música pop.

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Divirta-se com esse pouquinho de teoria musical old school: exatamente como acontece com o horóscopo de pessoas, é bem possível que você comece a perceber características especiais e distintas onde, de fato, não há nenhuma.

Como se classificava a “personalidade” musical no século 18

Do maior: Completamente puro. Inocência, simplicidade, a voz de uma criança.
Exemplo: “Let it Be”, Beatles (link)

Do menor: Declaração de amor e, ao mesmo tempo, lamento de um amor infeliz. Todo o sentimento de definhar, ansiar e suspirar da alma doente de amor repousa nesta tonalidade.
Exemplo: “Rolling in the Deep”, Adele (link).

Ré maior: A tonalidade do triunfo, dos aleluias, dos gritos de guerra e da vitória. Assim, as sinfonias convidativas, as marchas, as músicas festivas e refrões de louvar os céus estão nesta tonalidade.
Exemplo: “Royals”, Lorde (link).

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Ré menor: Feminilidade melancólica, o tédio.
Exemplo: “Another Brick in the Wall Pt. 2”, Pink Floyd (link).

Mi bemol maior: A tonalidade do amor, da devoção, da conversa íntima com Deus.
Exemplo: “Your Song”, Elton John (link).

Mi maior: Gritos ruidosos de alegria, prazer e riso, o gozo completo reside em Mi maior.
Exemplo: “Evidências”, Chitãozinho e Xororó (essa não precisa de link, a gente sabe). 

Fá maior: Complacência e calma.
Exemplo: “Hey, Jude”, Beatles (link).

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Sol maior: Tudo de rústico, idílico e lírico, cada paixão calma e satisfeita, cada gratidão carinhosa por amizade verdadeira e amor fiel – em resumo, cada emoção gentil e pacífica do coração é corretamente expressada por esta tonalidade.
Exemplo: “Gravity”, John Mayer (link). 

Lá maior: Essa tonalidade inclui declarações de amor inocente, satisfação com o seu estado atual, esperança de ver alguém amado de novo ao partir.
Exemplo: “Alive”, Pearl Jam (link).

Lá menor: Feminilidade penitente e caráter terno.
Exemplo: “Starirway to Heaven”, Led Zeppelin (link).

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